11 de julho de 2010
Eram centenas e rasgavam o céu como fogo em seda. Eram trilhões e pulverizavam tudo como ácido na pele. Eram dezenas de ondas multiformáticas e densas que irrompiam do céu acima e desciam em cascata como se numa cachoeira de insanidades. Loucura verde que esganava a verdade que não resistia e lhe escorria pelas mãos como sabonete molhado. E tinha alguma coisa parecida com aquela fruta desgostosa e mal-cheirando que inunda a geladeira, daquelas que não se limpam com a frequência que deveriam. Incontáveis segundos o repartiam em mil porque já não há mais passado no presente e aquilo que restou é tão condecorativo que as medalhas e homenagens de sobrevivência recebidas lhe conferiam um caráter rebuscadamente intrigante. Com a pretensão de quem parece apurar em si o que há de interessante, ele, sentado sobre quatro cadeiras brancas encaixadas sentia o deixar-se tomar por aquele tipo de domínio animal e primitivo e doentio de quem se entrega ao mal que nem sempre nós mesmos criamos; porque não somos ímpares. Eu pelo menos tenho certeza que não. E tinha uns infinitos pedaços de nuvens naquele céu que entardecia e eternizava como um traço no coração dele agora.
30 de junho de 2010
Não há vida sem amor. Eu nunca escrevo pra mim mesmo. Eu sempre escrevo por mim, pra alguém, por algum motivo, à força pelo meu sentimento que aflora, e desflora, e reverbera revigorando-me. Eu escrevo porque quando eu transformo o céu em recorte eu descanso, relaxo, liberto, desenclausuro, emolduro no espaço branco vazio a pintura bricolada de letras, acentos ausentes, concordâncias disjuntas. Quando eu escrevo há concórdia, há realização e há paz. Eu escrevo porque as palavras são como presentes: misteriosas, empacotadas, multiformáticas, transitórias, suspensivas, elegantemente singulares e únicas.Tem uma nuvem em forma de avalanche que nunca me sai da memória. Lembro que era quente e verão e seco e não havia vento mas o céu parecia em redemoinho. Por todos os lados do vale gigantes nuvens performáticas escorriam pela atmosfera acima da borda em um movimento descordenado e belo. Naquela tarde eu senti que o céu ia cobrir todos, e tudo, e então tudo seria névoa e cinza e branco e trovão. Não foi. Era só chuva. E eu queria que você soubesse que eu estou me desfazendo, em tua companhia, da fragilidade, da instabilidade, do t(r)emor, das paredes com frestas e do chão sem pregos e dos pilares encaixados e do telhado sem estrutura, eu estou mandando pelos ares as pedras sem cimento, o piso sem cobertura, o verde sem raízes, cada pedaço de mim sem chão e ferro. Eram dezenas de tornados e ciclones e vendavais lá fora mas eu me segurei nas barras geladas de metal e não soltei até que tudo voasse, e desabasse e viesse à terra novamente. E quando eu abri os olhos não havia mais nada intacto, mais nada passado, mais nada cansado, velho, repetitivo ou capenga, meu corpo e minha alma estavam revigorados porque do meio dos escombros eu podia visumbrar que havia um mundo inteiro a ser reconstruido ao meu entorno. E ao redor de mim e por todos os lados descia aquela luz amarelada e reconfortante de um fim de tarde de um dia diferente que levou consigo a tempestade e a calmaria e me trouxe o inédito de quem só consegue se acreditar que pode. Eu acredito que eu posso e eu sinto tudo isso desde que, enquanto e depois de. Aquela avalanche do céu de verão me fez lembrar nessa noite de inverno que eu sempre fui aquele menino com a força pra resistir e lembrar e seduzir e revoltar e volver com a elegância e o charme e a esperança de um plebeu destinado a ser rei.
