30 de dezembro de 2008

O verde e o silêncio compunham um arranjo dúbio: a paz e a tranquilidade se entrelaçavam à solidão que vivia na borda, à espera de um convite para estar junto. Foram dias vendo a noite cair, o silêncio chegar na espera vigilante por todos, por eles. Foram tantos medos, e tantos receios, e tanto escuro, que estar sozinho era cruzada intransponível e traumática. Pavor dele, medo, dor. O céu estava muito mais azul do que sempre estivera, as nuvens estavam longes, e tanta coisa estava mais clara. O tempo passava e ia arrastando, levando com ele tudo aquilo que estava há muito estancado, parado, barrado, cedido. Palavras, letras, coisas soltas, tons que se acumulam, sons, batidas do coração, são nós na garganta e epifanias que traduzem sentimentos, sensações, que entregam ao mundo seus sonhos, devaneios, vontades, desejos de menino, homem, filho, ser humano.O mesmo verde e a mesma tranqüilidade agora se travestiam em novo caminho, em esperança de olhos arregalados, em vento que sopra rejuvenecido pelo alvorecer das novas chances, dos novos olhares, do querer novos amores, novas paixões e com aquele cheiro característico, fresco, convidativo de tudo aquilo que é novo. Poente que era simbólico de renascimentos precedidos de quedas, da sina que cumpre-se à risca. Água gelada que anuncia batismo, coração ritmado que se reconquista, fé na digestão do pretérito e nos encontros cheios de desafios do novo ano, música que conduz, inspira, encontro que aglutina, nota que pesa, que formata, amarelo que envolve, luz que cobre e engrandece, dourado que anuncia, areia que circunda.Respeito que é aprender, vontade de gritar bem alto, pro infinito, peixinhos, branco alvo, olhar cruzado, oceano, viver matizado em corpo, desenho, traço, encanto da vida. Sonho do conto de fadas ainda não vivido, da peça assitida, da atuação cativa no futuro. Vida viva que espera ansiosa por amor.



27 de dezembro de 2008


Tenho em mim todos os sonhos do mundo. São todos meus. E se não são meus então são eu. Sim, sou uma massa vivente de vontades, desejos, ambições e espera. De todos os múltiplos anos de trezentos e tantos dias, sua grande totalidade deles passei no aguardo, no projeto, na idealização, na sala de espera da vida. Cansei de ficar sentado, mesmo sem saber como me manter em pé, levantei, tentei passos, busquei equilibrar-me e não consegui, cai, me machuquei, clamei por ajuda, me ergui, e mais uma vez, sentei, e levantei, e segui dentro da sala de espera. Sou adolescentemente claro quanto a isso, não tenho mais paciência, tenho urgência, vontade, desejo, sonho, quero felicidade, adrenalina, emoção, movimento, quero cruzar a porta da sala, quero o fluxo, o trânsito, a aventura da existência. Ainda não consigo imaginar o mundo lá fora como ele deve ser, ainda me enfeitiço, me encanto, fantasio em demasia. Espero que a maturação progrida, que eu enrijeça, cresca, intensifique o equilíbrio. Eu quero coragem, sorte e realização. Estou me conformando que somos sozinhos, que nascemos sós, e que ninguém exceto nós mesmos nos acompanha sempre. Céu azul, sol de verão, sorriso na fronte, novo ano de experiência e espera nova. Os bons, como diz a etiqueta, nunca se rendem.

20 de dezembro de 2008


Aquilo que se conquista não se pode delegar, não se entrega, não se dá, não se doa, só se deseja. Desejo que é sim entrega, porém de um querer tão mais simbólico e bom. Atitude humana refinada e doce, sublime, leve, sofisticação que encanta, fantasia que nos guia, onde quer que a realidade nos leve. Escrever é um pouco de ser, um tanto de vontade e muito de necessidade. Se esparramar no papel é se dissolver em letras, que te devolvem teus sentimentos, misturados, mixados, confusos, amalgamados em palavras ordenadas por lógica, senqüência, tentativa de se fazer (e) entender(-se). Era o som que o tocava, a nota gelada da música que o fazia viajar, dali, do sofá carregado de histórias, coadjuvante passivo de toda uma vida vivida como pode ser, que ele transgredia a realidade, e compunha-se de toda a coragem que poderia ser dele para viajar. Sua imaginação era trem, merkaba, veículo espacial, inter-temporal, o gosto do embalo era o de um infinito e tranquilo campo verde, meio claro-meio escuro, cheio de vento, e céu azul, e mato grama. Vento fresco, alma nova, inovando, estreando, sentindo o viver, encontrar-se e encarar-se. Não mentir, pedir, palavras que raspam na pele, que ricocheteiam na alma, que travam a batalha no muro. Da fortaleza; sim, ele ergueu uma, e eles querem invadi-la, estão tentando, avisaram-no, seu maior exemplo lhe alertou, e ele ouviu. Os guardas estão a postos, inexperientes, verdes -na ambigüidade permitida-, mas corajosos como seu senhor. Desejo vento, azul, e o vermelho que brota de dentro e me leva. Sou juvenil, sentimento puro, amor-desejo, carinho, medo, coragem como paixão.

