9 de julho de 2012

Amar é isso. É não sentir limites pra mais nada. É correr as lágrimas sempre presas. É permitir vida onde só havia morte. É uma espécie de liberdade sem fim. É como se você deixasse para trás todas as máscaras as sombras e os medos que te encarceravam. Amar é ficar nu. Irrevogavelmente translúcido. Transparente numa espécie de vulnerabilidade consentida. Eu queria que você soubesse que eu te amo. E que isso faz de mim uma pessoa incrivelmente melhor. Você me devolveu a vontade de viver. Você me concedeu poderes que eu nunca tive. E hoje eu me realizo com o simples fato de pensar na tua existência. É uma espécie de lucidez extremada indefinível. E me faltam palavras, agora, pra descrever a imensidão do que me fazes sentir. A grandeza que você me provoca. A apoteótica e celestial febre de sentimentos que me acomete quando estou contigo. Você é minha paz. Meu espírito. Meu refúgio. O caminho por onde a ponta do dedo aponta o futuro. Você é a felicidade empenhada no grito. E eu vou lutar, incansável e ardorosamente por ti. Não vou largar da tua mão, porque eu preciso de você ao meu lado. Espero poder te realizar como você me realiza. Eu quero que você saiba que há meses todos os meus sorrisos meus sonhos e minhas esperanças são teus. E não há nada que me furte, neste instante, a te afirmar que eu sou teu. Obrigado por existir. Te agradeço por cada segundo de cada dia, por cada letra de cada linha; e por teres tido a coragem, nobre e honrosa, de lutar por ti mesmo, por mim, e por nós. Confesso, por derradeiro, que tenho um desejo, último: conseguir, algum dia, de forma absoluta, te fazer ter certeza de que nós sempre vamos ter valido às penas, todas. Eu queria que você soubesse que eu nunca vou te esquecer, e que a partir de hoje você faz, de modo inexorável, parte de mim. Para todo o sempre. 

21 de junho de 2012

Eu preciso que você fique. Eu preciso que você escolha permanecer porque eu gosto de você. E gostar, pra mim, significa agir. Ninguém que efetivamente gosta fica em abstrato. Gostar é imprimir, em atitudes e gestos, ações e iniciativas, tudo aquilo que você mais quer entregar ao outro. E eu quero te dizer que eu estou me entregando. Que eu estou me lançando. E que me coloco, deliberadamente e em caráter irrevogável, à tua disposição. Eu quero que você fique porque eu preciso de você. Preciso que você acredite em nós. E mim. E em ti mesmo. Acreditar significa, em alguma instância, que ambos precisamos nos vencer. Eu desejo, sinceramente, que você consiga elaborar todas essas coisas inéditas e inesquecíveis que vem acontecendo contigo. E que você tenha toda a coragem e a ética necessárias pra viver aquelas perguntas todas, que desafiam, a cada instante, os teus limites. Eu gosto de ti porque você conseguiu mexer comigo. Porque você me despertou. Eu preciso que você me escolha, assim como eu te escolhi, porque só quando a gente faz as coisas de coração é que a gente consegue chegar mais perto daqueles respostas. Então vem comigo. Eu queria que você tivesse certeza que dá pra vencer todos esses limites e esses medos e chegar do outro lado da piscina a salvo. Eu prometo te ajudar onde não der pé. Mas pra isso eu preciso que você largue da borda, que você procure nadar mesmo que os outros estejam olhando, e aí, sem perceber, quando você se der conta, estarás inteiro, terás chegado lá, e todos estarão orgulhosos de ti. Fica comigo porque eu gosto muito de você. E eu preciso, corajosamente e por inteiro, de ti.  Era pra ser segredo, mas eu confesso: já não quero mais me imaginar sem você comigo.

