25 de abril de 2010

É um recorte do céu de um dia de abril em que eu estava a caminho de casa. Tem duas nuvens diferentes que cruzam o céu e elas tem uma dimensão desconhecida. Eu tinha saído pra ajudar alguém que não queria mais ficar sozinha porque não queria mais sentir. E naquele dia eu acho que eu devo ter saído por alguma outra razão que transcende isso. Eu estou tentando encaixar, colar, engrenar, coordenar, juntas em pedaços. É como um quebra-cabeça novo e desconhecido, e imenso, e gigante, e amplo, e que dá muita vontade de resolver, solucionar, acabar, unir, terminar, e contemplar longamente pra se colocar na parede, numa moldura fina, e deixar lá, pra sempre. E aquele céu tinha duas nuvens a caminho. Uma delas escura, fragmentada, outra densa, iluminada, e elas compunham um arranjo inédito. Eu não queria que nada disso fosse repetido, e não é. São tantas palavras velhas que não cabem mais nessa esboço adolescente e juvenil de tentar traduzir um sentir tão confuso quanto convulso. Eu queria que toda madrugada fosse chuvosa se ela trouxesse uma gravata-borboleta com um presente em forma de esfera coberto por chocolate e recheado de avelã. Eu pensei em relacionar com espelho, e desisti porque não consigo apreender a imagem ou captar as formas de um ângulo imparcial. Você me ceifa a imparcialidade. O som, a sensação, aquele dedo-no-dedo, e aquela multidão em movimento desconexa pulsando e pulando e ebulindo por todos os lados e aquela sensação de encontro e triunfo e proteção e carinho e independência e liberdade de andar pelo meio da turba em fluxo e saber que você tem direção, vetor, sentido, copiloto na curva doce que você me faz sentir. E ainda tem alguma coisa da ordem de um sorriso que perpassa e pergola e penetra e atinge uma estrutura que eu não sabia existir ou ignorava a existência. Sem falar na amplitude de um presente apoteótico e sem sentido que você entrega e remete naquele jeito bom e lindo de existir. E me falta bagagem agora pra tentar elaborar alguma coisa que não soe repetente e igual a tudo que existe por aí. E existe uma lacuna, por fim, nesse fim, porque eu sinto que isso pode ser que venha a ser bem mais do que umas simples linhas rabiscadas no domingo chuvoso e gelado e cinza e mais bonito que eu já pude sentir e viver. E eu queria ter um guarda-chuva agora porque eu queria proteger você enquanto você dança na chuva; comigo.

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