7 de julho de 2009



É como uma chuva celestial de prata torrencial, e todos os pontos, cintilantes, que eu assisti durante todo o tempo do mundo no céu, e que eu achava que eram a maior nuvem e a mais bela de minha vida que eu já fotografei, desabavam sobre mim. Por um instante achei que não fosse real, e quando eu olhei pros lados vi que eu estava sozinho e que aquele céu luminoso me alcançava e já não brilhava mais, quando eu pude notar, não eram gotas o que caia do céu, e sim infinitas agulhas esculpidas em prata, milimetricamente recortadas, olhei pra todas os lados e só chovia prata, e quando me dei conta que eram frias, e pontiagudas, e reais, e que me feriam eu tentei gritar mas minha boca foi toda completamente coberta por picadas, e quando eu senti minha pele imersa em prata não conseguia mais distinguir o que era dor e o que não era, e meus olhos foram ficando escuros, porque segundo a segundo as agulhas iam cobrindo minha irís, e fixando minha pálpebra, e logo eu já não enxergava mais, e então eu não sentia mais nem o gelado da prata nem o vento da tempestade pontiaguda porque minha carne estava sendo comprimida e todos os espinhos, como num passe de mágica tomavam vida, e derrepente percebi que em uníssono, todos marchavam pra dentro de mim, e logo senti todo o meu sangue que vertia de cada poro de minha pele e de minha alma escorrendo, e quando voltei a enxergar por instantes porque as agulhas fizeram tanto peso que caíram de meus olhos, percebi que não havia mais nada além de metal ao meu redor, e nenhum passo eu conseguia dar, nenhuma palavra eu podia proferir, porque as agulhas me engessaram por dentro e me deixaram oco, e eu escorri naquele chão que eu já não podia ver porque o céu estava escuro e a nuvem cintilante, do prateado mais imponente, tinha tomado todo o céu e todo o sol, e o chão estava coberto de espinhos, e meus pés estavam banhados nas agulhas, e como numa apoteose de metal e sangue eu queria que você soubesse que eu fui dilacerado pela violência da chuva, e a tempestade que me obliterou, teve êxito completo, porque as agulhas que caminhavam dentro de mim encontraram meu coração e o venceram, e quando me dei conta que estava coberto por prata e escuridão, e que eu já não sentia mais nada, percebi que eu já havia partido e que eu não queria perceber. E todos os céus se apagaram, e todas as estrelas se extinguiram, e todas as palavras faliram e esmoreceram pra que você nunca esqueça que tem toda a maestria e a perfeição dignas do êxito de um deus.

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