28 de outubro de 2009



 Eu cortei minha mão outro dia e você me disse que desejava que ela caísse de vez. Outro dia eu fiquei cego porque eu não conseguia abrir mais meus olhos e você disse que desejava que eu perdesse a visão. Lá em casa tem um canto cheio de verde que eu costumo dizer que é meu refúgio porque eu me sinto protegido por lá, talvez seja porque não tem ninguém pra quem eu dirigir meu amor ou alguém por quem eu possa me encantar. De todos os lugares que já conheci ali é o único onde sempre, inverno ou verão, tem pelo menos uma flor, pequenina, rosácea, me esperando quando eu chego ou parto. Eu queria que a vida fosse uma infinita sucessão de chegadas porque eu não sei lidar com partidas.Eu descobri esses dias outra coisa sobre você. Acho que vou ser fascinado por ti e pelas tuas palavras pra sempre. Você tem alguma coisa de muito intensa no teu jeito de sentir o mundo e de se comunicar com ele. Tua inteligência e complexidade são unânimes. Quando eu fui te pedir desculpas era uma forma de tentar te dizer que eu não escolhi gostar de você. Eu gosto. Simples assim. Teve um dia na praia que eu lembrei de você e pensei que eu não tive tempo de te conhecer de verdade. O tempo petrificou em mim uma memória construída. E isso é tudo que eu tenho. Tem mais alguma coisa que ainda falta e que eu nao consigo reconhecer qual é. Tem uma espécie de desconforto desconcertado. Algum tipo de necessidade não reconhecida e que não arrefece. Uma forma de espera transmutada em não-encontro. Naquele dia a coisa que eu mais desejei era tentar me fazer entender. Hoje disseram que as crianças até os seus últimos estágios de desenvolvimento antes da adolescência tem dificuldade em discernir o que é fantasia e realidade. Acho que eu sou um pouco criança demais. E eu tenho um problema com gostar. Porque eu gosto demais das pessoas. E eu queria que você me desculpasse por ter gostado demais de você e por não ter sabido lidar com isso. Ainda não sei. Porque te gosto e o que fazer com isso.

18 de outubro de 2009



Kriptonita não é aquilo que você acha que é, eu já te disse o que é, e você com certeza não lembra, nem nunca lembrará. Tinha uma bola amarela no lago naquele dia e a previsão metereológica era de que ia chover muito. Esqueceram de dizer que ia ser raios. Choveu raios aquele dia. E em todos os dias depois daquele dia em que você me deu liberdade pra. Esse texto você nunca vai ler porque você não lê o que eu escrevo, você não me lê na verdade. Eu acho que eu fiz a maior das idiotices quando fiz tudo o que fiz pra você. Idiotice porque idiota na raiz semântica quer dizer 'aquele que não reconhece a si mesmo' e eu não me reconhecia mesmo. Eu adoro muitas coisas que tu consegue conquistar mas detesto a forma como você as aproveita. Tem  algumas coisas que eu gostaria de experimentar antes de me despedir de você mas como eu sou repetente em despedidas acho que não vou conseguir ir embora daquele jeito que eu gostaria. Tem uma parte tua que me causa frio nas mãos e que me congela em profundidade visceral. Acho que é aquele domínio que eu invejo do controle de si, uma espécie de dissimulação quase-perfeita se não fosse o fato de que eu te conheço. E se eu te leio dos pés à cabeça, do avesso ao contrário fica complicado atuar. Tem um poema que diz que 'cedo ou tarde' a você sempre cedo. E eu tenho algumas coisas que eu já te disse que eu queria dizer de novo e de novo e de novo mais umas dezenas de vezes porque acho que você as deveria escutar até criar calos nos ouvidos. E existe uma coisa que você não conhece que se chama essência. E eu gostaria de ser informado quando você encontrar. Eu também queria deixar resgistrado nesse cofre que todas as palavras que eu te enderecei você não teve conhecimento e que quando eu disse que precisava matar uma estrela essa estrela era você. E eu queria que um dia você encontrasse a senha desse refúgio porque a gente sempre escreve pra alguém ler. E eu escrevi várias vezes sem senha pra você. Não vou mais criptografar mensagens em palavras, nem transvestir atitudes em entrelinhas, nem construir fatos desenhados pra tentar te dizer. Não preciso mais tentar me transgredir porque não sou mais a tentativa acoplada de me fotocopiar ajustada de você. E assim, acho que já passou da hora de você rever o teu conceito de maciez porque de cada dez bocas que você beijou me cansava ouvir você dizer que onze eram macias. Duvido. Da maciez e da quantidade de bocas.

