Quando era pequeno beijei uma menina escondido no pátio de meus vizinhos, e fui flagrado. Meus cabelos são incontinentes em sua rebeldia. Não há corte, penteado ou jeito que os amanse, parecem com as nuvens dos céus que eu sempre procurei perscrutar: indomáveis, insanas, incessantes, incontroláveis. Quem sabe tudo não tenha começado naquela advertência no jardim. E hoje se desenrola nesse homem que não se encaixa. Que entende que não é simétrico o suficiente, que não possui os dotes que deveria, e que, aprisionado em suas formas carnais, não encontra amparo nas aprovações que tenta construir para si. Aquela menina do beijo hoje parece à minha frente, realizada por escolhas e conjeturas, está emoldurada em caminho semelhante ao meu mas diametralmente oposto. Àquela época, com candura, fui presenteado por ela com um microfone, rosa. Acho que eu fazia 5 ou 7. E essa é a primeira vez que uso números por aqui. Tamanha é minha congestão mental deles. Estou tomado por algorítimos que me cobram, exigem, que me prensão em uma parede que não é táctil. É da ordem daqueles elementos que determinaram que meus fios de cabelo seriam ariscos, meu rosto redondamente incômodo, e minha pele erupta. Minha vida é uma guerra sem intervalos, uma batalha sem descanso, uma espécie de corrida onde cada passo dado significa. É como se eu vivesse dentro de um eterno tornado em colapso. Sedento por levar ao chão os retratos, os desejos e as histórias lindas pregadas nas paredes que algum dia autorizaram que eu deixasse de viver por mim.
26 de março de 2012
Quando era pequeno beijei uma menina escondido no pátio de meus vizinhos, e fui flagrado. Meus cabelos são incontinentes em sua rebeldia. Não há corte, penteado ou jeito que os amanse, parecem com as nuvens dos céus que eu sempre procurei perscrutar: indomáveis, insanas, incessantes, incontroláveis. Quem sabe tudo não tenha começado naquela advertência no jardim. E hoje se desenrola nesse homem que não se encaixa. Que entende que não é simétrico o suficiente, que não possui os dotes que deveria, e que, aprisionado em suas formas carnais, não encontra amparo nas aprovações que tenta construir para si. Aquela menina do beijo hoje parece à minha frente, realizada por escolhas e conjeturas, está emoldurada em caminho semelhante ao meu mas diametralmente oposto. Àquela época, com candura, fui presenteado por ela com um microfone, rosa. Acho que eu fazia 5 ou 7. E essa é a primeira vez que uso números por aqui. Tamanha é minha congestão mental deles. Estou tomado por algorítimos que me cobram, exigem, que me prensão em uma parede que não é táctil. É da ordem daqueles elementos que determinaram que meus fios de cabelo seriam ariscos, meu rosto redondamente incômodo, e minha pele erupta. Minha vida é uma guerra sem intervalos, uma batalha sem descanso, uma espécie de corrida onde cada passo dado significa. É como se eu vivesse dentro de um eterno tornado em colapso. Sedento por levar ao chão os retratos, os desejos e as histórias lindas pregadas nas paredes que algum dia autorizaram que eu deixasse de viver por mim.
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