13 de dezembro de 2010

Porque nada é absoluto. Milhares de folhas verdes escuras e claras se chocam lá fora com o vento incessante e gelado que transformou essa cidade em cinza em plena primavera quase verão. E hoje eu me sinto no outono quase inverno. Só que ao contrário. Minha pele em riste parece denunciar uma espécie de falta transmutada em amargura e dor que acaba por me levar a um choque interno intenso e íntimo. Dezenas de correntes me elevam a uma altura que nunca estive e orquestradas me soltam em direção ao chão que não é só meu destino mas sim meu túmulo mais supulcral e definitivo. Quando eu disse que te amava pela primeira vez eu experimentava todo o prazer único, exclusivo, intenso e inesquecível de se entregar pra alguém que se entrega pra você, e nossos corpos foram um só porque eu nunca havia sentido a vontade e o desejo e o amor carinhoso e permeável e intenso e bonito e valente e corajoso que eu senti por você. Eu só queria que esse outono quase inverno fosse aquele nosso verão do avesso perfeito e desenhado que havíamos nos prometido. Eu te desejo toda a liberdade do mundo porque teus olhos inocentes e reticentes e molhados e suaves são o retrato de um homem brilhante, único, singular e idealizado de forma potencializada pela dor de amor que eu sinto agora por você. Que essas rajadas geladas e sombrias lá fora consigam petrificar e pacificar tudo de mais especial que vivemos juntos dentro de mim.

20 de novembro de 2010

É como um pedaço pesado de gelo sendo destroçado por uma força motriz irresistível. É claro como a luz do sol que perpassa e atravessa todas as folhas da copa mais verde e mais alta da floresta. E tem uma espécie de textura que lembra a de um vegetal fresco e saboroso que há muito você não experimenta. E dá pra se dizer que nessas horas não há toque, nem entrelaço, nem corpo,  definição, sensação, movimento dual e sincrônico que sustente. Não deixa de ser uma questão envolvente, e doce. Um dia eu te disse que crescer dói. E eu tinha esquecido o quanto. Minha impotência me lembra que minha tristeza é raiva. E eu me recordo agora de tudo aquilo que eu queria que fosse diferente e não é. Você pode não saber, e assim como eu não sei, eu acho que esse nosso não-saber em conjunto pode nos ajudar a escolher o caminho que vamos percorrer juntos ou não. Porque nada é absoluto. E eu acho que não há definitividade nessas notas redigidas que você me orquestra ao balancear essas equações sonoras, sensoriais, e sedentas por recompensas, compensações e transações humanas que eu também me permito expectar. Eu queria te dizer que eu estou preparado pra. E que amar é uma questão de transcendência, rompimento, interconexão, sensibilidade humana e afetividade. E se assim o é, que sejamos como as serpentes enroscadas lentas, umas verdes outras escuras. Porque eu prefiro sempre a verdade mais sólida e sincera. E é isso que eu te entrego e que te peço: que sejamos umbilicalmente menos osso e mais verdade.

24 de outubro de 2010

Daria pra começar dizendo que é o calor da tua mão na minha. Ou então que é como o toque na tua pele, de seda, e o arrepio que eu sinto sempre quando eu te toco e você me toca. Também dá pra dizer que é como aquele calor que eu sinto do lado esquerdo do peito quando eu caminho por dentro do escuro e dos feixes e da música e dos beijos e dos corpos e da bebida e do agito e lá meio-escondido estão nossos dedos entrelaçados. E assim como quando meus braços envolvem os teus braços e eu sinto teu abraço no meu abraço é como quando a gente se olha meio parados no tempo e é como se alguém tivesse congelado o relógio que continua girando sem o tempo passar pra gente. E eu digo que o tempo passa e o relógio fica congelado porque às vezes é como se fosse muito mais tempo do que já foi ao mesmo tempo em que a barriga ainda fica gelada, e os arrepios e o sabor e o medo e a delícia e  asensação é a de se estar conhecendo, descobrindo, desnudando. Eu queria que você soubesse que quando a gente está perto eu sou mais do que eu poderia ser sozinho. Que ainda tem uma soma incompleta entre a gente e é a busca por esse produto que faz da nossa multiplicação algo tão mais que o que poderia ter de matemático numa metáfora barata como essa. Por isso, eu te desejo muitos arrepios inteiros, e sorrisos intensos e vontades realizadas porque aquilo que você entrega me faz alguém que desenha sonhos no mundo e que distribui amor de um jeito que eu nunca achei que ia poder repartir. Todos os pedaços dessa conta são parcelas de uma fatoração que só você soube operar e é por conseguires equacionar essas variáveis que eu tomo a liberdade e o prazer de te dizer que você é majestoso e real.