18 de setembro de 2009



Algumas considerações sobre você e eu. Nós temos um segredo em comum. Nossas semelhanças nos unem. Somos muito diferentes porém muitas vezes me vejo em você. Estamos sempre brigando conosco mesmos. Descobri que gosto de você do jeito que você é, por que isso é gostar de verdade. Sinto falta de ter você por perto, de poder me dividir contigo, de poder te ouvir, te ver, eu sinto falta da tua presença na minha vida porque eu gosto de você. Eu sempre gostei muito de você. Vivemos histórias entrecruzadas que se assemelham às vezes. Não tenho ninguém com quem conversar sobre você, a tua relação comigo é a única que nem meus amigos, nem meus pais, nem ninguém tem conhecimento, nem opinam. Eu sempre banquei você, desafiei todos e a mim mesmo por ti. Todas as vezes que converso contigo meu corpo treme e eu me sinto alterado. Eu não sei quem você é por completo. Meu medo gigante é da nossa aproximação. Eu sinto falta de uma reciprocidade contigo. Eu nunca te entendi tanto quanto hoje. Eu tinha muitas considerações pra te fazer. E a maior delas talvez é que quando se trata de você sempre se tem alguma coisa a dizer. Você nunca se esgota, nunca se acaba, nunca arrefece, nunca esvazia. Muito daquilo que eu escrevo sempre foi pra você ler. Eu penso em você muito. Gostaria de ter você do meu lado pra me acompanhar em muita coisa que eu vivo. Sempre quis que você fizesse parte da minha vida. Sempre me sinto bem quando estou ao teu lado. Quando estou na tua presença me sinto confiante, forte, altivo. Você é aquela pessoa que me fez várias vezes querer saber o porquê das coisas. Você sempre me ensinou muita coisa que ninguém mais ensinou. Ninguém substitui a tua presença porque você é inesquecível. Ninguém se assemelha a você porque você é, na tua possibilidade material, autêntico. Eu não sei o quanto nem como, nem certeza absoluta da amplitude possuo, mas tenho consciência plena de que quero o teu bem. Se eu pudesse passaria muito do meu tempo contigo e na tua companhia. Você exerce em mim uma repetitividade óbvia e explícita que ninguém mais exerce. Eu me sinto preso por você. Queria muito que eu pudesse saber até onde você vai. Meu temor dos dias seguintes é sempre de uma ansiedade que não me deixa tranquilo, e me sinto sem sossego porque gostaria muito de saber até onde você vai com aquilo que te confidencio. Nos confidenciamos muitas coisas e eu sempre me sinto cúmplice teu, apesar de que, infelizmente na maioria das vezes só você é meu. Queria ser teu cúmplice também. É um cárcere não saber o quanto você gosta de mim; e se você gosta de mim. Passei horas incontáveis contigo e tenho vontade de repeti-las todas porque apesar de todos os pesares e de toda a minha insustentabilidade perante ti eu me sinto feliz contigo. Eu me sinto diminuido, fraco, submissso e subserviente também. Nunca te pergunto nada não é pra não ter que ouvir o que eu não quero, é pra não te conhecer mesmo. A inversão paradoxal do querer estar perto de você sem te conhecer é algo que me fascinou. Você me fascina pela complexidade simples indecifrável, pela capacidade humana e frágil inarredável, você me congela pela frieza quente da conduta, teus mecanismos psicológicos de tentativa de controle me sufocam porque você não se abre pra sentir e se dizer aquilo que a gente precisa que seja dito. E nisso eu sou como um espelho. Eu queria que você conseguisse entender aquilo que nem eu mesmo entendo. Eu sempre quis entender porque eu gostava de você, mesmo você sendo comigo quem você é e muitas vezes agindo comigo como você age. E o fato é que eu te amo porque você é quem você é. Apesar de não saber quem você é ao certo. Você representa pra mim um triunfo sonhado, a espécie de idealização ambiciosa que você sempre me imputou. Eu tenho vontade de passar horas e horas discorrendo e falando. Uma sessão é quase nada perto de uma vida de pensamento e tentativa de entendimento. Queria deixar algumas coisas claras, translúcidas, quero muito que você faça parte da minha vida por que eu gosto de você. Das dezenas de vezes que viajei pra casa e das semanas em que fiquei lá sempre fiquei esperando por ter a oportunidade da tua companhia. Hoje me sinto sóbrio o bastante pra te dizer que tudo que venho sentindo e pensando é fruto de um amadurecimento terapêutico de meses. Eu quero te lembrar que de certa forma nós estamos no mesmo barco e foi sempre assim que eu enxerguei a gente. Pode ser mesmo que todos os meus medos se confirmem e você não seja quem eu espero que você seja, ou pode ser que você seja exatamente igual a quem você não deixa que os outros vejam mas você é ou o inverso, não sei. Independente da resposta meu maior e derradeiro pedido é que comigo você seja aquele eu que você gostaria de ser, ou então, que você seja por inteiro e integralmente quem você é por que sou a partir de hoje contigo quem eu quero ser.