14 de junho de 2010
É como uma fome plástica e plasmada e disforme. É um desejo dissolvido, dissociado, recortado e granulado em milhares de pequenas partículas invisíveis. Lembra uma tempestade de areia inversa, um ciclone de pétalas aladas, um tornado de luz performático. Também pode ser que faça você recordar de uma coceira insanável, de um formigamento autônomo e insubordinado, uma cãibra dentro do mar antes daquele mergulho perfeito daquela onde mais linda e reverberante e colorida e nítida e gostosa. E quem sabe não passe de uma incongruência sensível da qualidade humana perfeita de sentir ou mesmo de uma instabilidade adjunta da própria constituição que nos compõe. Queria poder tecer construindo sob o fundamento do azul celeste um prelúdio poético e pessoal adornado de nuvens mas não posso. Meu céu anda cruzado e tingido e misturado por infinitas intersecções múltiplas e aleatoriamente destinadas. Como se a sorte surpreendente tivesse se encarregado de ilustrar e compor tudo sem precisar de nenhuma ajuda. E todas as luzes de todos os postes e todas as sombras e todos os brilhos e flashes das noites geladas e frias e chuvosas não me fazem esquecer. É como se o próprio outono que agora termina tivesse congelado dentro de mim um tempo novo e quente e paradoxal que me causa arrepios de choques térmicos com a realidade. E tem um leão que é rei que acabou incorporando uma responsabilidade não pretendida. Ser ator não significa ter que arcar com o espetáculo sozinho, o protagonismo exige sempre, em última instância, a superação de si mesmo frente ao espetáculo, platéia e palco são portanto solidários pelo sucesso da apresentação. Não há univocidade. E tem dois traços no céu desse fim de tarde aquarelado. Como se rei e súdito. Príncipe e servo. Leão e coelho. Imaginação e sentimento. Letra e voz. Se interconectassem, se fusionassem, se amalgamassem num arranjo celeste leve lúcido-translúcido cristalino iônico válido e musical secretamente solubilizado em amor.
30 de maio de 2010
Eu confesso porque eu nunca soube contar. Minha vida toda é um sequencial de confissões de toda ordem e te toda sorte que eu acabei colocando mais ou menos em desordem. E hoje eu queria deixar consignado aqui que você é a última e a mais intensa de todas as minhas confissões até agora. O ato de discorrer sobre aquilo que me embebe e me extravasa é uma tentativa juvenil de te deixar marcado de alguma forma nesse esboço virtual que eu concebi um dia. Hoje eu me sinto o garoto que eu me tornei porque você junto comigo conseguiu efetivar todos os desejos e os anseios de uma juventude toda represada. E eu tenho vontade de te agradecer a todo momento porque se não fosse você e aquele número de telefone trocado na chuva daquele abril esse esboço talvez ainda fosse aquela quotidiana e insana repetição triste do mesmo. Por você estar perto eu consegui fazer com que a troca fosse completa e por isso só uma intersecção ofertada e aceita nos encerra. E na tarde de hoje, lá perto da cachoeira do menino deus, eu senti uma ponta daquilo que a gente se disse entre aspas. Não que eu não ache que estamos completamente certos ao sermos cautelosos, no entanto, parece que a marcha do destino é meio obstinada e certeira e veloz e ela nos leva no sentido daquilo que talvez mais temamos ter que um dia dizer um ao outro, num relato reflexo perfeito e exato de um sentimento que brota, e que um dia talvez germine e frutifique e mude até talvez tudo aquilo que você sempre achou sobre isso. E esse sentimento que você talvez um dia venha a sentir é tão paradoxalmente abundante em minha história que quem sabe esse é o ponto simétrico dos nossos conjuntos de elementos que agora se cruzam e se unem e se mantém divididos ao mesmo tempo. Quem sabe só uma grande fórmula-função-matemática consiga dar conta de entender essa loucura toda que a gente é junto, porque separados já éramos. E eu só queria pedir aqui nesse pedaço e nessa linha que você acredite, porque se você o fizer tudo aquilo que você quiser vai ser e um dia eu disse e eu tenho certeza que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era. Eu ∩ Você.