27 de abril de 2012

Vinte e três de abril e lá se vão dois anos. Eu sei que você não se recorda mais de mim na intensidade com que talvez eu me lembre de ti. Que eu fui só mais um dentro os outros todos. E que felicidade é mais simples do que se pensa. E eu queria te dizer que eu sei disso tudo. E a despeito de sabê-lo, ainda guardo, no fundo de mim, um baú cheio daquele amor que te empenhei. Confesso que venho tentando, apesar dos votos de eternidade, com cada vez mais afinco, quebrar o cadeado com que guardei minhas reservas de amor, mas não tenho tido êxito. Dia desses me propus a atravessar madrugadas em busca da chave. Atravessei estrelas, ventos, ondas. Na semana seguinte, me permiti colher desejos, toques, sinos, sonhos, fui par da juventude que não envelhece nunca. E apesar de todos os meus respeitos e minhas buscas, não encontrei a referida chave. Tenho pensado que talvez me reste uma chance, última. Se ela está perdida para sempre, quem sabe seja a hora de confeccionar uma chave-mestra. Que possua o segredo da trava. Que consiga escancarar o fecho, desenlaçar o bloqueio, libertar o tesouro que guardo no fundo de mim. E quem sabe eu não precise de ajuda alguma, como você bem tentou me dizer. Estou a caminho do encontro com o chaveiro que vai me acompanhar nesse trabalho, último, de acesso ao agora homem que me tornei.

26 de março de 2012


Quando era pequeno beijei uma menina escondido no pátio de meus vizinhos, e fui flagrado. Meus cabelos são incontinentes em sua rebeldia. Não há corte, penteado ou jeito que os amanse, parecem com as nuvens dos céus que eu sempre procurei perscrutar: indomáveis, insanas, incessantes, incontroláveis. Quem sabe tudo não tenha começado naquela advertência no jardim. E hoje se desenrola nesse homem que não se encaixa. Que entende que não é simétrico o suficiente, que não possui os dotes que deveria, e que, aprisionado em suas formas carnais, não encontra amparo nas aprovações que tenta construir para si. Aquela menina do beijo hoje parece à minha frente, realizada por escolhas e conjeturas, está emoldurada em caminho semelhante ao meu mas diametralmente oposto. Àquela época, com candura, fui presenteado por ela com um microfone, rosa. Acho que eu fazia 5 ou 7. E essa é a primeira vez que uso números por aqui. Tamanha é minha congestão mental deles. Estou tomado por algorítimos que me cobram, exigem, que me prensão em uma parede que não é táctil. É da ordem daqueles elementos que determinaram que meus fios de cabelo seriam ariscos, meu rosto redondamente incômodo, e minha pele erupta. Minha vida é uma guerra sem intervalos, uma batalha sem descanso, uma espécie de corrida onde cada passo dado significa. É como se eu vivesse dentro de um eterno tornado em colapso. Sedento por levar ao chão os retratos, os desejos e as histórias lindas pregadas nas paredes que algum dia autorizaram que eu deixasse de viver por mim. 

10 de fevereiro de 2012


Eu preciso de um resgate. Um anjo que me jogue cordas ou uma boia grande pra eu me segurar. Talvez uma escada firme pra eu ter por onde subir. É como se eu estivesse dentro de um labirinto de cercas-vivas gigantes. Rodeado por caminhos entrecortados, monstros nas sombras, sem saída olhando pra um céu que é o único espaço aberto. Sinto meu coração divergente, plastificado, como uma pele recém-curada temerosa por novas lesões excruciantes. Tenho medo de romper abismos. Como se abandonar o passado que já se foi fosse algum tipo de provação ainda não experimentada. Me sinto inocente. Me recrudesço. Me enclausuro vitimizado. Parece uma sina elástica que não te deixa seguir em frente. Uma ciranda macabra que te aprisiona. Um cárcere de grades livres que você se inventa. Eu queria um mapa aberto. Um guia solúvel de como sair de mim. A liberdade me apavora por não saber estar com ela. Não sei se vou conseguir transpor as montanhas pra estar contigo um dia, e isso me angustia. Sou uma grande angústia encapsulada. Uma represa de tristeza sempre transbordante. E enquanto me ridicularizo por me metaforizar continuo me escondendo, não sei se feito criança assustada ou homem covarde, fugindo de seus próprios porões, dores latentes, de minha eterna incapacidade de me assumir vivo

