17 de abril de 2009

Eu queria que você soubesse que não deu tempo de preparar a tua chegada como eu queria. Faltaram as faixas, os balões, as cornetas, o lanche, as pessoas, a música, as cores, faltou quase tudo porque eu tenho um problema com atraso e que acho que dessa vez meu planejamento deu errado de vez. Eu sabia que você estava chegando, e o mais engraçado é que isso aconteceu de uma forma que eu não estava esperando. Existe uma sincronia ímpar nessa história toda. Eu queria que você soubesse que eu nunca estive tão preparado, nem me sentindo tão estranho. Há dias eu acordo com uma espécie de sentimento de conforto que eu nunca tive, é como se de um dia pro outro você tenha me enchido de vontade, e tenha renovado minhas forças, injetado ânimo, eu acho que houve uma transferência entre a gente e eu estou conseguindo perceber isso, como nunca. Às vezes eu tenho a impressão absurda de que eu estou em contato comigo mesmo, em uma outra fase, meio hoje meio ontem. E a tristeza, pertinente, a angústia, recorrente, a raiva que me envenenava, a desesperança que me dominava, todas as intempéries do meu próprio eu conflituoso foram varridas do céu que existe em mim pra um espaço distante do meu sentir. Eu queria que você soubesse que eu estou tranquilo e que eu não sinto uma incontrolável tensão de agir. Na verdade eu sinto uma espécia de calma envergonhada, como a desse texto por exemplo. Quando materializei a profecia da tua chegada eu estava inebriado pelos meus sonhos e por uma sensação boa que não era só esperança, era algo que amalgamava um teor especial, um matiz de ternura, uma essência cativa de bem, um espectro de completude. E esse é aquele em que eu encerro começando, que te digo que tua presença venceu minha ausência, e num ímpeto de coragem e segurança, afirmo que eu acho que os olhos que achava que tinha visto, eram sim, por fim, escuros.