22 de outubro de 2008


Eu quero férias, no entanto umas férias diferentes das que sempre tive. Eu quero um tempo que seja novo, e que não represente tudo que sempre foi. Eu quero um ser que não seja dever. Eu quero viver o inédito, eu quero voltar pra reescrever, eu quero a música que me faz gritar, a lembrança que me traz dor, eu quero a lágrima por escorrer, eu quero o machucado que ensina, eu quero reconstrução, e eu estou escrevendo em primeira pessoa.
Eu quero mandar os e-mails que começo e não termino, e quero terminar de escrevê-los também, eu quero a companhia que procuro e preciso - que talvez seja a de mim mesmo-, eu quero parar de idealizar em demasia, quero parar de me emplogar sem motivo, eu quero para de sorrir porque às vezes consigo gostar de mim, eu quero parar de implodir dia sim dia não, quero parar de ter vontade de falar, parar de ter vontade de pensar, parar de ter vontade de compartilhar, de sentir, de repartir, de oferecer, de entregar, de sentir, de viver o eu.
E eu não quero mais deixar de ser, eu quero ser com paz, tranquilidade, eu quero acertar nas frases, nos olhares, eu quero acertar no porte, corresponder a espera, ser útil, agradável, eu quero não o que parece, eu quero eu e um você, eu quero as amizades que conquistei, e quero saber mantê-las, eu quero preencher o que precisarem, eu quero parar a gangorra que me comanda, que me habita, eu quero fim do duelo, quero sossego do sentimento, quero uma razão que não seja angústia como sempre era, a velha fórmula de culpar e sufocar pode não deixar acontecer, porém é como suicídio, é envenenar, é auto-flagelação. Não, eu não sei o que quero, talvez só o que eu saiba é que eu não quero mais confusão, eu quero um tempo de mim, dos meus conflitos, dos meus desequilíbrios, das minhas características, do que me faz eu, dos meus sonhos, dos meus desejos, das minhas vontades, das minhas idealizações, que quero o divórcio -nem que seja temporário- dessa esperança que me domina, dessa expectativa que me faz caminhar, que me comanda e que sempre morre e renasce mais forte.
Eu quero o vento que refrigera, a corrente que paralisa, eu quero a gase que estanca, eu quero um coração diferente, eu quero um eu que me obedeça, que me entenda, que me ajude. Eu quero um socorro que transforme, eu não quero mais a euforia num dia, e a angústia que entristece e me prende no outro, eu quero uma vida que eu nunca tive e eu não quero mais a solidão, mesmo que aquela acompanhada de sempre. Eu não quero mais a solidão como corretivo, na entanto tampouco quero continuar assim nessa premente espera tola e imbecil, de uma manhã adolescente não-vivida, de um tempo que amputei. Eu quero a experiência do que não tive, e quero agora, porque talvez só ela cure essa pressa, essa urgência, esse impulso juvenil de querer, de entender, de sentir a experiência do que pode ser felicidade.

Nitidez

Um comentário:

Malu Rovaris disse...

mais da metade dessas coisas tu já tens, outras é só conquistar. pára e olha ao redor, não exige tanto assim de ti. és mais completo do que achas e mais incompleto do que pareces. tu és imenso; pára de procurar os restos porque tudo o que já tens já é grande, complexo. tu és lindo; pára de encontrar tuas falhas e te alegra com tudo isso que tá ao teu redor. só pára e olha bem =)