9 de dezembro de 2011


Hoje eu encontrei com teu pai na rua. E foi como se eu me encontrasse com um pedaço de você. Naquele momento meu coração acelerou, eu comecei a transpirar loucamente, e meu cérebro foi invadido por um turbilhão de memórias incessantes, que convulsas, me fizeram aconchegar por alguns instantes nos ombros daquele que representa tanta coisa boa pra mim. Porque você me representa tanta coisa linda, que essa nota me arrepia, e talvez seja isso que eu não queira deixar pra trás. É como se ao admitir que você se foi, eu pareça estar admitindo que nunca mais voltarei a ser feliz, como se meu único modo de ser feliz fosse com você: ao teu lado e na tua companhia. Em verdade, confesso que nunca tinha sido tão feliz quanto fui contigo, e que tenho esperança de algum dia vir a ser tanto ou mais do que fui, mas fato é que ainda não consegui. E talvez esse seja o maior desafio da minha nova vida. Aprender que eu posso ser feliz com o que ficou de você aqui dentro. Com o que resta de ti em mim. Com cada uma daquelas coisas que te ensinei e que me ensinaste. Estou repetido há meses nessa sina, nesse signo, nessa senda que é você. Não te esqueço e acho que não vou te esquecer. Mas eu queria que você me desejasse boa sorte, e que agradecesse ao teu pai pelos abraços carinhosos e solidários que ele me ofertou hoje. Inquestionavelmente eles foram lindos, e aconchegantes, e me fizeram feliz, me levando a escrever esse texto agora, pra dizer a mim mesmo que eu posso, que eu preciso, e que eu vou aprender a viver com o teu eu que vai morar pra sempre dentro de mim. 

30 de outubro de 2011

Isto é uma confissão às avessas. Minha alma padece de um tipo de doença que não tem cura. Não existe soro do esquecimento ou prática imunizatória à carência de você. Estou acometido por uma desnutrição severa da alma, tão poderosa a ponto de aniquilar qualquer tentativa de socorro que tenho tentado, há meses, operar. Não reconheço mais meu espírito no espelho porque tua alma deixou rastros inocultáveis por sobre ele. Você esqueceu de me avisar que os teus desenhos são inolvidáveis, que tuas palavras são inapagáveis, e que teus toques são irremovíveis de qualquer memória. Fui condenado à pena perpétua de te amar sem direito a contraditório e ampla defesa; e hoje, passada a paixão, me sinto como um dependente químico reincidente, contumaz e falível no desejo por você. Estou rendido às tuas lembranças como um algoz para com a execução de um condenado. Não tenho mais forças para lutar. Minha dependência emocional me declarou vencido pelo tempo, e só me resta contemplar a vida passando pela janela, como um exímio condenado à espera da morte, que cedo ou tarde, como o grande amor de nossas vidas, sempre vem para nos fazer partir.   

25 de setembro de 2011


Eu sonho todos os dias com o teu cheiro. Eu sinto tua presença sempre comigo. Eu não esqueço da tua respiração lenta ao dormir. Do arrepio da tua pele com o meu toque. Dos nossos enlaces na tua cama. Eu me inebrio com o prazer que você me entregou. E me regozijo com o prazer que te fiz sentir. Eu contemplo as palavras que me escreveste. E me orgulho de cada vírgula que te proferi. Eu sucumbo a cada sonho que desenhamos, e aprendo sempre com cada desafio pelo qual passamos. Me sinto compelido a te revisitar sempre que me dou por mim, e que recobro a consciência da minha dimensão. Você é infinito pra mim. Existe alguma coisa que transcende a mera normalidade naquilo que eu sinto por ti. Não é o teu corpo, não é a tua beleza, não são as tuas perfeições. São as tuas particularidades, as tuas vontades, os teus ímpetos, teus desencontros, tuas inspirações, é aquela força criativa intensa e incessante, é o carinho transmutado em amor, são os pequenos recortes de frases soltas, de palavras rabiscadas em lápis, de cubos ao cubo elevados à enésima potência. Ninguém mais me encanta, ninguém mais me arrepia como, ninguém mais me interessa tanto, ninguém mais me captura como você. E eu confesso, com todas as letras e linhas, que embora não tenhamos sucesso em ficar juntos, existe algo de inafastável nesse condição cósmica que me leva a crer, que podemos, sim, quem sabe, às vezes, ser para o outro quem realmente somos, sem máscaras, truques, temores ou dor. Só prazer, amor, suavidade e força, na nossa proporção, do nosso tamanho, na nossa intensidade celestial.

