22 de fevereiro de 2009


O entardecer estava maturado, colorido, não vibrante mas tocado, como uma primeira mão de tinta numa construção em vias de acabamento. O edifício estava de pé, finalmente, e a espera pela conclusão fora a jornada mais longa, temerosa, pesada e complexa de toda a sua existência. Atravessar o tempo junto significa cruzar as barreiras intangíveis impostas pelo envelhecimento e pela passagem de etapas e linhas imaginárias mas tão reais ao mesmo tempo. A simultaneidade de uma vida dividida estampava agora, neste exato momento quando a luz azulada do dia migrava pra além, todas as marcas vívidas, definitivas e exemplares de um processo. Os caminhos se cruzam como uma trama irreal, inimaginável, inacreditável, duma maestria ímpar, singular, brilhante, de acasos perfeitos, encaixados, substancialmente ligados. História quintessencial que não é roteiro de cinema, script de novela, romance de banca, é fato, indubitável, da orquestra autônoma da vida. Cada cor que tingia o céu e as nuvens naquele entardecer ressaltavam e coroavam o fim do ciclo mais longo, e o começo de um novo processo, ainda mais renovador, intenso, marcante e único. Todas as palavras ditas. Todos os sentimentos endereçados. Toda a história vivida. As luzes de todos os postes se acendiam e vibravam. A cidade anoitecia ao som inaudível da satisfação de uma estação inenarrável e insolúvel no tempo, do mais apoteótico afeto, da melhor conquista, da mais especial e sonhada amizade.

15 de fevereiro de 2009

Uma montanha-russa ao contrário, uma estação em que se embarca pra voltar, um vagão de cabeça pra baixo. Tudo aquilo que era pertinente à estação de trem estava do avessso, numa ordem inintelegível, aleatória, caótica e desordenada. Embrulhava o estômago dele ter que ver e presenciar. Sentia como se lhe colocassem uma mão dentro do peito, e lá dentro, era como se um punhal fosse descoberto, silenciosamente posicionado e então ele era rasgado por dentro, mutilado, não havia piedade alguma, não havia misericórdia nem redenção. A dor explodia dentro do seu peito e cegava sua mente, os gritos surdos subiam e desciam pela garganta e ele não conseguia ver mais nada, ouvir mais nada, sentir mais nada. As implosões não cessavam, se sucediam, demoliam cada estrutura, cada resistência, tijolo por tijolo dos muros pretendidos a proteger o castelo. A contradição de sentimentos o aniquilava, e cada segundo a diante naquela montanha-russa às avessas, era como um mergulho no vazio da ausência, da voz que não perpassa a boca, do lábio perdido no escuro, do sorriso que sempre oculta a lágrima. Eu não sei como, mas eu não queria ter olhado pra fora.

12 de fevereiro de 2009


Eu não sei como, mas você deveria olhar pra fora agora.