13 de dezembro de 2009



Era mais ou menos como esse dia nascendo. Só que mais especial. Tinha a intensidade desse sol que manda embora aquela treva sem fim e repetente. Tinha uma fragrância escondida como esse ar fresco e gelado do amanhecer. E teve um momento que eu achei que não podia ser. Que todas as imagens, as sensações e os toques eram de mentira, alucinações da minha fantasiosa e irriquieta mente. Não eram. Irrompiam pelo espaço todo as músicas mais intensas e a magia não cessava. Era uma espécie de encanto consentido, sincronia perfeita, sintonia fina, equação completamente equilibrada. E eu equilibrei aquele corpo algumas vezes porque parecia que a gente era par. Logo eu que sempre achei que era ímpar. E o canto dos pássaros aqui na janela me impede de fechar os olhos e sonhar. Aquele medo derradeiro de adormecer e acordar encarando que tudo não possa ter passado de sonho é algo incrustado, arraigado, que me pergola intermitente. Só que hoje parece que o medo se esvaiu, partiu, seguiu rumo pra algum lugar que não me habita. Minha denúncia é minha face e nunca me senti tão orgulhoso por ser incriminado. Eu acho que quando a gente se entrega tem uma espécie de liberdade única, é um exercício de coragem, respeito e prazer, tudo amalgamado e imbricado junto. É algo da ordem do inenarrável, do indescritível e do inominável. Não foi só macio, e agora um sorriso me esboça a face, foi gostoso, pra caralho. A mágica do poeta gaúcho não me deixa esquecer que os figos são flores que abrem pra dentro.Só posso afirmar que foi lindo e que ele tem razão, em tudo e sobre as flores, principalmente.

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