28 de maio de 2009


É a maior morte estelar que vou ter que viver. É a plêiade mais cintilante e singular que vou ter de abandonar porque já não consigo mais conviver com sua luz e porque ela me ofusca tanto, e me cega, e me perturba ao ponto de eu perder todas as direções, e todos os sentidos . E por eu não querer mais me sedimentar devido a força da sua luz, e de toda a sua perfeição, que eu me despeço do céu da noite, daquela estrela mais brilhante porque não tenho mais tenacidade, nem força nem nada do que se aproxime ao que já me sustentou, porque aquele brilho é tão intenso e devastador que todas as minhas bases e meus fundamentos foram incinerados e depois o que não foi consumido pelo fogo foi pulverizado pelo choque que sinto com a realidade quando estou perto de você. Eu preciso deixar de olhar pro céu porque a intangibilidade, tanto da perfeição quanto do sentimento são verdades que me desmantelam e me desconstroem. E é como quando uma onda no fim do dia chega firme e leva embora o castelo mais alto e mais pleno da praia porque uma hora ou outra ele voltaria a ser só areia e é função, indissociável, do tempo, levar tudo aquilo que não pode ser pra sempre embora. E esse é aquele em que sucumbo, me curvo, e me rendo ao brilho e a força de tua luz, porque já não consigo mais sobreviver sob tal intensidade e porque preciso voltar a ser, com a urgência de quem luta pela própria vida, aquele pedaço de uma constelação menor na busca pelo avançar do tempo, pra que um dia, eu possa vir a ser, então, tão especial e perfeito como todas aquelas jóias ímpares do firmamento.

25 de maio de 2009


É como a paisagem que se altera todos os dias e no fundo acaba por ser sempre a mesma. Existe sempre alguma coisa ausente. A ausência também pode estar suspensa, pairando sob nossos corações. Naquele dia todas as nuvens se dispersaram e partiram, e o céu vibrante de outrora deixou de estar nebuloso e o sol partiu junto com tudo que havia e o que restou era a noite que chegava mais uma vez silenciosa e silenciante. Todas as memórias se remexiam do espaço onde estavam, num rearranjo que parecia o balanço de alguma coisa que está pronta pra fechar as portas. Talvez seja como trancar um quarto, encerrando as aberturas e ativando todas as ignições que selam a entrada e as janelas. Tudo talvez se resume a medo e incerteza. Porque esse é aquele em que o sol desceu o céu e encerrou alguma coisa que eu não sei bem o que. No fundo eu continuo sendo o garoto que não sabe das coisas. Alguém perdido na busca por um ser que não é, que sob o edifício da auto-observação, numa instância metafórica, passou a buscar incessantemente a análise de seu eu que deixou de estar onde deveria, e por isso não há garoto para se tornar, porque estou atrasado, no meio daquele deserto de mim, da onde talvez nunca tenha saído. E eu queria que você soubesse que você foi um sonho no meio do pesadelo da minha vida. E que eu te agradeço por teres me feito feliz, como nunca.

20 de maio de 2009

As folhas sem vida desciam sobre minha cabeça leves como o vento. Uma a uma iam se perdendo pelo chão, e quando eu pecebi estava rodeado por todos os lados por pedaços do que já havia sido a árvore mais alta que conheci. Naquele dia eu pude notar que o que me faltava era o que mais me compunha. E é como quando se está na praia num dia de inverno e se pisa na água gelada e se sente o arrepio percorrer toda a sua pele, e o mar está revolto, e nem o chão, nem a areia, nem as estrelas nem concha alguma se pode ver olhando, porque a água está turva como o céu mais nublado da estação. Todas as minhas marcas, todos os meus traços, todas as cicatrizes que eu carrego ficaram expostas porque eu fui descoberto pelo vento que veio na hora precisa. E esse é aquele em que eu me despeço daquilo que habitava em mim e de quem eu achava que estava sendo, porque hoje enfrentei meu fantasma e quando me olhei no espelho pude vê-lo, por inteiro, à espera. E toda a luz que você me ofertou desintegrou as últimas correntes que me prendiam ao reflexo, e porque eu tenho certeza de onde vim agora. Eu queria que você soubesse que os bons nunca se rendem porque cada um de nós tem o dever de ser herói da própria história, e se eu aprendi alguma coisa contigo foi a de que nunca é tarde pra se ser quem realmente a gente é. Todo o meu respeito e minha admiração se transvestem em felicidade e radicalismo porque só a inversão mais apoteótica, singular e especial que a dialética pode ofertar explica o que eu sinto agora.