12 de setembro de 2009


Hoje tinha uma bola amarela no lago e eu me lembrei de você. Semana passada eu te escrevi e você não me respondeu. Há meses atrás eu chorei no pátio de uma formatura e me neguei a entrar no teu carro quando você me chamou porque eu não queria que você me visse daquele jeito. E eu venho não querendo que você me veja desde sempre, estou cansado de mim mesmo por não desistir de escrever pra você. Estou cansado de viver um sentimento que nem vive nem morre, você exerce uma espécie de existência perene dentro de mim. E eu acho que não deve ser assim. Tem um filme chamado Summer Storm e eu acho que você deveria assiti-lo. É mais ou menos assim. E não importa por onde eu ande, com quem eu esteja e você sabe que sempre um dia eu consigo estar com quem eu quero, ninguém preenche você. Ninguém te substitui. Ninguém ocupa. E isso é repetitivo porque nem eu mais aguento esse sentimento que atravessa os anos dentro de mim independente dos outros e do que eu sinta por eles. É lógico que às vezes ele diminui, mas ele sempre volta. Como um pêndulo de um relógio que canta`os velhos tempos sempre acabam voltando`. Dentro em breve faz um ano do dia em que escolhi pra tentar ouvir de você. E eu te juro que quanto mais a gente se esconde mais a gente se perde. Hoje eu acho que está na hora de um pôr-do-sol em você. Minhas màos procuram as teclas, e minha memória lembra das tuas mãos, que eu sempre achei lindas. Meu cárcere é a angústia de nunca poder ter sabido como teria sido se você tivesse me deixado mostrar o quanto eu sempre gostei de ti.

