18 de março de 2009


Esse é aquele em que ele tem certeza e que diz tudo o que acha que quer dizer. Tudo era silêncio e barulho. Ele estava em pé, dançando, parado, a música ritmada com o movimento do seu peito, as notas enchiam o ar escuro, não havia noção de tempo, seus braços abertos, os flashes que desnudavam, pontuais, flagravam seu ensaio não tão solitário, o gelo seco impregnava o ambiente, misturando-se. Naquele momento todas as pressões cessavam, arrefeciam, calavam-se, e só restava a ele escutar. Não havia nenhuma presença, as portas estavam todas fechadas, lacradas, impenetráveis. A sensação era a de um viveiro hermeticamente vedado embebido em noite e voz. A busca pelo imaterial consumiu cada movimento e passo e a presença invertida do que sentia percorria cada centímetro de sua alma. E ela pulsava latente, cinza, viva. Escolha pelo que se acredita que é o melhor, conquista do que se acredita que é bom. E a história repetia-se novamente, interiorizando no âmago uma ordem que jazia agora sem lei. Seus sentidos cegados pelas indicações, parciais, montadas, jogadas, dúbias, convenientes, mecânicas, frias, insanas, premeditadas por uma genialidade que se pretende a invulnerabilidade. Que se pretende. Fortaleza que era alvo do mais contraditório ataque, página da batalha invertida. As canetas que deveriam acompanhar-se na redação da história não pareciam escrever o que deveria ser escrito. Faltava tinta, afeto. Faltava verdade. A instrumentalização da vida lhe embebia de pavor e perplexidade. O interesse, unívoco, unilateral, da singularidade, retroagia no tempo como um espelho frente ao outro. Os olhos estavam abertos agora, e seus braços continuavam esticados, fluindo, no escuro, com os mesmos flashes, pontuais, e a névoa branca invisível o engolfava. Pouco a pouco o tempo lavava a alma tingida, e a canção que dividia a imagem, descolorindo caminhos, chegaria ao fim, terminando por revelar o que restaria de suas certezas, manchadas.

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