27 de abril de 2010
Eu estou entregando as chaves hoje. A chuva acabou lá fora mas o que ela trouxe dos céus parece estar cada vez mais sólido e próximo do que deveria. Eu estou abrindo os cadeados, todos, e escancarando as janelas, tem umas trancas emperradas também, cujas chaves eu perdi, que eu estou destruindo com martelos. Estou desconectando todos os alarmes também, as cercas eletrificadas, as armadilhas, os chãos falsos e todos os mecanismos de defesa e proteção. Eu estou limpando as calhas também, quero que o vento fresco passe por elas junto com a água da próxima chuva. Eu já coloquei aquele guarda-chuva pra secar, lavei os lençóis, troquei os cobertores e coloquei os travesseiros no sol. Já não há mais nada envolto no escuro e em trevas. Cada centímetro agora parece estar envolto e embebido e encharcado em luz e claridade e leveza. Desde que você chegou no portão, lá fora, há segundo atrás, todo esse processo se desencadeou sozinho e não há nada que eu possa fazer pra refreá-lo, nem eu consigo me frear, parece uma marcha insandecidamente obstinada a cumprir com um propósito inadiável e improcrastinável. Por favor siga em frente, caminhe pelo jardim, continua seguindo em direção à entrada, pegue as chaves na mão, coordene os seus movimento com a fechadura, pegue firma na maçaneta e abra esse portal que sempre esteve à tua espera. Por favor, entre, olhe pros lados, sinta o perfume, escute a música, sinta a poesia escrita nas paredes, tatuada no teto, fixada nos vidros. Por favor, chame por mim, diga meu nome, exteriorize teus desejos, venha ao meu encontro. Por favor, acalma minha alma acesa e alva que agora alicerça a manhã que você desvela. Por favor, irrompe pela escada a cima e olha pro espelho do tempo emoldurado no fim do corredor porque ele guarda um segredo. Por favor, sussura e me encanta, porque eu nunca ouvi uma voz tal qual como a tua. Por favor, não fique parado nem tenha medo ou receio ou não deixe que nada te impeça. A partir de agora eu não me responsabilizo mais por essa casa sozinho, está tudo aberto, transparente, translúcido, cristalino, e eu não sei mais dizer nada, nem elaborar, nem descrever, nem escrever. Nada mais importa porque agora eu tenho você e você me tem. Com a benção de Caio F. Que assim seja.
25 de abril de 2010


28 de março de 2010
You. É pra começar te dizendo que você mudou a minha vida e eu acho que essa vai ser uma grande confissão. Desde o primeiro dia, da primeira conversa e da primeira madrugada, desde a primeira ligação e dos primeiros segredos divididos eu sempre suspeitei de mim mesmo por estar acreditando que você podia ser real. E o que mais me assusta é o quanto eu estou assustado por gostar de você. Porque sozinho a gente fantasia muito, e eu tenho muitos problemas com solidão e sonhos, e eu sempre achava que talvez tudo não ia passar, como quase tudo na minha vida, de um grande mal entendido e que você ia dizer que era só mais um grande amigo ou então ia chegar um dia pra mim dizendo que estava muito a fim de alguém ou apaixonado por alguma pessoa que não seria que eu esperaria que fosse, como sempre acontece comigo. E aí tem uma espécie de segredo que eu ainda não consegui desvendar, porque eu estou há alguns meses trabalhando no mistério que é você, na tua complexidade implacável, na tua postura de hombridade e doçura, tua forma leve e compromissada de encarar o mundo e a tua assistência irrestrita com que você nutre algum tipo de sentimento bom. Eu acho que você é muito surreal porque eu nunca tinha ouvido uma voz tão linda, e encantadora, e bonita, e eu fiquei sorrindo sem saber o porquê durante dias depois que eu a ouvi pela segunda vez. Teve um dia também, e eu sou imensamente grato por isso, que eu acordei lá naquele lugar onde o vento faz a curva, e você tinha mandado um sinal doce e matinal de vida e você não tem idéia do quão especial e do quão importante foi ter você por perto quando eu mais precisei. Pode ser que isso seja só efeito desse meu jeito romântico e escancarado de colocar as coisas pra fora porque você já deve ter percebido que eu não sou daquelas pessoas que escondem tudo pra sempre. Eu queria te dizer que você é muito especial e que eu estou de quaresma por tua causa e que depois que você apareceu no meu caminho eu experimento uma espécie de tranquilidade e calma que eu nunca tinha conseguido sentir, e por mais que essa tenha sido uma batalha minha eu só tenho conseguido triunfar por tua causa, e é por você que eu escrevi essa confissão porque só você tem me dado vontade de dizer pro mundo o que eu estou sentindo, e isso não acontece assim há tempos, e eu não vou retirar nunca nada disso do que está posto e escrito porque você merece tudo de mais especial e lindo e feliz porque você é fabuloso, e eu te espero o tempo que eu tiver que esperar porque desde que eu te li pela primeira vez eu achei, e depois tive certeza, que igual a você não há.