28 de setembro de 2010

Eu queria começar te dizendo que eu escrevo por eu quero te mostrar o que eu sinto. Queria te dizer que meu quarto é pequeno mesmo, que tem muitas poucas coisas soltas e aleatórias e que meus livros estão empilhados porque não tem muito espaço sobrando por aqui. E apesar desse aperto todo, eu mesmo me repartiria em mil pedaços pra poder te acolher aqui dentro. Eu nunca vou chegar a ser aquilo que você espera que eu seja, porque eu nunca vou chegar perto de ser você, e eu quero me desculpar por isso. E esse pedido formal de perdão é porque eu sou assim, imperfeito, interrompido, segmentado, e talvez eu nunca tenha conseguido superar isso de forma total e plena e irrestrita. Quero te pedir desculpas também por eu não poder ser tudo aquilo que você merece e também por não ter tudo que você precisa, mas eu não posso alterar algumas coisas que não dependem do exercício das minhas mãos e da minha força. Eu queria que você soubesse que o que eu sinto por ti é algo da ordem daquilo que não se mensura e não se qualifica e que tenho sido repetitivo porque é inconcebível elaborar enunciados que deem conta da tua imensidão e da vastidão da tua presença em mim. Quero consignar ainda que você tem liberdade ampla, segura e imediata pra abordar qualquer coisa comigo, mesmo que isso signifique alguma coisa que você tenha medo de pensar. Eu quero colocar todas as palavras encaixadas, e deixar nossa história sempre completa escrita e clara. E eu queria que você soubesse que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era. Meu desejo mais profunda é tua total e completa felicidade, e eu estou me colocando a disposição pra que possas sempre se sentir assim, completo. E se isso significar que eu, quem sabe, tenha que deixar de ser parte daquela dupla celeste que reparte uma coroa cintilantemente estelar e única, eu não me importo, porque não há limites pra te amar. E se essa for a taxa da felicidade, não me recusarei a honrá-la, porque quem sabe eu seja daquele tipo de plebeu que nunca tenha que vir a ser rei.

12 de setembro de 2010


É como se você tivesse desnudado todas as minhas fantasias, devassado todos os meus sonhos, invadido todos os meus asilos, violado todos os meus segredos. Meu consentimento é tão teu que já não o elaboro como propriedade individual. Eu sou repartido de uma forma dupla e compartilhada que me amedronta pela integridade, amplitude e forma implacável com que é feita. O que eu nutro por você é tão absurdamente claro e lúcido que o tempo só tem determinado uma acuidade visual ainda mais perfeita e precisa, não existem mais borrões, névoas ou incertezas. Minha definitividade nunca foi tão confortante e harmoniosa. E me descobrir par, dessa forma pura e inocente, me traz uma leveza e uma felicidade que, até então acostumado com o inverso, não sei lidar bem. Sinto nas veias e na pele e na alma o vento gelado e singular de uma praia vazia e ensolarada de inverno que só a gente pode visitar. Tua presença me concede vontades inéditas, valentismos juvenis, coragens que eu não sabia deter, dotado da capacidade de sentir, você me leva a experimentar e viver o mundo de uma forma tão integral e intensa que já não há mais margem pro medo do desconhecido, eu me sinto possuido pelo desejo de viver sem freios, espelhos e ameaças. O receio que persiste é o de eu, talvez, ainda me sentir ínfimo e inglório frente a imensidão da tua presença e do teu ser. Desaprendi a escrever porque não sei explicar minha completa e consciente e total entrega absoluta a você. E prefiro assim, antes o amor que as letras.