17 de dezembro de 2008


Era ainda a sua urgência juvenil. E sua fonte de inquietação, assim, clara, explícita, lhe tranquilizava, porque no fundo ele sabia o que o artomentava, não como pavor, mas como angústia: sua vontade de viver. Talvez o mesmo tempo que ajudou a converter e transformar seus sentimentos e sua história, agora estava sendo requisitado de outra forma, mas o tempo é um só, e talvez por isso ele não possa corresponder... Ah, como poesia era coisa linda, mágica, como ele podia ver o que sentia nas letras, nas frases, tecidas, esculpidas em fragmentos, pedaços de pessoas como ele, não estar sozinho no mundo do sentir era um alívio. Ainda não entendia direito como viria a ser. Ainda não estava sentindo tudo como deveria sentir. Sentiria um dia? Metade medo, metade todo o resto.
Eu fecho os olhos e desejo, desejo um mar de arrepios de alegria, de surpresa boa e de realização. Pedi pro papai noel que realize meu desejo, que me conceda aquilo que eu mais quero, a concretização da espera e do sonho, que pode ser conversão da simpatia, descoberta do novo, surpresa do entorno, resgate do seu marco, infinitas possibilidades resumidas a um encontro, um ato, um carinho. O sol vinha vindo, cada vez mais de vez, havia dias de nublado dentro dele, sim, mas já não chovia, as lágrimas pareciam ter entrado num sono tão diferente, sabe, na verdade lembrar de tudo parecia acordá-las mas elas não despertavam por completo. A inspiração pra derramar no papel e na tela o indizivel também estava tênue e sem aquele brilho de encanto que eu gosto, porém essa era uma etapa, uma fase mais, um momento pelo qual a travessia que iniciei possui. Sim, foi uma travessia, ainda está sendo. Cruzei uma prisão gigantesca e sombria, um deserto tortuoso e desfigurante, encontrei alguns oásis durante o percurso, quase tombei em muitos momentos, e encontrei a selva, quando sai do outro lado, encontrei uma praia extensa, quase sem fim, e ainda estou caminhando por ela, na busca por algo que acredito ser, é o que me deixará mais perto da plenitude do querer viver e sentir-se; daquele jeito que dá vontade de caminhar sem medo e destino, que faz a gente adormecer e despertar prontos pra cada novo desafio, pra realizar cada desejo e respeitar cada vontade: amadurecendo sendo cada vez mais si mesmo - com aquele gosto que faz da gente pura luz, sorriso e amor.

14 de dezembro de 2008


A pergunta. Sim, foi ela que levou ele tão longe e me trouxe até aqui. A dúvida e o sonho me guiaram até uma vida nova, uma vida que transformou-me, em ser novo, revestido, recheado, em pessoa nova, disposta, autêntica, eu vivi a vida, e ela me devolveu a experiência inédita de ser quem sou. Ser eu mesmo é pra mim uma experiência tão nova e intensa que me custou dias, semanas, meses inteiros. A experiência de encarar a si mesmo, e de me trazer a mim, de me devolver a quem eu pertenço, a sensação de receber algo que é meu e que eu, porém, nunca tive, é a de alguém que sentiu na pele o sentir. Amor, sim, eu amei, e amei muito, tanto, e de forma tão louca e urgente que cai num abismo escuro dentro de mim, e a solidão me corroeu, me enlouqueceu, no entanto me encorajou, me fez pedir socorro, me fez errar também, contudo nunca acertei tanto e jamais eu havia feito até então, tantas escolhas corretas. Hoje, nesse crepúsculo de dois mil e oito, quero proclamar a mim mesmo, e às nuvens, à chuva, ao céu e ao sol, e a todos aqueles que me são caros, que nasceu enfim, o mesmo menino novo. Foi desfeito o papel imposto, a cena montada, o artista pretendido se despediu do palco, a transformação é a mudança de alguém que passou a escutar seu próprio coração, e que encontrou no mundo, nesse mesmo mundo que o levava desejar morrer tantas vezes, pessoas com quem compartilhar seus sentimentos, seus sonhos, com quem compartilhar-se, e dividir-se, doar-se, entregar-se e mudar-se. Nessa madrugada, ele sentiu na pele aquela mesma felicidade, pura, intensa, letalmente revigorante, inesquecível, tão concentrada que ele sentiu o gosto da vida, do bom viver, do bem viver, e ele agradeceu a cada um deles, os dois, seus maiores presentes por ter tido toda essa experiência. Eu não acredito que isso tudo é real, que tudo isso foi real, eu não consigo acreditar que eu recebi palavras, sentimentos, desejos remetidos a minha pessoa, eu nunca me senti tão querido, tão amado, tão companheiro, eu nunca confiei tanto, eu nunca me senti tão bem, eu nunca fui tão feliz como nesse dois mil e oito. Ano inesquecível, cena da parede de memórias, dos registros do tempo, dor que fica na lembrança, loucura que ensina a sentir, razão que racionaliza enfim, desejo que aflora, que pede, que pronuncia, amor que reparte, comparte, brota, que flui aceso em direção ao coração, carinho que penetra na alma, gosto da vida que tempera o tempo, três amigos, tantos dias, muitos sentires, uma múltipla história única cheia de paralelos traçados. Letra que deposita, foto que imortaliza, alegria que impulsiona. Nesse exato momento quero agradecer mais uma vez: muito obrigado. Nada mais será como foi ou era. Obrigado por toda a felicidade e o carinho que senti. Dúvida que virou Amor. Amor que converteu-se em Dor. Sincronicidade que amalgamada em Amizade, fez do sonho Felicidade.Rimas pobres, palavras ricas. Acaso não existe. Era pra ser.