28 de agosto de 2011

Tem uma nota de piano na música que eu escuto, e eu nunca tive a oportunidade de aprender a tocar um. Hoje eu chorei pela primeira vez desde que nos deixamos, lá atrás, no começo do outono. E pela primeira vez consegui vencer meio bloqueio psicológico que me impedia de sentir minha alma. Me senti humano outra vez, sensível, estimulável, doce. Eu li as cartas que você me escreveu, contemplei as fotos que você me entregou, e lembrei, por um momento, de todo o amor que você me fez sentir, de toda a aceitação que você me concedeu, de toda a proteção que você me deu, e de todo o desejo que você investiu ao me escolher. E eu lembrei que eu também te escolhi, porque nunca toquei ninguém como te toquei, porque nunca beijei ninguém como te beijei, e porque nunca mais senti nada parecido com aquilo que você me fazia sentir. Na caixa onde guardo as coisas mais preciosas que tenho tem uma foto tua, de quando eras criança, tirada na França, e tem vários corações nela. Eu queria te ligar hoje, dizer que eu sinto saudade e entendo que precisamos ficar separados, porque não é o momento para estarmos juntos, mas não consigo. Acho que é um contato desnecessário porque pra mim, você parece estar muito bem, e eu não quero de forma alguma mexer naquilo que você conseguiu construir pra você. Nessa tarde o sol se colocava como quem partia deixando rastros, memórias, marcas indeléveis como as que deixaste em mim. E apesar da vontade de estar contigo, e do desejo por sentir tudo aquilo que fazias eu sentir, eu só queria que você soubesse que sim, eu aceito me casar um dia com você, e que sim, podemos morar juntos e ter quartos separados, e que se algum dia isso acontecer, eu estarei pronto pra fazermos tudo aquilo que um dia sonhamos juntos que iríamos realizar. Sou eternamente grato à sorte surpreendente que um dia me levou a você. Te amo.

10 de julho de 2011

Tem um anjo branco na pintura do francês do século XIX. E tem um mortal envolto em um movimento congelado no tempo com o anjo no mesmo quadro do mesmo europeu. E ambos tem traços que muito se assemelham a. Eu acho que tem uma espécia de batalha como a deles dentro de mim agora. Algo que faz com que eu apague as linhas com rapidez e escreva tudo uma vez mais. Meio como que resgatando um velho hábito de derramar as linhas por sobre a tela branca à minha espera. Eu queria poder estar resolvido. Gostaria muito de me encontrar sedimentado, pronto, em movimento sequencial de início, num modo de operação que não exigisse de ti espera, aguardo, paciência ou compreensão. Mas não consigo. A grande verdade é que eu estou inacabado, em transição, incompleto, e qualquer tentativa de ponte seria difícil a despeito de não ser impossível. Seria como um movimento duplo de aguardo e espera ao qual sempre estive disposto, mas de cuja responsabilidade não posso arcar sozinho, visto que todo tipo de entrega pressupõe uma tentativa, tácita, de respeito ao outro, e preciso consignar que não posso exigir de ti nenhum tipo de espera ou atitude complacente. Há direitos e direitos, e em um relacionamento maduro, nunca podemos nos ultrapassar, tampouco o outro. Eu só queria que você soubesse que eu acho que cada um tem um tempo um momento e uma perspectiva e que não existe prazo de validade algum. Que todo tipo de afeto é processual,  e que todo tipo de desejo é válido, porque só quando a gente sente com o coração a gente se move, e se algum dia eu desenhei algum passo e saí da inércia gelada da indiferença, de qualquer sorte, esse passo foi por ti. É um grande e delicioso prazer ter você guardado em minhas memórias e no meu coração. Porque você me fez descobrir que os anjos caem; e que apesar de todas as tentativas celestiais de castração, eles tem, sim, sexo.

