9 de novembro de 2009



Hoje eu escrevo porque escrever é a única coisa que me resta. De tudo o que eu tenho me restaram as palavras, perdidas, descordenadas, não sabidas. Você chegou na minha vida por encomenda, numa espécie de indicação premeditada, e eu deixei você entrar pela minha fraqueza essencial de me deixar sentir. Uma espécie de sentimento de busca profunda e irrefreada que se sucede e se opera indiscriminadamente dentro de mim. Hoje eu senti a tua falta por perto. Não que estejamos próximos, porém tem uma espécie de reconforto diário que você me proporciona. É como se eu me encontrasse comigo por alguns instantes diante do espelho todo dia, e esse espelho é você. Eu tenho muita vontade de mergulhar nesse espelho, de me deixar refletir, perceber, delinear, me desenhar dentro desse reflexo que você me proporciona. Ao mesmo tempo tenho medo de você. Tenho medo de desfazer esse encanto, de quebrar essa pintura ao meio, de dissolver o espelho em vidro e prata. Eu queria te dizer que você está ocupando um espaço engraçado dentro de mim, e que eu não quero que ele acabe, bem como eu não quero que ele comece a ser desfeito. Eu queria te congelar desse jeito. E eu queria que você soubesse que apesar de não saber quem você é, e de não conhecer a tua voz, que eu quero você por perto me fazendo companhia. Alimentando meu sonho, Minha fantasia. Minha necessidade de encontrar um caminho. Eu acho que você faz parte de um desejo, de uma poesia, de uma inspiração, uma partitura. Você é uma elaboração do meu eu, um reflexo pintado, uma gravura recortada e distante, um esboço daquela propaganda intangível, daquele modelo ideal construído por mim. No fundo eu queria te dizer que cada recorte de ti eu guardei e que de tudo isso eu levo uma pequena certeza escondida: a de que nunca é tarde pra se conquistar e achar uma saída.

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