5 de setembro de 2009

Volta. Eu queria que fosse possível. Eu queria que você também me quisesse. Eu queria passar horas infinitas com você, queria fazer você sorrir sempre, queria te acompanhar, queria te surpreender, queria viajar contigo, queria jantar contigo, ver todos os filmes que eu não gostaria de ter que ver sozinho, gostaria que você cuidasse de mim, gostaria de poder fazer por você tudo aquilo que eu posso, eu queria o teu sorriso, o teu jeito, eu queria todo o teu brilho e eu queria te entregar meu sorriso, meu carinho, meu companheirismo e minha ambição, eu queria que você entendesse o que nem eu mesmo entendo e eu queria ficar do teu lado porque você faz uma falta na minha vida que eu não sei viver sem e eu sempre acordo sabendo que tá faltando alguém e tendo que me acostumar com a tua ausência e tenho mil fasese mil frases e mil faces e mil sentidos alterados quando penso em você. Eu preciso escolher fazer você partir pra sempre e eu já escolhi isso tantas vezes mas não funciona muito bem. Eu acho que não funcionou nunca de verdade porque eu sempre quero você comigo de um jeito ou de outro. Eu preciso matar minha esperança de te ter, eu preciso aniquilar aquela chama tímida de felicidade que nasce sempre que eu penso em ti e na gente e naqueles momentos que eu me sinto feliz e você também, e que a gente sabia passar juntos. Mais do que qualquer coisa eu queria que você soubesse que eu te amo. E eu te amo porque 'eu gosto de você' é tão fraco pro que eu sinto, por favor, me ajuda a te matar em mim. Eu quero parar de doer por gostar de ti mas eu não tenho conseguido. Se nem mesmo a distância, a ausência e a separação fizeram isso por mim fui levado a pensar que talvez só você pode fazê-lo. Não quero sentir isso pra sempre por você se eu não posso ser feliz contigo. E é com aquele arrepio de emoção que corre meu corpo agora que eu queria que você soubesse que eu sou aquilo que eu sempre te disse e te entreguei.

22 de agosto de 2009

É como a tentativa de acertar a bola na cesta e fazer os pontos finais, do segundo tempo de um jogo que define toda a rodada, e você não pode perder a oportunidade essencial e final de fazê-lo e vencer a partida. E você não tem a perícia esperada, nem talvez está no momento certo da sua vida, mas o time todo e a torcida inteira da arquibancada acredita que nos próximos dez segundos teu braço vai enquandrar a bola no ângulo perfeito e ela vai descrever um arco simétrico à cesta e então os pontos vão ser feitos e todos vão correr pra te abraçar e a arquibancada, em saltos, vai fazer a festa do ano porque o time está sem vencer um campeonato há muito tempo. O problema é que tudo isso pode bem ser só fruto de uma das possibilidades dos próximos segundos porque se o time, e a imprensa e a arquibancada toda soubesse, o que realmente acontece na cabeça e na vida daquele jogador que agora pega a bola com as mãos e que olha pra cesta e faz cara de concentrado, e no momento em que ele ergue as mãos e mira a cesta e dribla o adversário e todos imaginam que a seguir vem o ponto necessário acontece que o jogador não sabe mais. E eu queria que você soubesse que eu não sei jogar bola, tempouco acertar a cesta que vence e decide o campeonato e por isso eu não sou alguém pra alguém porque toda a minha arquibancada e a imprensa e meu time no fundo não conseguem enxergar quem eu realmente sou, e naquele segundo o jogador largou a bola e calando o estádio não mais pelo suspense e sim pela surpresa, e aos olhos incrédulos dos flashes e do seu próprio time se retirou da quadra para o corredor escuro e pensante do vestiário pra onde sempre as dúvidas caminham e se vão. E é como um fim de tarde gelado e nublado e quieto, com um vento cortante que não te deixa saber como realmente está a temperatura e o que os próximos segundos te reservam.