15 de junho de 2011

É como se acendessem milhares de estrelas no céu. É como se iluminassem as trevas e as tornassem penúmbra. É como vencer todas as ondas gigantes que sempre arrasavam a praia. É como quebrar os grilhões que te prendiam à âncora. É como irromper pelas grades da cela. É como transcender todo o medo, a dor, o constrangimento e o sofrimento imbricados na pena perpétua da vida. É mais ou menos como sentir na veia a alforria formal. É uma espécie de estado de sobriedade acelerada que te retroalimenta de paz e amor. Eu queria que você soubesse que eu sempre estive perdido. Que eu sempre estive vagando pela tradução, pela tentativa moribunda e infrutífera de me fazer entender, expressar, proclamar, repartir, significar, transcender. E então chega um dia em que você, sem mais nem menos, ato contínuo percebe que não existe mais tentativa, que não existe mais necessidade, que não há premência, porque, motivo, razão ou circunstância para tentar ser. É como se tivesse uma hora, um momento e um espaço dentro do tempo em que você se percebe sendo. E aí, quando você é, não há mais nada. Todos os teus sonhos recorrentes são vencidos e obliterados, todos os teus medos e traumas são derrubados como muros, e você se vê, nu, diante de um espelho sem fim que em verdade é um campo verde infinito florido e agradável como a tarde mais confortável e especial da primavera. Tem alguma coisa a ver com uma espécie de estado transitório denominado de felicidade. Como quando tudo aquilo que você sempre quis sentir se torna sólido e imaterial e invade você na proporção da alma e então nada mais importa. É como se você recebesse as asas que sempre quis ter. E num salto, último, único, primordial, se lançasse aos céus do alto da torre em que sempre fosses prisioneiro de si mesmo. E por dentro dos ares, das nuvens, você e o vento se tornassem uma coisa só porque a vida é um mistério engraçado que sempre vai além daquilo que se vê. Diante disso, eu só queria que você soubesse que eu sempre tentava ser alguém que eu já era, e que a gente só consegue ser quem a gente é, de verdade, quando a gente se respeita plenamente, de forma visceral, nevrálgica e irrestrita, do começo ao fim, do princípio ao final, do primeiro dos fios de cabelo até a última das unhas dos pés.

7 de maio de 2011


É como uma árvore em óbito. Seca pela sede eterna de viver. Suas raízes já não encontram mais água no profundo, e a terra árida do subsolo paraliza a seiva, que deixando de correr, mata as folhas. E é como se eu fosse as folhas verdes morrendo agora. Me sinto interrompido por esta sede de você, ou daquilo que você me entregava, ou do que eu entregava pra você. Minha necrose da alma é uma espécie de luto incerto-interno, desmedido e despropositado ao qual resisto selvagem. Não consigo me desfazer de você. É como se houvesse um vínculo energético, substancial, (i)material intrínseco. Cada dia escurece mais cedo e eu não lido bem com a treva. Confesso que o escuro nunca me foi seguro exceto contigo, e essa é umas das coisas maiores, talvez, das quais preciso aprender em breve, e com bravura, sem você. Eu preciso de um caminho em meio às trevas pelo qual seguir sozinho, e por favor, me ajuda, já não aguento mais estar perdido por saber que não adianta mais te (des)amar.

26 de fevereiro de 2011

Acho que as metáforas não dão mais conta de (me) dizer. É como se existisse uma falência no modo de tradução dos meus sentimentos. Não sei mais como me dirigir a você. Ainda mais agora. Deve ser o recomeço, suponho. Deve ser essa inédita etapa de se (re)conhecer, e de (se)descobrir (n)o outro de um jeito ainda mais novo e intrigante. E se não for só receio, então deixo aqui em aberto dizendo que não sei o que é. Hoje meu coração cintila como aquele sol poente da foto: tímido, poderoso, fulgurante e iluminado. Meu desejo mais profundo é que eu consiga te entregar tudo o que eu posso, e que a gente saiba aproveitar essa oportunidade única de se proteger se amando, se respeitando daquele nosso jeito especial de outrora. Ambos somos produtos de uma operação que tem como resultado final uma imprevisibilidade acordada. Somos conquistadores do que não sabemos e do que não conseguimos elaborar, como que eternamente enredados por nós mesmos. Complexos, profundos, múltiplos, sintenticamente inacabados nos propomos a reconstruir alguma coisa que um dia começamos juntos. Não tenho o teu domínio da escrita, e na falta da tua fluidez e leveza te deixo em recorte esse pedido especial, e esse desejo quintessencial de sorte. Que tenhamos tranquilidade, paz, amor, e muita boa ventura nessa fantástica empreitada a que nos propomos seguir. Um dia eu quis a oportunidade de ser pra ti tudo aquilo que eu poderia ter sido e não fui, agora eu te digo que vou ser. Até sempre serei contigo quem eu sou, e quero que você seja comigo quem você realmente é também. Do teu eterno conquistador, com todo meu amor. ZG