12 de maio de 2009

São todas as nuvens misturadas como todas as cores juntas. É como quando se olha pro alto e se vê aquele céu perfeito e não se acredita que aquela perfeição toda pode ser real. Perfeição dói como tudo aquilo que nos alcança lá no fundo, no que temos de mais frágil e sensível, porque é algo da ordem da intangibilidade, ou da não-concretude. Imagine uma sala escura, imagine a ausência de luz, imagine uma missão a ser cumprida -algo como definir cores- e agora lembre-se que você é cego. Existe sempre alguma coisa suspensa no ar. Há uma fragrância indefinida, uma sensação não nomeada, um sentimento dissolvido, uma pretensão solta. Todas as palavras não encontram correspondência e ordem porque por enquanto não existe coordenação do lado de dentro de mim. É o não-saber que opera de dentro pra fora sob o signo da mesma estrutura que se montava à espera do melhor momento, da melhor terra, pra melhor semente, que merece crescer como melhor árvore, e que vai fazer muitos anos de vida porque merece muitas faixas e balões coloridos e intensos porque tudo isso cheira felicidade. Os ponteiros dos relógios todos, por toda a parte, trazem uma mensagem solúvel e que lembra alguma coisa parecida com adstringência. As nuvens coloridas naquele céu poente tentavam traduzir a infertilidade dos meus esforços por tentar me fazer legendar. E esse é aquele que me diz que palavras são palavras e que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era.

3 de maio de 2009

Realidade e sonho se misturam de uma forma tão nova e intensa que eu me sinto apavorado pelo gigantismo que isso me traz. Eu me sinto como uma formiga frente a um imenso jardim de folhas verdes, prontas pro corte. E tem uma lua no céu agora. Existe alguma coisa que começou e que me deixa anestesiado, completamente confuso, e com medo, e com tudo aquilo de mais intenso que existe. Porque no fundo eu acho que isso não existe. Isso não pode ser real. Existe sempre alguma coisa suspensa e dessa vez a suspensão foi tão intensa que condensou, e se liquefazendo desceu. Em cada pedaço de cada canto da minha alma me sinto diferente. Eu não sou mais eu mesmo porque eu nao me reconheço mais, é como se tivessem reiniciado alguma coisa dentro de mim, meu passado esmorece, minhas lacunas se abreviam, minha tristeza mingua e eu me sinto invadido por aquele calor que me toca, que me atordoa porque eu nunca tinha podido sentir e eu pude. E eu queria que você soubesse que hoje, mais do que nunca, foi tão especial e tão singular que não consigo dizer mais nada. Só que eu sinto e isso é fantasticamente intenso. Obrigado.

2 de maio de 2009


Eu não poderia escrever mais nenhuma frase. Nenhuma palavra mais poderia ser dita por que eu mesmo não posso mais dizer. Se eu escrevesse mais alguma coisa tenho certeza que o elefante que está meio-escondido por debaixo do lençol ficaria à mostra, e eu não sei se isso seria bom. Hoje eu acordei olhando pra você de olhos fechados. Em verdade eu tenho acordado e ido dormir sempre assim. É como tentar esconder o sol, mais radiante e mais brilhante, por detrás das nuvens, mais claras, e transparentes e singelas. E existem tantas coisas suspensas que eu acho que essa suspenção já tá ficando palpável. E eu preciso parar por aqui por que eu não sei mais construir metáforas da espécie "coisas escancaradas-escondidas". E esse é aquele em que eu tenho medo, e inquietação, e não poderia mais estar escrevendo mas eu quero dizer que eu não lembrava mais o que era se sentir bem e eu estou me sentindo. Porque eu queria que você soubesse que um dia eu achei que acreditar nos sonhos era fazer a vida valer a pena. E eu acho que isso pode ser verdade mesmo.