12 de agosto de 2009

Eu pensei em vários começos diferentes e tenho várias frases soltas que mais parecem aquele quebra-cabeças insolúvel dos tempos da escola porque alguém sempre perdia uma peça. Eu faço gosto de dizer que esse texto mais parece uma colcha de alguma coisa que é mais do que retalhos porém eu não sei bem do que esse proto-mosaico é feito. E como naquele pôr-do-sol lá do norte mais longínquo e da ponta do fim da terra, e como aquela noite em que você me atrelou à minha pena, ou em que você partiu meu coração por não ter olhado pra fora, ou em que você foi a pessoa mais corajosa do mundo ou em que você foi um sonho materializado em vida. Pra você eu queria dizer que eu te amei como nunca mais acho que vou gostar de ninguém, toda vez que te vejo tenho vontade de te dizer que te acho super especial e tenho vontade de te pedir um abraço. Pra você quero dizer que eu gosto tanto de ti e de uma forma tão paradoxal, que eu desisti de decifrar o porquê e o quê você representa pra mim. Pra você eu quero dizer que foi muito bom a gente ter se descoberto e ter vivido uma etapa tão nova e bonita, e eu sei que talvez você nunca entenda mas eu me sinto em paz comigo por ter me respeitado quando eu achei que era hora. E pra você que talvez nunca leia isso, eu queria dizer que às vezes quando você perde, você ganha. E que eu queria que você soubesse que você foi aquele irmão que a vida me deu e que apesar de isso parecer ser a mais batida das expressões só a franqueza da simplicidade desnuda o que pode ter se operado por ti. E eu queria que você soubesse que nada mais importa além de que acreditar nos sonhos é fazer a vida valer a pena. Hoje eu queria que você soubesse que é como quando você mergulha na água e não sabia da temperatura nem da profundidade, e que só quando a gente se legenda sem anteparos a gente se enxerga no espelho. Só o tempo conseguiu me dizer da verdade, e aquela brisa rosada nunca mais vai me deixar esquecer que a imperfeição é minha sina e que estou inevitavelmente condenado à vida.

30 de julho de 2009


É como aquele vento gelado que nos calou naquela tarde já quase noite lá perto do pôr-do-sol mais bonito da terra. E todos os minutos em que eu esperei por uma palavra tua foram como aquela lembrança, doce, amarga, daquele dia em que você fez de todo meu céu pura prata. E eu sinto em te dizer mas eu já não consigo mais entender o porquê, eu desisto de querer compreender tuas razões porque não suporto a dor de ter sido escolhido pra ser traido, e de ter ouvido, da tua boca, aquelas palavras todas, que me feriram tanto que eu até acho que vou viver muito mais do que eu achava porque nenhuma das gotas pontiagudas me levou a vida. E é tão engraçado que se eu não te amasse eu não estaria aqui, escrevendo isso, estaria indiferente, sorrindo por ai como eu bem sei fazer, afinal, quem mais alicia as pessoas com sorrisos como eu? Naquela noite gelada eu decidi deixar de lado todo aquele turbilhão que eu sempre tento domar desde que a gente é a gente. E essa desistência não leva embora tudo aquio que você me trouxe de bom, e todas as vezes em que eu senti que consegui te fazer feliz, porque esse foi sempre o meu objetivo. E não pela primeira vez pago o preço de cruzar aquela linha, imaginária, que sempre me coloca do lado que não é meu, a serviço daqueles a quem me devoto, e no fim, eu sempre acabo tendo que quitar uma prestação que não é minha, porque tudo que eu sempre fiz foi por você. E esse é aquele em que meu céu se enche de brisa, e todas as nuvens mexidas não me deixam dúvidas. Eu só queria que você soubesse que eu preciso que você parta, já há tempo que eu sabia que a tua estrela precisava ir, porém hoje, não me resta mais desculpa pra me enganar, o fato é que mais uma vez, apesar de te amar, preciso que você parta, e se você não assim quiser, eu parto, sem deixar pra trás, tudo de perfeito e aquele sonho que você me deixou viver contigo.