4 de janeiro de 2011

Eu me sinto baleado. É como se tiros tivessem me rasgado a carne e balas implacáveis perfurado meu coração. A dor de te amar é comparável, talvez, a de um projétil se estilhaçando por dentro de meu peito. Eu queria te dizer que a gente tinha alguma coisa de puro. Nossa essência era substancialmente verdade. E o que nutríamos um pelo outro é algo tão bonito e sincero que custo a recobrar a consciência de que algum dia vou repartir algo daquela ordem com alguém novamente. Eu queria que você soubesse que eu te amo em silêncio, calado, emudecido, numa espécie de penumbra de mim mesmo por tentar incessantemente eclipsar o que eclode de cór, de dentro de mim. Tenho me perdido desde aquele dia em pensamentos e lembranças e  recordações e fotos e músicas e suspiros e recortes de alguma coisa que vivemos ou sonhamos viver juntos. Inevitavelmente sou compelido a revisitar que você me fez melhor, me tornou célebre, e tranquilo, e feliz. Eu não sei como você se sente agora, e a despeito de já ter tentado de todas as formas e jeitos que concebi, respeitar a dor inevitável e a ausência inafastável de ti, acredito que fracassei. Nesta tentativa última procuro anunciar que eu sempre vou acreditar que não há limites pra te amar. E que talvez me tenha faltado na hora que mais precisei, aquela coragem inerente aos distintos, pertencente aos nobres e reais e bons homens que nunca se rendem. Eu queria ter mergulhado um pouco mais fundo, ousado um tanto mais, e respeitado o desafio que é construir uma história junto com alguém tão brilhantemente especial como você. Desejo que algum dia eu conquiste a disciplina que me faltou ao não ter lutado mais por nós, e por você. Perdão por eu ter sucumbido às minhas limitações, e não ter tentado ao máximo ser aquilo que eu poderia ter sido por ti, e não fui. Que algum dia eu seja, então. Com a benção de Caio F, e deste amor que nunca senti por ninguém exceto você;
Zé.

13 de dezembro de 2010

Porque nada é absoluto. Milhares de folhas verdes escuras e claras se chocam lá fora com o vento incessante e gelado que transformou essa cidade em cinza em plena primavera quase verão. E hoje eu me sinto no outono quase inverno. Só que ao contrário. Minha pele em riste parece denunciar uma espécie de falta transmutada em amargura e dor que acaba por me levar a um choque interno intenso e íntimo. Dezenas de correntes me elevam a uma altura que nunca estive e orquestradas me soltam em direção ao chão que não é só meu destino mas sim meu túmulo mais supulcral e definitivo. Quando eu disse que te amava pela primeira vez eu experimentava todo o prazer único, exclusivo, intenso e inesquecível de se entregar pra alguém que se entrega pra você, e nossos corpos foram um só porque eu nunca havia sentido a vontade e o desejo e o amor carinhoso e permeável e intenso e bonito e valente e corajoso que eu senti por você. Eu só queria que esse outono quase inverno fosse aquele nosso verão do avesso perfeito e desenhado que havíamos nos prometido. Eu te desejo toda a liberdade do mundo porque teus olhos inocentes e reticentes e molhados e suaves são o retrato de um homem brilhante, único, singular e idealizado de forma potencializada pela dor de amor que eu sinto agora por você. Que essas rajadas geladas e sombrias lá fora consigam petrificar e pacificar tudo de mais especial que vivemos juntos dentro de mim.