23 de agosto de 2010

Um raio de luz atravessou todos os vidros opacos e cinzentos e escuros e sujos e borrados e penetrou por todas as barreiras e encontrou um espelho. O espelho acordou com aquele choque de fótons incandescentes e rápidos e dourados e brilhantes e em fulgor e então refletiu como que automaticamente para todos os lados daquele cômodo fechado e enclausurado e hermeticamente isolado desde sempre. As paredes sombrias e enegrecidas pelo vazio e pela ausência de claridade passaram como que num passe de mágica a se desmanchar como que fumaça ao vento e então os vidros e as janelas, inteiras, foram desabando ao chão como papel picado no ar, e o espelho atingido pelo raio via a intesidade da força da luz aumentar e então o que era um raio passara a ser um feixe e o feixe se fez turbilhão e tudo passava a ser plástico e plasmado e fluido e já não havia mais espelho nem origem da luz porque tudo era claridade e calor e intensidade e força e carinho. E então ele acordou e sentiu que continuava sonhando, tomando consciência da realidade ele percebeu que o raio de luz era corpóreo e ele, o espelho, carne, e que havia alguma coisa presente, e não ausente, suspensa ao seu redor e que tinha laços, invisíveis, que o enredavam por completo, e essa rede intangível lhe dava a sensação de conexão mais libertária que ele já havia sentido. De dentro do seu coração partiam pulsões vívas e vívidas e vibrantes que percorriam todas as linhas imaginárias e acabavam por desaguar na foz de um outro coração ainda mais quente e nobre e vermelho que batia como que num ritmo celestial e que lhe devolvia a energia numa ciranda elíptica e eletrônica que era inintelegível, e assim, num movimento incessante e avassalador de luz e amor e dourado ele já não era mais matéria nem energia nem calor e só havia som e amor e tudo era uma essência disforme e densa que condensava e em espiral descia para habitar o formato recortado e solene e sofisticado de uma coroa destinada a tornar majestade um rei.

18 de agosto de 2010

Eu queria te dizer que tem que ter paixão. É como quando você descobre que sabe fazer alguma coisa bem, e que aquilo te realiza, e então você não para mais de ter vontade de repetir e de se aperfeiçoar. Eu queria te dizer pra você não ter medo nenhum, porque quando a gente ama de verdade não existe nada que pode nos atingir. O amor é uma espécie de escudo-vacina, uma proteção mágica que te encanta e te percorre e te envolve de um jeito que você se torna invencível. Só que ser implacável não basta, existe alguma coisa ainda mais secreta e essencial pra ser entendida e descoberta. Eu queria que você soubesse que eu acho que descubro você todo dia. E esse sentimento de conquista e desbravamento é uma das melhores experiências que qualquer um pode ter, porque a felicidade de encontrar todo dia um tesouro é algo da ordem daquilo que não se denomina. Eu queria acrescentar ainda que todas as minhas palavras ausentes são tuas, e que como eu não posso ir ao céu buscar a estrela mais cintilante e bonita pra te presentear, eu espero que você aceite a minha coroa simbólica, feita de letras e frases e poesia e cravejada de amor.

11 de julho de 2010


Eram centenas e rasgavam o céu como fogo em seda. Eram trilhões e pulverizavam tudo como ácido na pele. Eram dezenas de ondas multiformáticas e densas que irrompiam do céu acima e desciam em cascata como se numa cachoeira de insanidades. Loucura verde que esganava a verdade que não resistia e lhe escorria pelas mãos como sabonete molhado. E tinha alguma coisa parecida com aquela fruta desgostosa e mal-cheirando que inunda a geladeira, daquelas que não se limpam com a frequência que deveriam. Incontáveis segundos o repartiam em mil porque já não há mais passado no presente e aquilo que restou é tão condecorativo que as medalhas e homenagens de sobrevivência recebidas lhe conferiam um caráter rebuscadamente intrigante. Com a pretensão de quem parece apurar em si o que há de interessante, ele, sentado sobre quatro cadeiras brancas encaixadas sentia o deixar-se tomar por aquele tipo de domínio animal e primitivo e doentio de quem se entrega ao mal que nem sempre nós mesmos criamos; porque não somos ímpares. Eu pelo menos tenho certeza que não. E tinha uns infinitos pedaços de nuvens naquele céu que entardecia e eternizava como um traço no coração dele agora.

