13 de dezembro de 2009



Era mais ou menos como esse dia nascendo. Só que mais especial. Tinha a intensidade desse sol que manda embora aquela treva sem fim e repetente. Tinha uma fragrância escondida como esse ar fresco e gelado do amanhecer. E teve um momento que eu achei que não podia ser. Que todas as imagens, as sensações e os toques eram de mentira, alucinações da minha fantasiosa e irriquieta mente. Não eram. Irrompiam pelo espaço todo as músicas mais intensas e a magia não cessava. Era uma espécie de encanto consentido, sincronia perfeita, sintonia fina, equação completamente equilibrada. E eu equilibrei aquele corpo algumas vezes porque parecia que a gente era par. Logo eu que sempre achei que era ímpar. E o canto dos pássaros aqui na janela me impede de fechar os olhos e sonhar. Aquele medo derradeiro de adormecer e acordar encarando que tudo não possa ter passado de sonho é algo incrustado, arraigado, que me pergola intermitente. Só que hoje parece que o medo se esvaiu, partiu, seguiu rumo pra algum lugar que não me habita. Minha denúncia é minha face e nunca me senti tão orgulhoso por ser incriminado. Eu acho que quando a gente se entrega tem uma espécie de liberdade única, é um exercício de coragem, respeito e prazer, tudo amalgamado e imbricado junto. É algo da ordem do inenarrável, do indescritível e do inominável. Não foi só macio, e agora um sorriso me esboça a face, foi gostoso, pra caralho. A mágica do poeta gaúcho não me deixa esquecer que os figos são flores que abrem pra dentro.Só posso afirmar que foi lindo e que ele tem razão, em tudo e sobre as flores, principalmente.

11 de dezembro de 2009


FODA-SE VOCÊ. FODAM-SE AS BOCAS MACIAS. ODEIO SOFRER POR VOCÊ. VAI EMBORA. EU NÂO AGUENTO MAIS TE AMAR E TE QUERER S. F. D. P.

3 de dezembro de 2009




Uma gota de suor lhe escorria o corpo e juntava-se às outras que já molhavam o chão, em alguns minutos eram dezenas, e ininterruptas um lago formavam aos seus pés. Um esgotamento lhe percorria a mente e lhe cegava de forma definitiva, nada mais conseguia ser elaborado por aquela mente convulsa e inoperante. Um semblante cansado lhe estampava o rosto e pouco a pouco seus olhos cediam a força da desistência e não havia mais esboço algum que conseguisse transmitir pela face. O medo lhe gelava a alma, e estático o tempo parecia não resolver nenhum de seus velhos problemas, que na verdade eram novos, renovados, perplexo pelo reflexo do que vinha ao seu encontro não conseguia compreender o que eram aquelas formas e aqueles vultos. Em verdade o passar dos anos não havia solucionado nada, nenhum dos problemas havia sido solubilizado, apenas a vida havia por postergar-lhes o confronto, houve apenas um movimento no sentido de tardar o encontro com a verdade, que não se transveste, não perdoa, é imutável, perene, absoluta. Naquele dia o relógio havia quebrado, e os ponteiros pareciam girar do avesso e ao contrário numa ciranda macabra,  parecia então, que a realidade procrastinada vinha toda à baila pare se fazer valer e seus pensamentos eram tomados pela verdade que escorria de seus olhos fechados e que já não conseguiam mais segurar a força daquela destruição, a desconstrução, a demolição, ele era aniquilado, desmantelado, obliterado, pulverizado. Irrompia do céu azul da primavera uma sombra gelada de um futuro temeroso que o havia por envolver. Em meio à névoa dezenas de espectros negros sem rosto exibiam suas lâminas mortais empunhadas aos milhares, perplexo e molhado pela água fria do prenúncio do fim que agora o havia embebido, e já não se sabia se eram suor ou lágrimas, o garoto fechava ainda mais os olhos na tentativa de não ver, de tentar acordar do pesadelo da realidade e voltar pro mundo do sonho e da fantasia, ele se negava a aceitar o recomeço e o fim, a queda e a humilhação, pesadelo do passado repetido, por ser revivido, resofrido, reencarado. A dor profunda e visceral e o sofrimento que sempre lhe assombraram em suas piores visões e expectatívas pareciam inevitáveis e irrepelíveis e se tornavam reais. Sua sina trágica e dolorosa era mesmo a que lhe fora marcada no dia de seu nascimento e da qual ele, por mais esperança que tivesse e forças reunisse não tinha conseguido vencer. Entregava-se ao azar da existência. A maldição de um passado triste e duro e áspero e de escombros, da miséria da falta e da carência do quotidiano chegava novamente ao presente como uma dádiva dos infernos e o calor de um verão prenunciado era o início de um fim cruel, impiedoso e negro que materializava-se a cada novo segundo da pavorosa e assombrosa maldição da vida a que tinha sido condenado por deus.

1 de dezembro de 2009



Tem uma sombra que me persegue quando você está por perto. É como se todos os demônios e os dragões do subsolo e do além viessem à superfície e iniciassem um ritual macabro tendo por mim como oferenda. É um circo dos horrores bizarro que eu não aguento mais protagonizar. Tem uma espécie de inversão sentimental que você consegue causar, e todas as minhas resistências são transmutadas pela perturbação da tua presença, eu sinto amargura, dor, desconforto excruciante que não cessa até a tua ausência, que tenho desejado cada dia mais e mais. Eu estou com uma dificuldade absurda pra administrar a mim mesmo quando se refere a ti. Você não é quem você acha que é, quem você tenta parecer ser. Quem você é me machuca. E as nuvens que cobrem o meu céu agora estão tão escuras que eu não consigo mais ter noção de certos limiares. Teu magnetismo de composição exterior tem uma capacidade de definhar e envenenar o teu entorno, é uma espécie de maldição do tesouro, só que no final da empreitada não há tesouro, só pesadelo. Eu queria poder deixar o céu claro, fazer com que o teu magnetismo se multiplica-se e ilumina-se aos outros também, mas tua luz é paradoxalmente negra, ela suga tudo ao teu redor, reduz a pó, cinzas, nada. Não sei se você percebeu mas todo mundo que já chegou tão, ou quase tão perto de ti quanto é possível se foi. Não resta ninguém. Nada. E por um tempo eu achei que eu conseguiria restar, haver de ficar, permanecer, resistir. Agora acho que não.Que se eu conseguir vencer a tua gravidade pulverizadora ei de partir, como todos os outros, pra sempre. A salvo de ti e do teu labirinto do tesouro sem tesouro, sem saída, sem vida, sem nada.