20 de novembro de 2010

É como um pedaço pesado de gelo sendo destroçado por uma força motriz irresistível. É claro como a luz do sol que perpassa e atravessa todas as folhas da copa mais verde e mais alta da floresta. E tem uma espécie de textura que lembra a de um vegetal fresco e saboroso que há muito você não experimenta. E dá pra se dizer que nessas horas não há toque, nem entrelaço, nem corpo,  definição, sensação, movimento dual e sincrônico que sustente. Não deixa de ser uma questão envolvente, e doce. Um dia eu te disse que crescer dói. E eu tinha esquecido o quanto. Minha impotência me lembra que minha tristeza é raiva. E eu me recordo agora de tudo aquilo que eu queria que fosse diferente e não é. Você pode não saber, e assim como eu não sei, eu acho que esse nosso não-saber em conjunto pode nos ajudar a escolher o caminho que vamos percorrer juntos ou não. Porque nada é absoluto. E eu acho que não há definitividade nessas notas redigidas que você me orquestra ao balancear essas equações sonoras, sensoriais, e sedentas por recompensas, compensações e transações humanas que eu também me permito expectar. Eu queria te dizer que eu estou preparado pra. E que amar é uma questão de transcendência, rompimento, interconexão, sensibilidade humana e afetividade. E se assim o é, que sejamos como as serpentes enroscadas lentas, umas verdes outras escuras. Porque eu prefiro sempre a verdade mais sólida e sincera. E é isso que eu te entrego e que te peço: que sejamos umbilicalmente menos osso e mais verdade.

24 de outubro de 2010

Daria pra começar dizendo que é o calor da tua mão na minha. Ou então que é como o toque na tua pele, de seda, e o arrepio que eu sinto sempre quando eu te toco e você me toca. Também dá pra dizer que é como aquele calor que eu sinto do lado esquerdo do peito quando eu caminho por dentro do escuro e dos feixes e da música e dos beijos e dos corpos e da bebida e do agito e lá meio-escondido estão nossos dedos entrelaçados. E assim como quando meus braços envolvem os teus braços e eu sinto teu abraço no meu abraço é como quando a gente se olha meio parados no tempo e é como se alguém tivesse congelado o relógio que continua girando sem o tempo passar pra gente. E eu digo que o tempo passa e o relógio fica congelado porque às vezes é como se fosse muito mais tempo do que já foi ao mesmo tempo em que a barriga ainda fica gelada, e os arrepios e o sabor e o medo e a delícia e  asensação é a de se estar conhecendo, descobrindo, desnudando. Eu queria que você soubesse que quando a gente está perto eu sou mais do que eu poderia ser sozinho. Que ainda tem uma soma incompleta entre a gente e é a busca por esse produto que faz da nossa multiplicação algo tão mais que o que poderia ter de matemático numa metáfora barata como essa. Por isso, eu te desejo muitos arrepios inteiros, e sorrisos intensos e vontades realizadas porque aquilo que você entrega me faz alguém que desenha sonhos no mundo e que distribui amor de um jeito que eu nunca achei que ia poder repartir. Todos os pedaços dessa conta são parcelas de uma fatoração que só você soube operar e é por conseguires equacionar essas variáveis que eu tomo a liberdade e o prazer de te dizer que você é majestoso e real.

28 de setembro de 2010

Eu queria começar te dizendo que eu escrevo por eu quero te mostrar o que eu sinto. Queria te dizer que meu quarto é pequeno mesmo, que tem muitas poucas coisas soltas e aleatórias e que meus livros estão empilhados porque não tem muito espaço sobrando por aqui. E apesar desse aperto todo, eu mesmo me repartiria em mil pedaços pra poder te acolher aqui dentro. Eu nunca vou chegar a ser aquilo que você espera que eu seja, porque eu nunca vou chegar perto de ser você, e eu quero me desculpar por isso. E esse pedido formal de perdão é porque eu sou assim, imperfeito, interrompido, segmentado, e talvez eu nunca tenha conseguido superar isso de forma total e plena e irrestrita. Quero te pedir desculpas também por eu não poder ser tudo aquilo que você merece e também por não ter tudo que você precisa, mas eu não posso alterar algumas coisas que não dependem do exercício das minhas mãos e da minha força. Eu queria que você soubesse que o que eu sinto por ti é algo da ordem daquilo que não se mensura e não se qualifica e que tenho sido repetitivo porque é inconcebível elaborar enunciados que deem conta da tua imensidão e da vastidão da tua presença em mim. Quero consignar ainda que você tem liberdade ampla, segura e imediata pra abordar qualquer coisa comigo, mesmo que isso signifique alguma coisa que você tenha medo de pensar. Eu quero colocar todas as palavras encaixadas, e deixar nossa história sempre completa escrita e clara. E eu queria que você soubesse que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era. Meu desejo mais profunda é tua total e completa felicidade, e eu estou me colocando a disposição pra que possas sempre se sentir assim, completo. E se isso significar que eu, quem sabe, tenha que deixar de ser parte daquela dupla celeste que reparte uma coroa cintilantemente estelar e única, eu não me importo, porque não há limites pra te amar. E se essa for a taxa da felicidade, não me recusarei a honrá-la, porque quem sabe eu seja daquele tipo de plebeu que nunca tenha que vir a ser rei.