30 de junho de 2010


Não há vida sem amor. Eu nunca escrevo pra mim mesmo. Eu sempre escrevo por mim, pra alguém, por algum motivo, à força pelo meu sentimento que aflora, e desflora, e reverbera revigorando-me. Eu escrevo porque quando eu transformo o céu em recorte eu descanso, relaxo, liberto, desenclausuro, emolduro no espaço branco vazio a pintura bricolada de letras, acentos ausentes, concordâncias disjuntas. Quando eu escrevo há concórdia, há realização e há paz. Eu escrevo porque as palavras são como presentes: misteriosas, empacotadas, multiformáticas, transitórias, suspensivas, elegantemente singulares e únicas.Tem uma nuvem em forma de avalanche que nunca me sai da memória. Lembro que era quente e verão e seco e não havia vento mas o céu parecia em redemoinho. Por todos os lados do vale gigantes nuvens performáticas escorriam pela atmosfera acima da borda em um movimento descordenado e belo. Naquela tarde eu senti que o céu ia cobrir todos, e tudo, e então tudo seria névoa e cinza e branco e trovão. Não foi. Era só chuva. E eu queria que você soubesse que eu estou me desfazendo, em tua companhia, da fragilidade, da instabilidade, do t(r)emor, das paredes com frestas e do chão sem pregos e dos pilares encaixados e do telhado sem estrutura, eu estou mandando pelos ares as pedras sem cimento, o piso sem cobertura, o verde sem raízes, cada pedaço de mim sem chão e ferro. Eram dezenas de tornados e ciclones e vendavais lá fora mas eu me segurei nas barras geladas de metal e não soltei até que tudo voasse, e desabasse e viesse à terra novamente. E quando eu abri os olhos não havia mais nada intacto, mais nada passado, mais nada cansado, velho, repetitivo ou capenga, meu corpo e minha alma estavam revigorados porque do meio dos escombros eu podia visumbrar que havia um mundo inteiro a ser reconstruido ao meu entorno. E ao redor de mim e por todos os lados descia aquela luz amarelada e reconfortante de um fim de tarde de um dia diferente que levou consigo a tempestade e a calmaria e me trouxe o inédito de quem só consegue se acreditar que pode. Eu acredito que eu posso e eu sinto tudo isso desde que, enquanto e depois de. Aquela avalanche do céu de verão me fez lembrar nessa noite de inverno que eu sempre fui aquele menino com a força pra resistir e lembrar e seduzir e revoltar e volver com a elegância e o charme e a esperança de um plebeu destinado a ser rei.

14 de junho de 2010

É como uma fome plástica e plasmada e disforme. É um desejo dissolvido, dissociado, recortado e granulado em milhares de pequenas partículas invisíveis. Lembra uma tempestade de areia inversa, um ciclone de pétalas aladas, um tornado de luz performático. Também pode ser que faça você recordar de uma coceira insanável, de um formigamento autônomo e insubordinado, uma cãibra dentro do mar antes daquele mergulho perfeito daquela onde mais linda e reverberante e colorida e nítida e gostosa. E quem sabe não passe de uma incongruência sensível da qualidade humana perfeita de sentir ou mesmo de uma instabilidade adjunta da própria constituição que nos compõe. Queria poder tecer construindo sob o fundamento do azul celeste um prelúdio poético e pessoal adornado de nuvens mas não posso. Meu céu anda cruzado e tingido e misturado por infinitas intersecções múltiplas e aleatoriamente destinadas. Como se a sorte surpreendente tivesse se encarregado de ilustrar e compor tudo sem precisar de nenhuma ajuda. E todas as luzes de todos os postes e todas as sombras e todos os brilhos e flashes das noites geladas e frias e chuvosas não me fazem esquecer. É como se o próprio outono que agora termina tivesse congelado dentro de mim um tempo novo e quente e paradoxal que me causa arrepios de choques térmicos com a realidade. E tem um leão que é rei que acabou incorporando uma responsabilidade não pretendida. Ser ator não significa ter que arcar com o espetáculo sozinho, o protagonismo exige sempre, em última instância, a superação de si mesmo frente ao espetáculo, platéia e palco são portanto solidários pelo sucesso da apresentação. Não há univocidade. E tem dois traços no céu desse fim de tarde aquarelado. Como se rei e súdito. Príncipe e servo. Leão e coelho. Imaginação e sentimento. Letra e voz. Se interconectassem, se fusionassem, se amalgamassem num arranjo celeste leve lúcido-translúcido cristalino iônico válido e musical secretamente solubilizado em amor.

