24 de setembro de 2008

11/09/2008

Título:
Tempestade
Legenda:
"Em certas ocasiões,
o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia,
cujo curso sempre se altera.
Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção.
Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue.
Você muda mais uma vez o seu rumo.
A tempestade faz o mesmo e o acompanha.
As mudanças se repetem muitas e muitas vezes,
como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer.
Isso acontece porque a tempestade não é algo independente,
vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo.
Algo que existe no seu íntimo.
Portanto, o único recurso que lhe resta é se conformar
e corajosamente pôr um pé dentro dela,
tapar os olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia
e atravessá-la passo a passo até emergir do outro lado.
É muito provável que lá dentro não haja sol, nem lua,
nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa.
O que há são apenas grãos de areia finos e brancos como
osso moído dançando vertiginosamente no espaço.
Imagine uma tempestade de areia desse jeito.

...

E você vai atravessá-la, claro.
Falo da tempestade.
Dessa tempestade violenta, metafísica e simbólica.
Metafísica e simbólica, mas ao mesmo tempo cortante como mil navalhas,
ela rasga a carne sem piedade.
Muita gente verteu sangue dentro dela,
e você mesmo verterá o seu. Sangue rubro e morno.
E você vai apará-lo com suas próprias mãos em concha.
O seu sangue e também o de outras pessoas.
E, quando a tempestade passar,
na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver.
Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou.
Uma coisa porém é certa: ao emergir do outro lado da tempestade,
você já não será o mesmo de quando nela entrou.
Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia."

(Kafka à beira-mar, Haruki Murakami. pg. 7~8)


Tedesco

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