22 de fevereiro de 2009


O entardecer estava maturado, colorido, não vibrante mas tocado, como uma primeira mão de tinta numa construção em vias de acabamento. O edifício estava de pé, finalmente, e a espera pela conclusão fora a jornada mais longa, temerosa, pesada e complexa de toda a sua existência. Atravessar o tempo junto significa cruzar as barreiras intangíveis impostas pelo envelhecimento e pela passagem de etapas e linhas imaginárias mas tão reais ao mesmo tempo. A simultaneidade de uma vida dividida estampava agora, neste exato momento quando a luz azulada do dia migrava pra além, todas as marcas vívidas, definitivas e exemplares de um processo. Os caminhos se cruzam como uma trama irreal, inimaginável, inacreditável, duma maestria ímpar, singular, brilhante, de acasos perfeitos, encaixados, substancialmente ligados. História quintessencial que não é roteiro de cinema, script de novela, romance de banca, é fato, indubitável, da orquestra autônoma da vida. Cada cor que tingia o céu e as nuvens naquele entardecer ressaltavam e coroavam o fim do ciclo mais longo, e o começo de um novo processo, ainda mais renovador, intenso, marcante e único. Todas as palavras ditas. Todos os sentimentos endereçados. Toda a história vivida. As luzes de todos os postes se acendiam e vibravam. A cidade anoitecia ao som inaudível da satisfação de uma estação inenarrável e insolúvel no tempo, do mais apoteótico afeto, da melhor conquista, da mais especial e sonhada amizade.

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