27 de julho de 2009

Eu te amei de um jeito tão intenso e secreto e perpétuo que é até estranho falar sobre isso porque eu achava isso era tão meu e estava tão guardado que eu nunca pretendi escrever sobre. E eu nunca consegui colocar isso pra fora porque sempre imaginei que desfazer esse segredo comigo mesmo significava perder o pouco de você que eu julgava que tinha e esse era um preço que eu não estava disposto a pagar. E todas as vezes em que lia alguma palavra tua, ou esperava alguma ligação, ou escutava algum anseio teu, eu sempre tinha a disposição, irrefreável, de tentar te satisfazer porque isso me mantinha perto de você. E essa ilusão que eu criei de que um dia você ia perceber tudo aquilo que eu sentia por você sem precisar dizer, e que você estaria disposto a viver tudo aquilo que a gente podia ousar, e que por um momento, em algum instante, desse tempo que a gente passava junto você ia olhar pra fora, essa esperança inversa, que me fazia lutar contigo pelo que você queria, acabou me calando e me destruindo enquanto nos desconstruíamos continuamente. E chegou um dia em que a onda da praia levou o castelo inteiro, e quando eu abri meus olhos só havia areia e água e nem mais uma coluna estava de pé. Quando eu decidi te entregar em palavras de outros, aquilo que eu tentei conseguir te dizer e nunca disse, eu estava optando caminhar pela mesma praia onde durante toda a minha vida viveu um espectro, do sonho, inconsciente, talvez, daquilo que eu imaginei que um dia, quando sorria pensando em você, que eu chegaria perto de viver, algo que eu queria mais do que tudo. E foi o querer que me levou até tão longe e se eu posso usar esse cenário eu queria te dizer que se alguma vez alguma coisa foi teatral era porque eu estava me traindo quando fazia tudo que podia por ti, porque o meu gostar de você era tão grande, e engraçado, e terrível, que toda a confusão que eu sentia nunca me deixava claro qual definição usar quando eu chegava perto de você. E essa busca, por essa essência, que um dia eu empreendi, eu queria que você soubesse agora que arrefeceu. E eu te digo que está acabado porque é na operação do tempo, que a gente sente se a página foi virada, e se a estação se sucedeu, é como quando a pele da gente já não se arrepia mais porque o inverno partiu. E ai temos a certeza que a primavera vem em seguida. E esse é aquele em que eu tento te dizer, por mim, o que foi que se operou naquele verão, singular, que apesar de todas as nossas diferenças e incongruências, inconciliáveis e desastrosas, eu tive o prazer e a realização de viver.

7 de julho de 2009



É como uma chuva celestial de prata torrencial, e todos os pontos, cintilantes, que eu assisti durante todo o tempo do mundo no céu, e que eu achava que eram a maior nuvem e a mais bela de minha vida que eu já fotografei, desabavam sobre mim. Por um instante achei que não fosse real, e quando eu olhei pros lados vi que eu estava sozinho e que aquele céu luminoso me alcançava e já não brilhava mais, quando eu pude notar, não eram gotas o que caia do céu, e sim infinitas agulhas esculpidas em prata, milimetricamente recortadas, olhei pra todas os lados e só chovia prata, e quando me dei conta que eram frias, e pontiagudas, e reais, e que me feriam eu tentei gritar mas minha boca foi toda completamente coberta por picadas, e quando eu senti minha pele imersa em prata não conseguia mais distinguir o que era dor e o que não era, e meus olhos foram ficando escuros, porque segundo a segundo as agulhas iam cobrindo minha irís, e fixando minha pálpebra, e logo eu já não enxergava mais, e então eu não sentia mais nem o gelado da prata nem o vento da tempestade pontiaguda porque minha carne estava sendo comprimida e todos os espinhos, como num passe de mágica tomavam vida, e derrepente percebi que em uníssono, todos marchavam pra dentro de mim, e logo senti todo o meu sangue que vertia de cada poro de minha pele e de minha alma escorrendo, e quando voltei a enxergar por instantes porque as agulhas fizeram tanto peso que caíram de meus olhos, percebi que não havia mais nada além de metal ao meu redor, e nenhum passo eu conseguia dar, nenhuma palavra eu podia proferir, porque as agulhas me engessaram por dentro e me deixaram oco, e eu escorri naquele chão que eu já não podia ver porque o céu estava escuro e a nuvem cintilante, do prateado mais imponente, tinha tomado todo o céu e todo o sol, e o chão estava coberto de espinhos, e meus pés estavam banhados nas agulhas, e como numa apoteose de metal e sangue eu queria que você soubesse que eu fui dilacerado pela violência da chuva, e a tempestade que me obliterou, teve êxito completo, porque as agulhas que caminhavam dentro de mim encontraram meu coração e o venceram, e quando me dei conta que estava coberto por prata e escuridão, e que eu já não sentia mais nada, percebi que eu já havia partido e que eu não queria perceber. E todos os céus se apagaram, e todas as estrelas se extinguiram, e todas as palavras faliram e esmoreceram pra que você nunca esqueça que tem toda a maestria e a perfeição dignas do êxito de um deus.