13 de março de 2010
Era pra começar com um castelo, algo como que um príncipe, e uma princesa, e uma cerimônia real farta e luxuosa mas não vai passar da menção. Tem alguma coisa a ver com individualidade, uma espécie de sentir que desafia você todo dia naquela atividade uma vez sugerida, e sempre cumprida, de nomear tudo num ritmo frenético e de não racionalizar as coisas ao mesmo tempo. Hoje eu me senti sozinho. Às vezes me sinto na verdade. E eu acho que pode ser que a gente se vicie em se machucar, solidão pra mim dói como agressão, e me parece uma resolução não-voluntária, a qual sempre acaba com você no médico, na farmácia, no telefone, ou no computador escrevendo e-mails que jamais deveriam ter sido enviados. Nada me faz crer que não existe sempre alguma coisa ausente e eu acho que amar é uma doença, tipo síndrome sem cura. Naquele dia o céu estava azul porém não limpo, e apesar daquelas nuvens todas tinha alguma coisa muito fora do lugar ali, eu sinto que é como quando você abre alguma coisa, um presente por exemplo, e não encontra aquilo que esperava. E pesa dentro porque você não consegue se disciplinar ao ponto de esquecer essa droga de expectativa que algum dia alguém te vendeu como ter esperança e você guardou e não aprender a jogar fora e agora ela se enraizou em você e sempre te faz esperar por aquilo que você deseja - e é só. Eu não queria ter expectativas porque eu não sei lidar com frustrações. E eu ainda acho que amor a gente tem vontade de entregar porque mesmo que seja algo do campo do contagioso dá muita vontade de dividir com alguém aquilo que transborda de dentro de você e te faz sentir bem por alguns instantes. E esse é aquele em que eu confesso que sempre sonhei em ser príncipe mas acabei sendo, só e apenas e sempre, fadado a amigo deles.
15 de fevereiro de 2010
Eu queria deixar dito que apesar desse céu parecer meio misturado e entardecido, que chove lá fora agora. Eu demorei bastante tempo pra conseguir digerir o que estava escrito naquelas ondas, sempre esteve escancarado nas linhas brancas da espuma aquelas coisas que eu precisava fazer pra poder sair da chuva, e eu sempre fingia que não sabia ler, que não entendia nada. Hoje tem uns pingos gelado caindo do céu e eu acho que eles acabaram me fazendo ler de novo, eu cansei de fingir que não sei ler, eu cansei de tentar ficar na água, porque eu não posso mais ficar molhado. E existe sempre alguma coisa suspensa, e é como quando você precisa sair da água, e tá frio lá fora, porque já é fim de tarde e o sol já não aquece nem seca mais quem ousou mergulhar, e você ficou tempo demais submerso, está todo enrugado, e com fome, e agora é chegada a hora de sentir o vento gelado e a brisa intensa daquela praia preferida que foi teu refúgio por um longo tempo mas que não pode ser pra sempre. E eu acho que eu sou todas aquelas ondas contra as quais lutei,e eu queria que você soubesse que aquele dia eu não entrei na água porque eu precisava começar aquele caminho longe de ti que hoje me liberta. E mesmo que algum dia você venha a saber; ou não, eu sei que como eu não há.