7 de dezembro de 2008


Era o estranhamento do novo. Nunca antes havia ele sabido o que era ser ele mesmo. Cada dia era como um daqueles carros, num fluxo unidirecional, intenso, diferente, colorido e incessante. Ele havia crescido desqualificando o sentir, sentimentos eram difíceis, perigosos, sofrimento, excesso. Racionalidade era bom, controle, tecnicidade, tentativa de domínio, homicidio dos desejos. Ele jamais havia imaginado que iria tão longe -no sentir- em tão pouco tempo. Ele nunca, nem no seu mais belo sonho de outrora havia chegado a cogitar que poderia vir a ter a possibilidade de ser tão feliz. Talvez ai o porquê de tanta inveja. Querer ter o que o outro tem, no âmago, o desejo de ser tão feliz quanto acha-se que o outro é ou parece ser. Calma, alegria e satisfação não rendiam inspiração, não davam bons textos, não teciam a confusão em letras, descendentes e ordenadas no papel, numa espiral enfileirada e coordenada em linhas, pontos, frases inacabadas e escancaradamente humanas. Era a auto-tentativa de querer encontrar-se no espelho das palavras, do perder-se tão familiar que sempre achava, ou quase, um esperança de seguir, no fim de cada ponto final. Teria sido uma grande confusão de sentimentos, teria sido um grande amálgama de sentir, teria sido um grande sonho, teria sido uma grande realização esperada, tantas indagações da realidade vivida e pensada. Talvez o gosto dele por cerimônias, homenagens e encerramentos explicassem um pouco seu premente desejo por apoteoses e consolidações etéreas. O vazio existia, e colidia com o nada tão familiar que estava na batalha eterna do acreditar e do querer. Grandes montes de coisas abstratas batalhando num espaço-tempo que só existe dentro da imaginação que mora dentro dele. Descoberta da felicidade sem culpa, aceitação do hoje, de si, tentativa de cessar o entendimento porque viver é muito mais que racionalizar o que não se pode enquadrar, tampouco denominar. Numa perspectiva do passado, se atento aos quereres periféricos e envergonhados, pode-se dizer que havia sido quase tudo em poucos meses. Suas lágrimas encheriam baldes, sua felicidade piscinas, água, líquido da empolgação dele. Dos desejos realizados, pretendidos, alcançados. Beleza, riqueza, inteligência, conteúdo, admiração. Escada do labirinto cheio de andares. Certeza de querer ser como eles são, ou pareciam ser, desidealização que opera, descontrução que liberta, saudade que é carinho, vontade de felicidade, espera de realização pra ele, abraço que não cessa, lembrança fixada na parede enterna da vida, do agosto de dois mil e oito, do domingo de madrugada, da catarse coletiva, do rendimento do eu ao amor. E lá se vai um tempo que não vou lamentar como passado, que não vai me prendar mais pelo desejo de reviver -é isso que ele faz, e quer continuar fazendo-, é isso quje ele sempre fez com tudo que é dele, porém agora, já que ele mesmo é outro, é ele, isso também deixará de ser, porque isso não é ele, verdadeiro, isso era dele, outro, artista da vida que dissolve no tempo, horas de conversa terapêutica que descotinaram seu encontro, sonho, muito sonho, nuvem, fantasia, céu, chuva , dor, calor, sofrimento, água, música, palavras, letras, blog, sonhos, tantos desejos e imaginações conjeturadas. Recortes, emoldurados, fixados, passivos da admiração eterna que não escraviza, que suaviza sim, edifica, amortece e encoraja. Páginas brancas vivas à espera da história a ser escrita. Passo-a-passo do no autor da sua própria história. Saga de um menino ex-canhoto, ex-olhos azuis, ex-prisioneiro, ex-não-ele-mesmo. Eu adoro narizes bonitos e unhas saudáveis. Tenho inveja de beleza e riqueza. E falo o que tenho vontade - ou não, mas tenho falado.
Aprendizado poético: Não há falta na ausência. Que Drummond e todos os meus novos e velhos conhecidos sejam bem-vindos. Meu tempo é, sim, quando.