28 de setembro de 2010

Eu queria começar te dizendo que eu escrevo por eu quero te mostrar o que eu sinto. Queria te dizer que meu quarto é pequeno mesmo, que tem muitas poucas coisas soltas e aleatórias e que meus livros estão empilhados porque não tem muito espaço sobrando por aqui. E apesar desse aperto todo, eu mesmo me repartiria em mil pedaços pra poder te acolher aqui dentro. Eu nunca vou chegar a ser aquilo que você espera que eu seja, porque eu nunca vou chegar perto de ser você, e eu quero me desculpar por isso. E esse pedido formal de perdão é porque eu sou assim, imperfeito, interrompido, segmentado, e talvez eu nunca tenha conseguido superar isso de forma total e plena e irrestrita. Quero te pedir desculpas também por eu não poder ser tudo aquilo que você merece e também por não ter tudo que você precisa, mas eu não posso alterar algumas coisas que não dependem do exercício das minhas mãos e da minha força. Eu queria que você soubesse que o que eu sinto por ti é algo da ordem daquilo que não se mensura e não se qualifica e que tenho sido repetitivo porque é inconcebível elaborar enunciados que deem conta da tua imensidão e da vastidão da tua presença em mim. Quero consignar ainda que você tem liberdade ampla, segura e imediata pra abordar qualquer coisa comigo, mesmo que isso signifique alguma coisa que você tenha medo de pensar. Eu quero colocar todas as palavras encaixadas, e deixar nossa história sempre completa escrita e clara. E eu queria que você soubesse que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era. Meu desejo mais profunda é tua total e completa felicidade, e eu estou me colocando a disposição pra que possas sempre se sentir assim, completo. E se isso significar que eu, quem sabe, tenha que deixar de ser parte daquela dupla celeste que reparte uma coroa cintilantemente estelar e única, eu não me importo, porque não há limites pra te amar. E se essa for a taxa da felicidade, não me recusarei a honrá-la, porque quem sabe eu seja daquele tipo de plebeu que nunca tenha que vir a ser rei.

12 de setembro de 2010


É como se você tivesse desnudado todas as minhas fantasias, devassado todos os meus sonhos, invadido todos os meus asilos, violado todos os meus segredos. Meu consentimento é tão teu que já não o elaboro como propriedade individual. Eu sou repartido de uma forma dupla e compartilhada que me amedronta pela integridade, amplitude e forma implacável com que é feita. O que eu nutro por você é tão absurdamente claro e lúcido que o tempo só tem determinado uma acuidade visual ainda mais perfeita e precisa, não existem mais borrões, névoas ou incertezas. Minha definitividade nunca foi tão confortante e harmoniosa. E me descobrir par, dessa forma pura e inocente, me traz uma leveza e uma felicidade que, até então acostumado com o inverso, não sei lidar bem. Sinto nas veias e na pele e na alma o vento gelado e singular de uma praia vazia e ensolarada de inverno que só a gente pode visitar. Tua presença me concede vontades inéditas, valentismos juvenis, coragens que eu não sabia deter, dotado da capacidade de sentir, você me leva a experimentar e viver o mundo de uma forma tão integral e intensa que já não há mais margem pro medo do desconhecido, eu me sinto possuido pelo desejo de viver sem freios, espelhos e ameaças. O receio que persiste é o de eu, talvez, ainda me sentir ínfimo e inglório frente a imensidão da tua presença e do teu ser. Desaprendi a escrever porque não sei explicar minha completa e consciente e total entrega absoluta a você. E prefiro assim, antes o amor que as letras.