16 de janeiro de 2010
4 de janeiro de 2010
Resumindo são mais do que algumas simples considerações. É mais ou menos como um fim de tarde desses de céu rosado, e com uma estrela brilhante e única que eu pude assistir esses dias lá longe naquelelugar fechado e fundo e vazio. E até lá tem desses fins de dia pra se ver. Eu acho que eu fiquei tempo demais me escondendo nas tuas sobras, me alimentando daqueles poucos pedaços de tudo que você deixava cair, de algumas migalhas que escorregavam do teu prato cheio de comida. Eu cansei de ser espectro, fantasma, assistente, coadjuvante. E vem sempre aquela sensação de frio da realidade, de medo do choque, todas aquelas borboletas vivas e coloridas que forram meu estômago de vez enquando. Acho que eu estou escrevendo isso hoje porque ando meio tomado pelo silêncio e pelo cansaço, pela calma, do esgotamento e uma espécie não-ruim de penúmbra, me sinto livre e preso numa atmosfera meio escura meio clara que nunca me foi simpática. E em verdade acho que você ainda é uma das únicas, poucas e últimas coisas que ainda consegue despertar meus demônios, fazer falar os dragões, desnudar minhas fraquezas mais gritantes, quase só você consegue me dar aquele ímpeto efêmero de me fazer traduzir pelas letras que eu costumo depositar aqui, nesse esboço patético do eterno adolescente que eu ainda custo a acreditar às vezes que eu me tornei.
13 de dezembro de 2009
Era mais ou menos como esse dia nascendo. Só que mais especial. Tinha a intensidade desse sol que manda embora aquela treva sem fim e repetente. Tinha uma fragrância escondida como esse ar fresco e gelado do amanhecer. E teve um momento que eu achei que não podia ser. Que todas as imagens, as sensações e os toques eram de mentira, alucinações da minha fantasiosa e irriquieta mente. Não eram. Irrompiam pelo espaço todo as músicas mais intensas e a magia não cessava. Era uma espécie de encanto consentido, sincronia perfeita, sintonia fina, equação completamente equilibrada. E eu equilibrei aquele corpo algumas vezes porque parecia que a gente era par. Logo eu que sempre achei que era ímpar. E o canto dos pássaros aqui na janela me impede de fechar os olhos e sonhar. Aquele medo derradeiro de adormecer e acordar encarando que tudo não possa ter passado de sonho é algo incrustado, arraigado, que me pergola intermitente. Só que hoje parece que o medo se esvaiu, partiu, seguiu rumo pra algum lugar que não me habita. Minha denúncia é minha face e nunca me senti tão orgulhoso por ser incriminado. Eu acho que quando a gente se entrega tem uma espécie de liberdade única, é um exercício de coragem, respeito e prazer, tudo amalgamado e imbricado junto. É algo da ordem do inenarrável, do indescritível e do inominável. Não foi só macio, e agora um sorriso me esboça a face, foi gostoso, pra caralho. A mágica do poeta gaúcho não me deixa esquecer que os figos são flores que abrem pra dentro.Só posso afirmar que foi lindo e que ele tem razão, em tudo e sobre as flores, principalmente.
11 de dezembro de 2009
3 de dezembro de 2009
1 de dezembro de 2009
Tem uma sombra que me persegue quando você está por perto. É como se todos os demônios e os dragões do subsolo e do além viessem à superfície e iniciassem um ritual macabro tendo por mim como oferenda. É um circo dos horrores bizarro que eu não aguento mais protagonizar. Tem uma espécie de inversão sentimental que você consegue causar, e todas as minhas resistências são transmutadas pela perturbação da tua presença, eu sinto amargura, dor, desconforto excruciante que não cessa até a tua ausência, que tenho desejado cada dia mais e mais. Eu estou com uma dificuldade absurda pra administrar a mim mesmo quando se refere a ti. Você não é quem você acha que é, quem você tenta parecer ser. Quem você é me machuca. E as nuvens que cobrem o meu céu agora estão tão escuras que eu não consigo mais ter noção de certos limiares. Teu magnetismo de composição exterior tem uma capacidade de definhar e envenenar o teu entorno, é uma espécie de maldição do tesouro, só que no final da empreitada não há tesouro, só pesadelo. Eu queria poder deixar o céu claro, fazer com que o teu magnetismo se multiplica-se e ilumina-se aos outros também, mas tua luz é paradoxalmente negra, ela suga tudo ao teu redor, reduz a pó, cinzas, nada. Não sei se você percebeu mas todo mundo que já chegou tão, ou quase tão perto de ti quanto é possível se foi. Não resta ninguém. Nada. E por um tempo eu achei que eu conseguiria restar, haver de ficar, permanecer, resistir. Agora acho que não.Que se eu conseguir vencer a tua gravidade pulverizadora ei de partir, como todos os outros, pra sempre. A salvo de ti e do teu labirinto do tesouro sem tesouro, sem saída, sem vida, sem nada.