12 de setembro de 2010


É como se você tivesse desnudado todas as minhas fantasias, devassado todos os meus sonhos, invadido todos os meus asilos, violado todos os meus segredos. Meu consentimento é tão teu que já não o elaboro como propriedade individual. Eu sou repartido de uma forma dupla e compartilhada que me amedronta pela integridade, amplitude e forma implacável com que é feita. O que eu nutro por você é tão absurdamente claro e lúcido que o tempo só tem determinado uma acuidade visual ainda mais perfeita e precisa, não existem mais borrões, névoas ou incertezas. Minha definitividade nunca foi tão confortante e harmoniosa. E me descobrir par, dessa forma pura e inocente, me traz uma leveza e uma felicidade que, até então acostumado com o inverso, não sei lidar bem. Sinto nas veias e na pele e na alma o vento gelado e singular de uma praia vazia e ensolarada de inverno que só a gente pode visitar. Tua presença me concede vontades inéditas, valentismos juvenis, coragens que eu não sabia deter, dotado da capacidade de sentir, você me leva a experimentar e viver o mundo de uma forma tão integral e intensa que já não há mais margem pro medo do desconhecido, eu me sinto possuido pelo desejo de viver sem freios, espelhos e ameaças. O receio que persiste é o de eu, talvez, ainda me sentir ínfimo e inglório frente a imensidão da tua presença e do teu ser. Desaprendi a escrever porque não sei explicar minha completa e consciente e total entrega absoluta a você. E prefiro assim, antes o amor que as letras.

23 de agosto de 2010

Um raio de luz atravessou todos os vidros opacos e cinzentos e escuros e sujos e borrados e penetrou por todas as barreiras e encontrou um espelho. O espelho acordou com aquele choque de fótons incandescentes e rápidos e dourados e brilhantes e em fulgor e então refletiu como que automaticamente para todos os lados daquele cômodo fechado e enclausurado e hermeticamente isolado desde sempre. As paredes sombrias e enegrecidas pelo vazio e pela ausência de claridade passaram como que num passe de mágica a se desmanchar como que fumaça ao vento e então os vidros e as janelas, inteiras, foram desabando ao chão como papel picado no ar, e o espelho atingido pelo raio via a intesidade da força da luz aumentar e então o que era um raio passara a ser um feixe e o feixe se fez turbilhão e tudo passava a ser plástico e plasmado e fluido e já não havia mais espelho nem origem da luz porque tudo era claridade e calor e intensidade e força e carinho. E então ele acordou e sentiu que continuava sonhando, tomando consciência da realidade ele percebeu que o raio de luz era corpóreo e ele, o espelho, carne, e que havia alguma coisa presente, e não ausente, suspensa ao seu redor e que tinha laços, invisíveis, que o enredavam por completo, e essa rede intangível lhe dava a sensação de conexão mais libertária que ele já havia sentido. De dentro do seu coração partiam pulsões vívas e vívidas e vibrantes que percorriam todas as linhas imaginárias e acabavam por desaguar na foz de um outro coração ainda mais quente e nobre e vermelho que batia como que num ritmo celestial e que lhe devolvia a energia numa ciranda elíptica e eletrônica que era inintelegível, e assim, num movimento incessante e avassalador de luz e amor e dourado ele já não era mais matéria nem energia nem calor e só havia som e amor e tudo era uma essência disforme e densa que condensava e em espiral descia para habitar o formato recortado e solene e sofisticado de uma coroa destinada a tornar majestade um rei.