30 de maio de 2010

Eu confesso porque eu nunca soube contar. Minha vida toda é um sequencial de confissões de toda ordem e te toda sorte que eu acabei colocando mais ou menos em desordem. E hoje eu queria deixar consignado aqui que você é a última e a mais intensa de todas as minhas confissões até agora. O ato de discorrer sobre aquilo que me embebe e me extravasa é uma tentativa juvenil de te deixar marcado de alguma forma nesse esboço virtual que eu concebi um dia. Hoje eu me sinto o garoto que eu me tornei porque você junto comigo conseguiu efetivar todos os desejos e os anseios de uma juventude toda represada. E eu tenho vontade de te agradecer a todo momento porque se não fosse você e aquele número de telefone trocado na chuva daquele abril esse esboço talvez ainda fosse aquela quotidiana e insana repetição triste do mesmo. Por você estar perto eu consegui fazer com que a troca fosse completa e por isso só uma intersecção ofertada e aceita nos encerra. E na tarde de hoje, lá perto da cachoeira do menino deus, eu senti uma ponta daquilo que a gente se disse entre aspas. Não que eu não ache que estamos completamente certos ao sermos cautelosos, no entanto, parece que a marcha do destino é meio obstinada e certeira e veloz e ela nos leva no sentido daquilo que talvez mais temamos ter que um dia dizer um ao outro, num relato reflexo perfeito e exato de um sentimento que brota, e que um dia talvez germine e frutifique e mude até talvez tudo aquilo que você sempre achou sobre isso. E esse sentimento que você talvez um dia venha a sentir é tão paradoxalmente abundante em minha história que quem sabe esse é o ponto simétrico dos nossos conjuntos de elementos que agora se cruzam e se unem e se mantém divididos ao mesmo tempo. Quem sabe só uma grande fórmula-função-matemática consiga dar conta de entender essa loucura toda que a gente é junto, porque separados já éramos. E eu só queria pedir aqui nesse pedaço e nessa linha que você acredite, porque se você o fizer tudo aquilo que você quiser vai ser e um dia eu disse e eu tenho certeza que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era. Eu ∩ Você.

27 de abril de 2010



Eu estou entregando as chaves hoje. A chuva acabou lá fora mas o que ela trouxe dos céus parece estar cada vez mais sólido e próximo do que deveria. Eu estou abrindo os cadeados, todos, e escancarando as janelas, tem umas trancas emperradas também, cujas chaves eu perdi, que eu estou destruindo com martelos. Estou desconectando todos os alarmes também, as cercas eletrificadas, as armadilhas, os chãos falsos e todos os mecanismos de defesa e proteção. Eu estou limpando as calhas também, quero que o vento fresco passe por elas junto com a água da próxima chuva. Eu já coloquei aquele guarda-chuva pra secar, lavei os lençóis, troquei os cobertores e coloquei os travesseiros no sol. Já não há mais nada envolto no escuro e em trevas. Cada centímetro agora parece estar envolto e embebido e encharcado em luz e claridade e leveza. Desde que você chegou no portão, lá fora, há segundo atrás, todo esse processo se desencadeou sozinho e não há nada que eu possa fazer pra refreá-lo, nem eu consigo me frear, parece uma marcha insandecidamente obstinada a cumprir com um propósito inadiável e improcrastinável. Por favor siga em frente, caminhe pelo jardim, continua seguindo em direção à entrada, pegue as chaves na mão, coordene os seus movimento com a fechadura, pegue firma na maçaneta e abra esse portal que sempre esteve à tua espera. Por favor, entre, olhe pros lados, sinta o perfume, escute a música, sinta a poesia escrita nas paredes, tatuada no teto, fixada nos vidros. Por favor, chame por mim, diga meu nome, exteriorize teus desejos, venha ao meu encontro. Por favor, acalma minha alma acesa e alva que agora alicerça a manhã que você desvela. Por favor, irrompe pela escada a cima e olha pro espelho do tempo emoldurado no fim do corredor porque ele guarda um segredo. Por favor, sussura e me encanta, porque eu nunca ouvi uma voz tal qual como a tua. Por favor, não fique parado nem tenha medo ou receio ou não deixe que nada te impeça. A partir de agora eu não me responsabilizo mais por essa casa sozinho, está tudo aberto, transparente, translúcido, cristalino, e eu não sei mais dizer nada, nem elaborar, nem descrever, nem escrever. Nada mais importa porque agora eu tenho você e você me tem. Com a benção de Caio F. Que assim seja.

