3 de dezembro de 2009




Uma gota de suor lhe escorria o corpo e juntava-se às outras que já molhavam o chão, em alguns minutos eram dezenas, e ininterruptas um lago formavam aos seus pés. Um esgotamento lhe percorria a mente e lhe cegava de forma definitiva, nada mais conseguia ser elaborado por aquela mente convulsa e inoperante. Um semblante cansado lhe estampava o rosto e pouco a pouco seus olhos cediam a força da desistência e não havia mais esboço algum que conseguisse transmitir pela face. O medo lhe gelava a alma, e estático o tempo parecia não resolver nenhum de seus velhos problemas, que na verdade eram novos, renovados, perplexo pelo reflexo do que vinha ao seu encontro não conseguia compreender o que eram aquelas formas e aqueles vultos. Em verdade o passar dos anos não havia solucionado nada, nenhum dos problemas havia sido solubilizado, apenas a vida havia por postergar-lhes o confronto, houve apenas um movimento no sentido de tardar o encontro com a verdade, que não se transveste, não perdoa, é imutável, perene, absoluta. Naquele dia o relógio havia quebrado, e os ponteiros pareciam girar do avesso e ao contrário numa ciranda macabra,  parecia então, que a realidade procrastinada vinha toda à baila pare se fazer valer e seus pensamentos eram tomados pela verdade que escorria de seus olhos fechados e que já não conseguiam mais segurar a força daquela destruição, a desconstrução, a demolição, ele era aniquilado, desmantelado, obliterado, pulverizado. Irrompia do céu azul da primavera uma sombra gelada de um futuro temeroso que o havia por envolver. Em meio à névoa dezenas de espectros negros sem rosto exibiam suas lâminas mortais empunhadas aos milhares, perplexo e molhado pela água fria do prenúncio do fim que agora o havia embebido, e já não se sabia se eram suor ou lágrimas, o garoto fechava ainda mais os olhos na tentativa de não ver, de tentar acordar do pesadelo da realidade e voltar pro mundo do sonho e da fantasia, ele se negava a aceitar o recomeço e o fim, a queda e a humilhação, pesadelo do passado repetido, por ser revivido, resofrido, reencarado. A dor profunda e visceral e o sofrimento que sempre lhe assombraram em suas piores visões e expectatívas pareciam inevitáveis e irrepelíveis e se tornavam reais. Sua sina trágica e dolorosa era mesmo a que lhe fora marcada no dia de seu nascimento e da qual ele, por mais esperança que tivesse e forças reunisse não tinha conseguido vencer. Entregava-se ao azar da existência. A maldição de um passado triste e duro e áspero e de escombros, da miséria da falta e da carência do quotidiano chegava novamente ao presente como uma dádiva dos infernos e o calor de um verão prenunciado era o início de um fim cruel, impiedoso e negro que materializava-se a cada novo segundo da pavorosa e assombrosa maldição da vida a que tinha sido condenado por deus.

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