8 de junho de 2009

Eram todos os recortes do céu unidos. Eram todas as nuves desconexas, todos os feixes de luz que atravessavam o vácuo. E era toda a tentativa de compreensão concentrada. A cascata inteira continuava a vociferar com fome, com uma sede insaciável e um apetite que não se satisfaz, a intesidade do choque das correntezas com o fundo da cachoeira era um estrondo de uma ordem em que barulho é silêncio e tudo se inverte numa sina do avesso que arrasta tudo que encontra pelo caminho. Desciam pelas corredeiras com aquele fluxo todas as coisas conhecidas e imaginadas e toda o mosaico independente de pedaços e recortes parecia ir se reunindo lá embaixo em uma configuração que desafiava a corrente natural de tudo. As poucas palavras que desciam inteiras se aglutinavam perto das imagens e um dia alguém olhou da borda do penhasco e quando toda a névoa arrefeu exclamou. Todas as interrogações se fizeram transmutar e enfim tudo era imagem. Estive congelado no tempo como quem precisa acordar de um sonho mas não está sonhando. E são só comparações porque a realidade não responde ao que não entendo e como não há compreensão porque extravasa. E o excesso que transborda é amálgama da ausência que varre tudo dentro de mim, e minhas lacunas todas, e minhas presenças invertidas, e todas as instâncias e tudo que acho que tenho e sou não passa do fundo da cascata abarrotado por fragmentos de coisas que não reconheço inteiras e continuo na busca por reunir o que pode ser que me constrói. E as palavras já não tem mais a mesma força de outrora e não consigo mais me fazer legendar porque há sempre alguma coisa suspensa e tudo aquilo que paira no ar já não me permite mais traduzir o que sinto porque no fundo não se render é apenas não abandonar a busca, e esse é aquele em que talvez consigo dizer o que quero porque é assim que tenho convivido dentro de mim.

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