14 de novembro de 2009



Meu mar vermelho foi você quem abriu. Na verdade nem eu sabia que você estava fazendo aquilo mas você estava, e quando eu olhei em frente tinha um oceano inteiro aberto ao meio a minha espera. Eu não sei bem quais foram as tuas palavras, os teus gestos, tenho dificuldade até pra lembrar da tua face e o que mais me inpressiona é a força da tua magia, o poder do teu ser, que repartiu aquele mar inteiro que eu acabei por atravessar. Teve um momento, e isso eu nunca tive a oportunidade de te dizer, porque no meio daquela travessia imensa você acabou me deixando sozinho sem querer, e quando eu olhava pros lados, intensamente com vontade de te perguntar alguma coisa eu só via água e mais aqueles poucos que caminhavam comigo pelo chão submarino agora descoberto. Eu queria te dizer que hoje eu acho que eu terminei de atravessar o mar vermelho, eu percebi que eu passei por todo aquele corredor, e agora que eu não estou mais cercado pela água interminável posso te afirmar que me intriga ainda o teu poder, infinito, de segurar o oceano. Queria te agradecer por teres feito com que eu tivesse um caminho que atravessar, com ou sem ti eu trilhei por ele, e agora que eu me vejo do outro lado do mar me dá medo. Eu estou alegre por ter sobrevivido mas me dá uma angústia de pensar em errar, ando meio sem coragem de subir as montanhas e correr pelas planíces que eu tanto sonhei, eu tenho medo de receber sim e não pelo meu novo caminho, e reticente, ando optanto por não caminhar, não seguir em frente, não me despir daquela indumentária pesada que eu carreguei por todo o paredão escuro e interminável e úmido que eu consegui findar. Eu só queria não precisar de garantias. Queria deixar de temer o erro. Me despir daqueles calçados apertados que me seguravam firme e ao mesmo tempo me tornavam lento. Se eu posso fazer um pedido, e eis que isso já é um deles, queria saber se tu pode ir me dizendo aos poucos daonde tu tirou aquela força toda pra segurar o mar, eu ando precisando lidar com aquelas ondas e não consigo entender o que fazer com elas. Se tem como eu fazer isso eu queria aprender. E queria também abrir o mar pra alguém, desejando que ele não fosse tão vermelho como o meu, nem tão solitário, mas queria muito fazer nascer em alguém aquilo que a tua força e a tua magia fizeram em mim.Eu ando acreditando tanto no poder do amor, que me dá uma saudade de sentir, e eu acho que com toda essa ternura eu estou pronto pra abrir um oceano inteiro pra alguém passar também, só preciso vencer aquelas ondas que me matam aos poucos e que quase te mataram também. Mas você conseguiu extinguir elas e se você pôde eu também posso. Se tem algum segredo ou alguma palavra mágica ou alguma dança ou algum passo eu queria te dizer que eu sou artista e que você não precisa se intimidar em tentar me ensinar porque eu acho que posso aprender bem.

9 de novembro de 2009



Hoje eu escrevo porque escrever é a única coisa que me resta. De tudo o que eu tenho me restaram as palavras, perdidas, descordenadas, não sabidas. Você chegou na minha vida por encomenda, numa espécie de indicação premeditada, e eu deixei você entrar pela minha fraqueza essencial de me deixar sentir. Uma espécie de sentimento de busca profunda e irrefreada que se sucede e se opera indiscriminadamente dentro de mim. Hoje eu senti a tua falta por perto. Não que estejamos próximos, porém tem uma espécie de reconforto diário que você me proporciona. É como se eu me encontrasse comigo por alguns instantes diante do espelho todo dia, e esse espelho é você. Eu tenho muita vontade de mergulhar nesse espelho, de me deixar refletir, perceber, delinear, me desenhar dentro desse reflexo que você me proporciona. Ao mesmo tempo tenho medo de você. Tenho medo de desfazer esse encanto, de quebrar essa pintura ao meio, de dissolver o espelho em vidro e prata. Eu queria te dizer que você está ocupando um espaço engraçado dentro de mim, e que eu não quero que ele acabe, bem como eu não quero que ele comece a ser desfeito. Eu queria te congelar desse jeito. E eu queria que você soubesse que apesar de não saber quem você é, e de não conhecer a tua voz, que eu quero você por perto me fazendo companhia. Alimentando meu sonho, Minha fantasia. Minha necessidade de encontrar um caminho. Eu acho que você faz parte de um desejo, de uma poesia, de uma inspiração, uma partitura. Você é uma elaboração do meu eu, um reflexo pintado, uma gravura recortada e distante, um esboço daquela propaganda intangível, daquele modelo ideal construído por mim. No fundo eu queria te dizer que cada recorte de ti eu guardei e que de tudo isso eu levo uma pequena certeza escondida: a de que nunca é tarde pra se conquistar e achar uma saída.