14 de novembro de 2009
Meu mar vermelho foi você quem abriu. Na verdade nem eu sabia que você estava fazendo aquilo mas você estava, e quando eu olhei em frente tinha um oceano inteiro aberto ao meio a minha espera. Eu não sei bem quais foram as tuas palavras, os teus gestos, tenho dificuldade até pra lembrar da tua face e o que mais me inpressiona é a força da tua magia, o poder do teu ser, que repartiu aquele mar inteiro que eu acabei por atravessar. Teve um momento, e isso eu nunca tive a oportunidade de te dizer, porque no meio daquela travessia imensa você acabou me deixando sozinho sem querer, e quando eu olhava pros lados, intensamente com vontade de te perguntar alguma coisa eu só via água e mais aqueles poucos que caminhavam comigo pelo chão submarino agora descoberto. Eu queria te dizer que hoje eu acho que eu terminei de atravessar o mar vermelho, eu percebi que eu passei por todo aquele corredor, e agora que eu não estou mais cercado pela água interminável posso te afirmar que me intriga ainda o teu poder, infinito, de segurar o oceano. Queria te agradecer por teres feito com que eu tivesse um caminho que atravessar, com ou sem ti eu trilhei por ele, e agora que eu me vejo do outro lado do mar me dá medo. Eu estou alegre por ter sobrevivido mas me dá uma angústia de pensar em errar, ando meio sem coragem de subir as montanhas e correr pelas planíces que eu tanto sonhei, eu tenho medo de receber sim e não pelo meu novo caminho, e reticente, ando optanto por não caminhar, não seguir em frente, não me despir daquela indumentária pesada que eu carreguei por todo o paredão escuro e interminável e úmido que eu consegui findar. Eu só queria não precisar de garantias. Queria deixar de temer o erro. Me despir daqueles calçados apertados que me seguravam firme e ao mesmo tempo me tornavam lento. Se eu posso fazer um pedido, e eis que isso já é um deles, queria saber se tu pode ir me dizendo aos poucos daonde tu tirou aquela força toda pra segurar o mar, eu ando precisando lidar com aquelas ondas e não consigo entender o que fazer com elas. Se tem como eu fazer isso eu queria aprender. E queria também abrir o mar pra alguém, desejando que ele não fosse tão vermelho como o meu, nem tão solitário, mas queria muito fazer nascer em alguém aquilo que a tua força e a tua magia fizeram em mim.Eu ando acreditando tanto no poder do amor, que me dá uma saudade de sentir, e eu acho que com toda essa ternura eu estou pronto pra abrir um oceano inteiro pra alguém passar também, só preciso vencer aquelas ondas que me matam aos poucos e que quase te mataram também. Mas você conseguiu extinguir elas e se você pôde eu também posso. Se tem algum segredo ou alguma palavra mágica ou alguma dança ou algum passo eu queria te dizer que eu sou artista e que você não precisa se intimidar em tentar me ensinar porque eu acho que posso aprender bem.
9 de novembro de 2009
Hoje eu escrevo porque escrever é a única coisa que me resta. De tudo o que eu tenho me restaram as palavras, perdidas, descordenadas, não sabidas. Você chegou na minha vida por encomenda, numa espécie de indicação premeditada, e eu deixei você entrar pela minha fraqueza essencial de me deixar sentir. Uma espécie de sentimento de busca profunda e irrefreada que se sucede e se opera indiscriminadamente dentro de mim. Hoje eu senti a tua falta por perto. Não que estejamos próximos, porém tem uma espécie de reconforto diário que você me proporciona. É como se eu me encontrasse comigo por alguns instantes diante do espelho todo dia, e esse espelho é você. Eu tenho muita vontade de mergulhar nesse espelho, de me deixar refletir, perceber, delinear, me desenhar dentro desse reflexo que você me proporciona. Ao mesmo tempo tenho medo de você. Tenho medo de desfazer esse encanto, de quebrar essa pintura ao meio, de dissolver o espelho em vidro e prata. Eu queria te dizer que você está ocupando um espaço engraçado dentro de mim, e que eu não quero que ele acabe, bem como eu não quero que ele comece a ser desfeito. Eu queria te congelar desse jeito. E eu queria que você soubesse que apesar de não saber quem você é, e de não conhecer a tua voz, que eu quero você por perto me fazendo companhia. Alimentando meu sonho, Minha fantasia. Minha necessidade de encontrar um caminho. Eu acho que você faz parte de um desejo, de uma poesia, de uma inspiração, uma partitura. Você é uma elaboração do meu eu, um reflexo pintado, uma gravura recortada e distante, um esboço daquela propaganda intangível, daquele modelo ideal construído por mim. No fundo eu queria te dizer que cada recorte de ti eu guardei e que de tudo isso eu levo uma pequena certeza escondida: a de que nunca é tarde pra se conquistar e achar uma saída.