5 de julho de 2009


É como a foto antiga que envelhece, e amarela, perde a intensidade de cada cor mas não se apaga. E são como as pétalas da rosa mais vermelha que desbotam e caem pelo chão, e apesar de todo o tempo do mundo, e de todas as intempéries, continuam vermelhas e perfumadas. E agora é tão inverno quanto antigamente e eu me lembro daquele tempo em que a gente convivia por conveniência ou destino e eu ainda me lembro daquela enigmática sensação que você sempre provocou em mim, eu lembro das muitas tardes, e manhãs, e de todos os dias em que lutei pela tua volta nos meus dias, porque era tão longe e tão difícil e improvável te fazer voltar pra dentro dela, e tudo me separava de você porque você era como aquele caule cheio de espinhos que me feriria se eu tentasse te tocar,e nossos mundos se desencontravam, e eu tive que operar meus esforços através da história, e o acaso acabou por aprimorar meus passos e aquelas velhas fotos passaram a ser passado do nosso presente porque novos retratos foram sendo tirados e ai você voltava a colorir o cinza do meu presente e você estava ainda mais marcado no meu sentir, mesmo sem nunca ter sabido disso, porque aquele enigmático sentimento que você me causava e aquela sensação que percorria meu corpo inteiro quando eu estava com você se reiteravam e então quando eu abri meus olhos, e olhei pra fora naquela hora, eu percebi que durante todos os longos anos em que eu lutei por você, por mim, e por aquele passado que me insistia em dizer que não era só definitividade do tempo, naquele dia daquela noite qualquer em que eu deitei e olhei pro teto, como nas primeiras vezes em que você voltava pra cena da minha vida, eu percebi que talvez eu sempre gostei mais de você do que eu deveria, e como naquele tempo isso não podia ter nome, e talvez não tinha, você me fazia ir da admiração ao ódio, do amor à raiva e a todos os extremos do não entendimento, e toda a fixação que eu tinha por você se explica quando eu percebo sem anteparo algum que você foi aquela pessoa que colocou a semente dentro da terra, e depois dela germinar partiu, e eu sofri pra crescer e lutei pra não morrer diversas vezes, porque no fundo eu queria acreditar que um dia você ia voltar pra perto de mim e a gente ia construir aquela história, que a gente construiu, e que com todos os espinhos, as pétalas, o frio, as cores, as noites, o vento, e as palavras de todos aqueles verões e invernos, que um dia quem sabe eu ia me encontrar com você, e por isso quando eu entendi o que eu sentia por ti eu acabei sendo como aquela árvore que perde todas as suas folhas no outono, e uma a uma elas foram caindo e me vi descendo com o vento e logo o chão nos meus pés estava amarelado e eu estava desnudo como todos aqueles galhos que já não escondem mais a luz do sol e o céu azul, e era por isso que eu queria que você tivesse olhado pra fora naquela hora, porque tudo que eu sentia você tinha se acendido e eu não conseguia mais esconder, e eu me sentia inebriadamente compelido a impedir e a querer ao mesmo tempo que a nossa foto nova, daquele presente de sonho, tivesse toda a intensidade, a força, e o brilho marcante que um retrato e uma lembrança únicos podem ter.

