5 de abril de 2009


Esse é aquele em que a noite é a verdade. Era uma vez um lugar, e nesse lugar existiam pessoas. Aquele não era um lugar qualquer, cada indivíduo tinha um recorte do espaço e podia utiliza-lo como bem entendia, de praxe, cada pessoa construia uma edificação no recorte que lhe era concedido. Dentre aquele mosaico pequeno e limitade existiam algumas pessoas especiais. Dois vizinhos se conheciam desde que se entendiam por gente, no entanto, nunca haviam trocado mais que meros instrumentos, um dia, com o passar do tempo, eles ficaram adultos o suficientes para proceder com a costrução, que começava para cada um, em ritmo mais lento, desde seu primeiro dia de vida. Em frente a cada obra havia um anteparo, branco, que escondia toda a obra, pois o segredo, diziam, era que nunca nunguém soubesse como e o que estava sendo construído, apenas pouquíssimos e rarefeitos indivíduos conseguiam permissão de alguém para perpassar, transcender, e adentrar por sob o anteparo. No entanto, às vezes, em determinada época do ano, numa hora específica, e singular, a luz da estrela que banhava aquele lugar incidia na obra por um ângulo ímpar, e a sombra projetada sobre o anteparo, nessa conjuntura, era única e latente. Nesse dia, um dos vizinhos estava passando pela calçada quando olhou para aquele anteparo, e naquele momento ele teve certeza, absoluta, que ele precisava conhecer aquela obra, porque ela tinha muitas coisas que lembravam a dele, a fachada, os contornos, a tendência, o porte, a genialidade, o brilhantismo, tudo erigido sob o signo de uma sobra cintilante, num segundo revelador. Com o passar do tempo os vizinhos acabaram se conhecendo e um dia aquele que havia visto o momento ímpar pediu para adentrar o limiar, e o outro só aceitou com a condição de que precisaria visitar a obra do outro primeiro. Pois não, o vizinho entrou na construção ao lado, revirou cada pedra, teve acesso a cada escada, visitou cada cômodo, sublinhou com a mente cada afresco, memorou salientando cada coluna. Depois disso o vizinho que abriu as portas de seu maior segredo pediu para ter acesso, enfim, a construção do outro, e aí o que se sucedeu foi uma intensa tormenta do destino. Enquanto se dirigiam ao outro anteparo o céu nublou, escureceu, as nuvens enegreceram e os relâmpagos começaram a soar, o ventu surgiu numa velocidade assutadora, e quando eles adentraram pelo limiar, o vizinho antes cheio de curiosidade e expectativa percebeu que a maioria das portas estava fechada para ele, que as escadas estavam bloqueadas, os acessos trancados e que apenas algumas áreas estavam abertas a visitação. Tempos depois o vizinho que havia aberto as portas do seu edifício percebeu que muitas outras fachadas de outros lotes de outros vizinhos estavam cheias de suas idéias, que os interiores secretos e sigilosos que ele havia repartido de todo o seu coração haviam sido violados, maculados, e ele se perguntava o porque desse desastre. O porque de uma visita que levou consigo seus sentimentos, seus segredos, seu trabalho, árduo, de construção de uma vida toda. A dúvida do porque seu vizinho-exemplo-herói-afeto havia feito isso com ele.