25 de abril de 2010

É um recorte do céu de um dia de abril em que eu estava a caminho de casa. Tem duas nuvens diferentes que cruzam o céu e elas tem uma dimensão desconhecida. Eu tinha saído pra ajudar alguém que não queria mais ficar sozinha porque não queria mais sentir. E naquele dia eu acho que eu devo ter saído por alguma outra razão que transcende isso. Eu estou tentando encaixar, colar, engrenar, coordenar, juntas em pedaços. É como um quebra-cabeça novo e desconhecido, e imenso, e gigante, e amplo, e que dá muita vontade de resolver, solucionar, acabar, unir, terminar, e contemplar longamente pra se colocar na parede, numa moldura fina, e deixar lá, pra sempre. E aquele céu tinha duas nuvens a caminho. Uma delas escura, fragmentada, outra densa, iluminada, e elas compunham um arranjo inédito. Eu não queria que nada disso fosse repetido, e não é. São tantas palavras velhas que não cabem mais nessa esboço adolescente e juvenil de tentar traduzir um sentir tão confuso quanto convulso. Eu queria que toda madrugada fosse chuvosa se ela trouxesse uma gravata-borboleta com um presente em forma de esfera coberto por chocolate e recheado de avelã. Eu pensei em relacionar com espelho, e desisti porque não consigo apreender a imagem ou captar as formas de um ângulo imparcial. Você me ceifa a imparcialidade. O som, a sensação, aquele dedo-no-dedo, e aquela multidão em movimento desconexa pulsando e pulando e ebulindo por todos os lados e aquela sensação de encontro e triunfo e proteção e carinho e independência e liberdade de andar pelo meio da turba em fluxo e saber que você tem direção, vetor, sentido, copiloto na curva doce que você me faz sentir. E ainda tem alguma coisa da ordem de um sorriso que perpassa e pergola e penetra e atinge uma estrutura que eu não sabia existir ou ignorava a existência. Sem falar na amplitude de um presente apoteótico e sem sentido que você entrega e remete naquele jeito bom e lindo de existir. E me falta bagagem agora pra tentar elaborar alguma coisa que não soe repetente e igual a tudo que existe por aí. E existe uma lacuna, por fim, nesse fim, porque eu sinto que isso pode ser que venha a ser bem mais do que umas simples linhas rabiscadas no domingo chuvoso e gelado e cinza e mais bonito que eu já pude sentir e viver. E eu queria ter um guarda-chuva agora porque eu queria proteger você enquanto você dança na chuva; comigo.

28 de março de 2010


You. É pra começar te dizendo que você mudou a minha vida e eu acho que essa vai ser uma grande confissão. Desde o primeiro dia, da primeira conversa e da primeira madrugada, desde a primeira ligação e dos primeiros segredos divididos eu sempre suspeitei de mim mesmo por estar acreditando que você podia ser real. E o que mais me assusta é o quanto eu estou assustado por gostar de você. Porque sozinho a gente fantasia muito, e eu tenho muitos problemas com solidão e sonhos, e eu sempre achava que talvez tudo não ia passar, como quase tudo na minha vida, de um grande mal entendido e que você ia dizer que era só mais um grande amigo ou então ia chegar um dia pra mim dizendo que estava muito a fim de alguém ou apaixonado por alguma pessoa que não seria que eu esperaria que fosse, como sempre acontece comigo. E aí tem uma espécie de segredo que eu ainda não consegui desvendar, porque eu estou há alguns meses trabalhando no mistério que é você, na tua complexidade implacável, na tua postura de hombridade e doçura, tua forma leve e compromissada de encarar o mundo e a tua assistência irrestrita com que você nutre algum tipo de sentimento bom. Eu acho que você é muito surreal porque eu nunca tinha ouvido uma voz tão linda, e encantadora, e bonita, e eu fiquei sorrindo sem saber o porquê durante dias depois que eu a ouvi pela segunda vez. Teve um dia também, e eu sou imensamente grato por isso, que eu acordei lá naquele lugar onde o vento faz a curva, e você tinha mandado um sinal doce e matinal de vida e você não tem idéia do quão especial e do quão importante foi ter você por perto quando eu mais precisei. Pode ser que isso seja só efeito desse meu jeito romântico e escancarado de colocar as coisas pra fora porque você já deve ter percebido que eu não sou daquelas pessoas que escondem tudo pra sempre. Eu queria te dizer que você é muito especial e que eu estou de quaresma por tua causa e que depois que você apareceu no meu caminho eu experimento uma espécie de tranquilidade e calma que eu nunca tinha conseguido sentir, e por mais que essa tenha sido uma batalha minha eu só tenho conseguido triunfar por tua causa, e é por você que eu escrevi essa confissão porque só você tem me dado vontade de dizer pro mundo o que eu estou sentindo, e isso não acontece assim há tempos, e eu não vou retirar nunca nada disso do que está posto e escrito porque você merece tudo de mais especial e lindo e feliz porque você é fabuloso, e eu te espero o tempo que eu tiver que esperar porque desde que eu te li pela primeira vez eu achei, e depois tive certeza,  que igual a você não há.