28 de outubro de 2009
18 de outubro de 2009
Kriptonita não é aquilo que você acha que é, eu já te disse o que é, e você com certeza não lembra, nem nunca lembrará. Tinha uma bola amarela no lago naquele dia e a previsão metereológica era de que ia chover muito. Esqueceram de dizer que ia ser raios. Choveu raios aquele dia. E em todos os dias depois daquele dia em que você me deu liberdade pra. Esse texto você nunca vai ler porque você não lê o que eu escrevo, você não me lê na verdade. Eu acho que eu fiz a maior das idiotices quando fiz tudo o que fiz pra você. Idiotice porque idiota na raiz semântica quer dizer 'aquele que não reconhece a si mesmo' e eu não me reconhecia mesmo. Eu adoro muitas coisas que tu consegue conquistar mas detesto a forma como você as aproveita. Tem algumas coisas que eu gostaria de experimentar antes de me despedir de você mas como eu sou repetente em despedidas acho que não vou conseguir ir embora daquele jeito que eu gostaria. Tem uma parte tua que me causa frio nas mãos e que me congela em profundidade visceral. Acho que é aquele domínio que eu invejo do controle de si, uma espécie de dissimulação quase-perfeita se não fosse o fato de que eu te conheço. E se eu te leio dos pés à cabeça, do avesso ao contrário fica complicado atuar. Tem um poema que diz que 'cedo ou tarde' a você sempre cedo. E eu tenho algumas coisas que eu já te disse que eu queria dizer de novo e de novo e de novo mais umas dezenas de vezes porque acho que você as deveria escutar até criar calos nos ouvidos. E existe uma coisa que você não conhece que se chama essência. E eu gostaria de ser informado quando você encontrar. Eu também queria deixar resgistrado nesse cofre que todas as palavras que eu te enderecei você não teve conhecimento e que quando eu disse que precisava matar uma estrela essa estrela era você. E eu queria que um dia você encontrasse a senha desse refúgio porque a gente sempre escreve pra alguém ler. E eu escrevi várias vezes sem senha pra você. Não vou mais criptografar mensagens em palavras, nem transvestir atitudes em entrelinhas, nem construir fatos desenhados pra tentar te dizer. Não preciso mais tentar me transgredir porque não sou mais a tentativa acoplada de me fotocopiar ajustada de você. E assim, acho que já passou da hora de você rever o teu conceito de maciez porque de cada dez bocas que você beijou me cansava ouvir você dizer que onze eram macias. Duvido. Da maciez e da quantidade de bocas.
