10 de outubro de 2008


"eu é que te agradeço por me devolver o que eu achava que tinha tido e nunca tive"



Antes de qualquer coisa, música


e, para isso, prefere o Ímpar

mais vago e mais solúvel no ar,

sem nada que pese ou que pouse.

E preciso também que não vás nunca

escolher tuas palavras em ambigüidade:

nada mais caro que a canção cinzenta

onde o Indeciso se junta ao Preciso.

São belos olhos atrás dos véus,

é o grande dia trêmulo de meio-dia,

é, através do céu morno de outono,

o azul desordenado das claras estrelas!


Porque nós ainda queremos o Matiz,

nada de Cor, nada a não ser o matiz!

Oh! O matiz único que liga

o sonho ao sonho e a flauta à trompa.

Foge para longe da Piada assassina,

do Espírito cruel e do Riso impuro

que fazem chorar os olhos do Azul

e todo esse alho de baixa cozinha!

Toma a eloqüência e torce-lhe o pescoço!

Tu farás bem, já que começaste,

em tornar a rima um pouco razoável.

Se não a vigiarmos, até onde ela irá?

Oh! Quem dirá os malefícios da Rima?

Que criança surda ou que negro louco

nos forjou esta jóia barata

que soa oca e falsa sob a lima?

Ainda e sempre, música!


Que teu verso seja um bom acontecimento

esparso no vento crispado da manhã

que vai florindo a hortelã e o timo...

E tudo o mais é só literatura.


Verlaine


Agora

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