28 de outubro de 2009



 Eu cortei minha mão outro dia e você me disse que desejava que ela caísse de vez. Outro dia eu fiquei cego porque eu não conseguia abrir mais meus olhos e você disse que desejava que eu perdesse a visão. Lá em casa tem um canto cheio de verde que eu costumo dizer que é meu refúgio porque eu me sinto protegido por lá, talvez seja porque não tem ninguém pra quem eu dirigir meu amor ou alguém por quem eu possa me encantar. De todos os lugares que já conheci ali é o único onde sempre, inverno ou verão, tem pelo menos uma flor, pequenina, rosácea, me esperando quando eu chego ou parto. Eu queria que a vida fosse uma infinita sucessão de chegadas porque eu não sei lidar com partidas.Eu descobri esses dias outra coisa sobre você. Acho que vou ser fascinado por ti e pelas tuas palavras pra sempre. Você tem alguma coisa de muito intensa no teu jeito de sentir o mundo e de se comunicar com ele. Tua inteligência e complexidade são unânimes. Quando eu fui te pedir desculpas era uma forma de tentar te dizer que eu não escolhi gostar de você. Eu gosto. Simples assim. Teve um dia na praia que eu lembrei de você e pensei que eu não tive tempo de te conhecer de verdade. O tempo petrificou em mim uma memória construída. E isso é tudo que eu tenho. Tem mais alguma coisa que ainda falta e que eu nao consigo reconhecer qual é. Tem uma espécie de desconforto desconcertado. Algum tipo de necessidade não reconhecida e que não arrefece. Uma forma de espera transmutada em não-encontro. Naquele dia a coisa que eu mais desejei era tentar me fazer entender. Hoje disseram que as crianças até os seus últimos estágios de desenvolvimento antes da adolescência tem dificuldade em discernir o que é fantasia e realidade. Acho que eu sou um pouco criança demais. E eu tenho um problema com gostar. Porque eu gosto demais das pessoas. E eu queria que você me desculpasse por ter gostado demais de você e por não ter sabido lidar com isso. Ainda não sei. Porque te gosto e o que fazer com isso.

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