13 de março de 2010




Era pra começar com um castelo, algo como que um príncipe, e uma princesa, e uma cerimônia real farta e luxuosa mas não vai passar da menção. Tem alguma coisa a ver com individualidade, uma espécie de sentir que desafia você todo dia naquela atividade uma vez sugerida, e sempre cumprida, de nomear tudo num ritmo frenético e de não racionalizar as coisas ao mesmo tempo. Hoje eu me senti sozinho. Às vezes me sinto na verdade. E eu acho que pode ser que a gente se vicie em se machucar, solidão pra mim dói como agressão, e me parece uma resolução não-voluntária, a qual sempre acaba com você no médico, na farmácia, no telefone, ou no computador escrevendo e-mails que jamais deveriam ter sido enviados. Nada me faz crer que não existe sempre alguma coisa ausente e eu acho que amar é uma doença, tipo síndrome sem cura. Naquele dia o céu estava azul porém não limpo, e apesar daquelas nuvens todas tinha alguma coisa muito fora do lugar ali, eu sinto que é como quando você abre alguma coisa, um presente por exemplo, e não encontra aquilo que esperava. E pesa dentro porque você não consegue se disciplinar ao ponto de esquecer essa droga de expectativa que algum dia alguém te vendeu como ter esperança e você guardou e não aprender a jogar fora e agora ela se enraizou em você e sempre te faz esperar por aquilo que você deseja - e é só. Eu não queria ter expectativas porque eu não sei lidar com frustrações. E eu ainda acho que amor a gente tem vontade de entregar porque mesmo que seja algo do campo do contagioso dá muita vontade de dividir com alguém  aquilo que transborda de dentro de você e te faz sentir bem por alguns instantes. E esse é aquele em que eu confesso que sempre sonhei em ser príncipe mas acabei sendo, só e apenas e sempre, fadado a amigo deles.

15 de fevereiro de 2010

 

Eu queria deixar dito que apesar desse céu parecer meio misturado e entardecido, que chove lá fora agora. Eu demorei bastante tempo pra conseguir digerir o que estava escrito naquelas ondas, sempre esteve escancarado nas linhas brancas da espuma aquelas coisas que eu precisava fazer pra poder sair da chuva, e eu sempre fingia que não sabia ler, que não entendia nada. Hoje tem uns pingos gelado caindo do céu e eu acho que eles acabaram me fazendo ler de novo, eu cansei de fingir que não sei ler, eu cansei de tentar ficar na água, porque eu não posso mais ficar molhado. E existe sempre alguma coisa suspensa, e é como quando você precisa sair da água, e tá frio lá fora, porque já é fim de tarde e o sol já não aquece nem seca mais quem ousou mergulhar, e você ficou tempo demais submerso, está todo enrugado, e com fome, e agora é chegada a hora de sentir o vento gelado e a brisa intensa daquela praia preferida que foi teu refúgio por um longo tempo mas que não pode ser pra sempre. E eu acho que eu sou todas aquelas ondas contra as quais lutei,e eu queria que você soubesse que aquele dia eu não entrei na água porque eu precisava começar aquele caminho longe de ti que hoje me liberta. E mesmo que algum dia você venha a saber; ou não, eu sei que como eu não há.

16 de janeiro de 2010




Eu tinha seis anos e estava na porta da escola e a aula já tinha terminado, todos os meus colegas tinham ido embora e já não havia mais quase ninguém perto de mim e eu achei que tinham me esquecido e fui tomado por um medo que acho estranho, logo eu que lido tão mal com a memória, que eu me recordo até hoje e eu lembro que eu corri e pedi ajuda pra um senhor de chapéu e disse que ninguém tinha vindo me  buscar e pedi se por favor ele não sabia onde eu morava porque talvez ele soubesse e me conhecesse e pudesse me deixar em casa. Hoje eu não tenho mais seis anos e volta e meio sinto uma sensação muito parecida, só que não é mais aquele leve atraso de um pai indo buscar um filho na porta da escola.  É meio como que esperar alguém vir te buscar porque você não sabe pra onde seguir porque não há caminho, e você também não tem mais pra onde voltar direito porque você precisa construir algum lugar que seja teu. E eu acho que também é como uma espera inacabada e intermitente pela chegada de alguém que vem te levar pra algum lugar seguro e confortável e onde você se sinta bem e protegido porque parece que apesar de você ter crescido o mundo aqui fora não ficou melhor e você ainda se sente com medo, e é difícil não ter mais a certeza de que o teu pai vai estar no portão a hora que você sair. E acontece que não tem mais também nenhum homem alto de chapéu de palha pra te levar pra casa. E apesar de saber que não existe, acho que eu sou daqueles que acredita que existe um lugar melhor onde alguém vai te levar um dia e você vai se sentir protegido. E a sensação é que essa fantasia é uma mentira inventada pra mascarar a verdade de que nunca ninguém virá te buscar e te levar porque aquele dia na escola fui eu quem precisei pedir ajuda e me deixaram em casa porque sabiam onde eu morava e na verdade até tinham ido me buscar mas tinham chegado muito atrasados e fui eu quem não conseguiu mais esperar pelo medo de ficar sozinho e perdido num lugar longe de casa e sem saber por onde voltar. Hoje eu diria que é como se as únicas diferenças fossem as de que eu não tenho mais aquela idade e que meu pai não está mais a caminho porque pra onde eu quero ir ele não sabe como chegar nem pode me levar. Pra chegar lá tenho que ir sozinho.