18 de setembro de 2009
Algumas considerações sobre você e eu. Nós temos um segredo em comum. Nossas semelhanças nos unem. Somos muito diferentes porém muitas vezes me vejo em você. Estamos sempre brigando conosco mesmos. Descobri que gosto de você do jeito que você é, por que isso é gostar de verdade. Sinto falta de ter você por perto, de poder me dividir contigo, de poder te ouvir, te ver, eu sinto falta da tua presença na minha vida porque eu gosto de você. Eu sempre gostei muito de você. Vivemos histórias entrecruzadas que se assemelham às vezes. Não tenho ninguém com quem conversar sobre você, a tua relação comigo é a única que nem meus amigos, nem meus pais, nem ninguém tem conhecimento, nem opinam. Eu sempre banquei você, desafiei todos e a mim mesmo por ti. Todas as vezes que converso contigo meu corpo treme e eu me sinto alterado. Eu não sei quem você é por completo. Meu medo gigante é da nossa aproximação. Eu sinto falta de uma reciprocidade contigo. Eu nunca te entendi tanto quanto hoje. Eu tinha muitas considerações pra te fazer. E a maior delas talvez é que quando se trata de você sempre se tem alguma coisa a dizer. Você nunca se esgota, nunca se acaba, nunca arrefece, nunca esvazia. Muito daquilo que eu escrevo sempre foi pra você ler. Eu penso em você muito. Gostaria de ter você do meu lado pra me acompanhar em muita coisa que eu vivo. Sempre quis que você fizesse parte da minha vida. Sempre me sinto bem quando estou ao teu lado. Quando estou na tua presença me sinto confiante, forte, altivo. Você é aquela pessoa que me fez várias vezes querer saber o porquê das coisas. Você sempre me ensinou muita coisa que ninguém mais ensinou. Ninguém substitui a tua presença porque você é inesquecível. Ninguém se assemelha a você porque você é, na tua possibilidade material, autêntico. Eu não sei o quanto nem como, nem certeza absoluta da amplitude possuo, mas tenho consciência plena de que quero o teu bem. Se eu pudesse passaria muito do meu tempo contigo e na tua companhia. Você exerce em mim uma repetitividade óbvia e explícita que ninguém mais exerce. Eu me sinto preso por você. Queria muito que eu pudesse saber até onde você vai. Meu temor dos dias seguintes é sempre de uma ansiedade que não me deixa tranquilo, e me sinto sem sossego porque gostaria muito de saber até onde você vai com aquilo que te confidencio. Nos confidenciamos muitas coisas e eu sempre me sinto cúmplice teu, apesar de que, infelizmente na maioria das vezes só você é meu. Queria ser teu cúmplice também. É um cárcere não saber o quanto você gosta de mim; e se você gosta de mim. Passei horas incontáveis contigo e tenho vontade de repeti-las todas porque apesar de todos os pesares e de toda a minha insustentabilidade perante ti eu me sinto feliz contigo. Eu me sinto diminuido, fraco, submissso e subserviente também. Nunca te pergunto nada não é pra não ter que ouvir o que eu não quero, é pra não te conhecer mesmo. A inversão paradoxal do querer estar perto de você sem te conhecer é algo que me fascinou. Você me fascina pela complexidade simples indecifrável, pela capacidade humana e frágil inarredável, você me congela pela frieza quente da conduta, teus mecanismos psicológicos de tentativa de controle me sufocam porque você não se abre pra sentir e se dizer aquilo que a gente precisa que seja dito. E nisso eu sou como um espelho. Eu queria que você conseguisse entender aquilo que nem eu mesmo entendo. Eu sempre quis entender porque eu gostava de você, mesmo você sendo comigo quem você é e muitas vezes agindo comigo como você age. E o fato é que eu te amo porque você é quem você é. Apesar de não saber quem você é ao certo. Você representa pra mim um triunfo sonhado, a espécie de idealização ambiciosa que você sempre me imputou. Eu tenho vontade de passar horas e horas discorrendo e falando. Uma sessão é quase nada perto de uma vida de pensamento e tentativa de entendimento. Queria deixar algumas coisas claras, translúcidas, quero muito que você faça parte da minha vida por que eu gosto de você. Das dezenas de vezes que viajei pra casa e das semanas em que fiquei lá sempre fiquei esperando por ter a oportunidade da tua companhia. Hoje me sinto sóbrio o bastante pra te dizer que tudo que venho sentindo e pensando é fruto de um amadurecimento terapêutico de meses. Eu quero te lembrar que de certa forma nós estamos no mesmo barco e foi sempre assim que eu enxerguei a gente. Pode ser mesmo que todos os meus medos se confirmem e você não seja quem eu espero que você seja, ou pode ser que você seja exatamente igual a quem você não deixa que os outros vejam mas você é ou o inverso, não sei. Independente da resposta meu maior e derradeiro pedido é que comigo você seja aquele eu que você gostaria de ser, ou então, que você seja por inteiro e integralmente quem você é por que sou a partir de hoje contigo quem eu quero ser.
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