28 de janeiro de 2009


É no amanhã que sinto a tua falta. Numa daquelas minhas viagens por ai, li um depoimento que foi como um reflexo, me senti escrito como quando você se olha no espelho, e naquele dia, se reconhece naquela imagem que ali está refletida. Sim, eu sinto saudades de coisas que não vivi, eu tenho medo de ficar sozinho e de perder coisas que não me pertencem, é como se eu esperasse por ter aquilo que eu nunca tive mas que eu sinto como deve ser ter. Uma vez eu achava que eu gostava do que não existia, e o fazia por não entender o que eu sentia e por não saber nomear o que me agita, me atormenta, me suga, me injeta, me amortece, me vitamina, me mantém, me segura, me entrega. Eu ainda não sei nomear as coisas mas começo a reconhecê-las, e as desejo, ainda que de forma tímida, culposa e parcial, pra mim e por mim. Não me imagino realizando-as, muitas vezes elas são um combústivel imaterial que me leva em sua direção e que dúvido muito que conseguirei encontrá-las. Meus desejos e sonhos são o que me mantém vivo, é como uma âncora-combústivel, que me alimenta e me acorrenta simultaneamente. Eu sou uma pessoa simultânea, e vivo uma vida una, porém dividida, recortada por condicionamentos materias e sentimentos que não escolhi, é estranho não querer ser quem se é, ou então querer ser quem é porém diferente. Sempre os iguais-diferentes, a busca do outro em você, eu tenho um problema com felicidade. Eu não consigo ser feliz. Eu tenho um vazio, uma dor, uma coisa estranha que me perturba, que me faz nunca querer estar onde estou, que me dá gosto por músicas tristes e que me escraviza dentro de mim mesmo, como um escravo açoitado por um capitão-do-mato que não é ninguém mais ninguém menos do que ele mesmo. Eu ainda sou aquele adolescente atrasado, que está descobrindo o mundo, pela primeira vez, como se sua vida não tivesse sido uma estréia, e sim um ensaio infértil e infrutífero. Foi um fracasso pra ser franco. Naquelas horas de nó na garganta e lágrima pronta pra escorrer, eu sinto como se eu fosse explodir implodindo, e minha vontade é de desligar, sem eufemismo, eu tenho vontade de morrer por que isso me silenciaria, faria aquelas vozes que gritam dentro de mim se calarem e quem sabe aquela coisa que me tortura e me persegue definhe e desapareça com o meu fim. Eu acordo e vivo todo dia movido pela esperança de um dia poder ter o que não tenho, de possuir o que não possuo, de viver o que não vivo e sobretudo o que não vivi. Eu tenho esse desejo absurdo de me realizar, de ser feliz adoidado e de fazer outras pessoas felizes. Meu desejo é de entrega, doação, cumplicidade, troca, amizade, carinho, amor. Eu desejo compreensão e um companheirismo cheio de coisas que se parecam comigo mas que sejam diferentes de mim, para que eu possa estar sempre mudando, me transformando e me compeltando. Numa ciranda que persegue a perfeição e que realiza com maestria a sina da vida. Me imagino numa sacada limpa, fresca, com um vento gostoso, leve, sentado numa cadeira macia, com uma bebida gelada, olhando pro mar lá fora através dos olhos de uma pessoa que olha pra lá e que sorri, que está ao meu lado viva, limpa, brilhante e linda, alguém especial, que mora em mim e que me faz ficar aqui, sempre, na mesma sala de espera.

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