4 de janeiro de 2010




Resumindo são mais do que algumas simples considerações.  É mais ou menos como um fim de tarde desses de céu rosado, e com uma estrela brilhante e única que eu pude assistir esses dias lá longe naquelelugar fechado e fundo e vazio. E até lá tem desses fins de dia pra se ver. Eu acho que eu fiquei tempo demais me escondendo nas tuas sobras, me alimentando daqueles poucos pedaços de tudo que você deixava cair, de algumas migalhas que escorregavam do teu prato cheio de comida. Eu cansei de ser espectro, fantasma, assistente, coadjuvante. E vem sempre aquela sensação de frio da realidade,  de medo do choque, todas aquelas borboletas vivas e coloridas que forram meu estômago de vez enquando. Acho que eu estou escrevendo isso hoje porque ando meio tomado pelo silêncio e pelo cansaço, pela calma, do esgotamento e uma espécie não-ruim de penúmbra, me sinto livre e preso numa atmosfera meio escura meio clara que nunca me foi simpática. E em verdade acho que você ainda é uma das únicas, poucas e últimas coisas que ainda consegue despertar meus demônios, fazer falar os dragões, desnudar minhas fraquezas mais gritantes,  quase só você consegue me dar aquele ímpeto efêmero de me fazer traduzir pelas letras que eu costumo depositar aqui, nesse esboço patético do eterno adolescente que eu ainda custo a acreditar às vezes que eu me tornei.


13 de dezembro de 2009



Era mais ou menos como esse dia nascendo. Só que mais especial. Tinha a intensidade desse sol que manda embora aquela treva sem fim e repetente. Tinha uma fragrância escondida como esse ar fresco e gelado do amanhecer. E teve um momento que eu achei que não podia ser. Que todas as imagens, as sensações e os toques eram de mentira, alucinações da minha fantasiosa e irriquieta mente. Não eram. Irrompiam pelo espaço todo as músicas mais intensas e a magia não cessava. Era uma espécie de encanto consentido, sincronia perfeita, sintonia fina, equação completamente equilibrada. E eu equilibrei aquele corpo algumas vezes porque parecia que a gente era par. Logo eu que sempre achei que era ímpar. E o canto dos pássaros aqui na janela me impede de fechar os olhos e sonhar. Aquele medo derradeiro de adormecer e acordar encarando que tudo não possa ter passado de sonho é algo incrustado, arraigado, que me pergola intermitente. Só que hoje parece que o medo se esvaiu, partiu, seguiu rumo pra algum lugar que não me habita. Minha denúncia é minha face e nunca me senti tão orgulhoso por ser incriminado. Eu acho que quando a gente se entrega tem uma espécie de liberdade única, é um exercício de coragem, respeito e prazer, tudo amalgamado e imbricado junto. É algo da ordem do inenarrável, do indescritível e do inominável. Não foi só macio, e agora um sorriso me esboça a face, foi gostoso, pra caralho. A mágica do poeta gaúcho não me deixa esquecer que os figos são flores que abrem pra dentro.Só posso afirmar que foi lindo e que ele tem razão, em tudo e sobre as flores, principalmente.

11 de dezembro de 2009


FODA-SE VOCÊ. FODAM-SE AS BOCAS MACIAS. ODEIO SOFRER POR VOCÊ. VAI EMBORA. EU NÂO AGUENTO MAIS TE AMAR E TE QUERER S. F. D. P.