5 de julho de 2009


É como a foto antiga que envelhece, e amarela, perde a intensidade de cada cor mas não se apaga. E são como as pétalas da rosa mais vermelha que desbotam e caem pelo chão, e apesar de todo o tempo do mundo, e de todas as intempéries, continuam vermelhas e perfumadas. E agora é tão inverno quanto antigamente e eu me lembro daquele tempo em que a gente convivia por conveniência ou destino e eu ainda me lembro daquela enigmática sensação que você sempre provocou em mim, eu lembro das muitas tardes, e manhãs, e de todos os dias em que lutei pela tua volta nos meus dias, porque era tão longe e tão difícil e improvável te fazer voltar pra dentro dela, e tudo me separava de você porque você era como aquele caule cheio de espinhos que me feriria se eu tentasse te tocar,e nossos mundos se desencontravam, e eu tive que operar meus esforços através da história, e o acaso acabou por aprimorar meus passos e aquelas velhas fotos passaram a ser passado do nosso presente porque novos retratos foram sendo tirados e ai você voltava a colorir o cinza do meu presente e você estava ainda mais marcado no meu sentir, mesmo sem nunca ter sabido disso, porque aquele enigmático sentimento que você me causava e aquela sensação que percorria meu corpo inteiro quando eu estava com você se reiteravam e então quando eu abri meus olhos, e olhei pra fora naquela hora, eu percebi que durante todos os longos anos em que eu lutei por você, por mim, e por aquele passado que me insistia em dizer que não era só definitividade do tempo, naquele dia daquela noite qualquer em que eu deitei e olhei pro teto, como nas primeiras vezes em que você voltava pra cena da minha vida, eu percebi que talvez eu sempre gostei mais de você do que eu deveria, e como naquele tempo isso não podia ter nome, e talvez não tinha, você me fazia ir da admiração ao ódio, do amor à raiva e a todos os extremos do não entendimento, e toda a fixação que eu tinha por você se explica quando eu percebo sem anteparo algum que você foi aquela pessoa que colocou a semente dentro da terra, e depois dela germinar partiu, e eu sofri pra crescer e lutei pra não morrer diversas vezes, porque no fundo eu queria acreditar que um dia você ia voltar pra perto de mim e a gente ia construir aquela história, que a gente construiu, e que com todos os espinhos, as pétalas, o frio, as cores, as noites, o vento, e as palavras de todos aqueles verões e invernos, que um dia quem sabe eu ia me encontrar com você, e por isso quando eu entendi o que eu sentia por ti eu acabei sendo como aquela árvore que perde todas as suas folhas no outono, e uma a uma elas foram caindo e me vi descendo com o vento e logo o chão nos meus pés estava amarelado e eu estava desnudo como todos aqueles galhos que já não escondem mais a luz do sol e o céu azul, e era por isso que eu queria que você tivesse olhado pra fora naquela hora, porque tudo que eu sentia você tinha se acendido e eu não conseguia mais esconder, e eu me sentia inebriadamente compelido a impedir e a querer ao mesmo tempo que a nossa foto nova, daquele presente de sonho, tivesse toda a intensidade, a força, e o brilho marcante que um retrato e uma lembrança únicos podem ter.

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