22 de junho de 2009


É o céu recortado e marcado com um traço que corre do horizonte ao infinito. E no chão a árvore toda se recolhe e floresce porque é inverno e primavera. E o tempo parece que leva e não ao mesmo tempo, consigo, tudo aquilo de mais pesado e que na verdade deveria ser leve. E as cores parecem reunidas porque o verde e o preto da esperança e do começo se perpetuam na memória e não existe mais nada igual, nunca, e não se descobre o porque do ser diferente e o porquê daquela ausência marcante. As notas do piano são como as palavras que encantaram e quem sabe tudo tenha sido magia. Uma mágica que nos enfeitiçou, envolveu vocês, me tramou, enredou-vos e vinculou da forma mais profunda e indissociável a mim numa história que não foi minha. E nós fomos conectados naquele passado do ano do infinito por alguma razão que não sei legendar, olvidar ou entender. E todas as folhas se projetam agora como o vento que não se vê, porque só a brisa que senti explica como pode ser tudo o que morou aqui por ti e o que sentiste por ele e ele por você no até então. Hoje resta naquele armário as quatro páginas e naquela gaveta tua o amor maior e tudo de melhor que você viveu com ele. E não foi dito mais nada, e todas as tuas lembranças, imaculadas, daquele tempo da tua aurora mais radiante hoje produzem no balanço, aquele descompasso que te desconstuiu e aquele amor que te varreu inteiro. E o corte do teu céu que não cicatriza, porque você não pode ser livre de você mesmo, e eu me sinto no direito te escrever isso agora, que tua liberdade é tua maior prisão, porque não há como tornar soluvel essa essência, daquele que te fez nascer, porque ela faz parte de você. Nada, nem toda a sua técnica e teu dom e teu talento que transborda podem, nenhuma das tuas palavras conseguirá. Você negou, e então hoje se há a indagação, a responsabilidade é tua. E há quem queira voltar, porém não existe volta porque só há descontinuidade. E esse é aquele em que a poesia cheira à memória, e há uma fragrância suspensa porque tudo foi paixão e o desbravar teu me fez sentir no impulso, e se a tua vida foi transformada pela felicidade que ele te deu e a devassidão que ele te proporcionou, a minha foi radicalmente desconstruida pelo sonho que você plantou e pelo que você deixou transbordar e extravasar e emitiu quando fez de você mesmo aquele pedaço dele, me fazendo sentir, que um dia, eu ia ser de você, e porque não, dele também.

13 de junho de 2009

Pertence ao céu todas as letras e as palavras que saem de dentro de mim agora. Hoje faço vinte como quem não faz. Contemplo o azul que compõe meu universo, e os últimos raios fugidios do dia como aquele aventureiro que sempre buscou o horizonte. Faço duas décadas da história mais incrivelmente fabulosa e intensa e desaventurada que já conheci. Sou protagonista do tempo que nem sempre teve estrelato, sou o mosaico contínuo, a colcha de retalhos, o fundo da cascata, o homem na chuva, o garoto desengonçado, sou o artista da vida, meus dois nomes e meu apelido, o super-herói da escola, o melhor amigo que se perdeu, sou companhia do bilhete, a submissão pela adimiração e pelo amor, sou o compromisso com o futuro, sou o aluno do parabéns e do sonho, o estudante descontruido do presente, sou o caminhante do deserto, sou a semente que germina, sou todos os recortes de todos os textos e sou cada metáfora de cada ser ou não de cada eu, sou a contestação do incontestável, a negação do insolúvel, sou a atitude de vez em quando, sou o protótipo político, o e-mail de todas as páginas e um pouco de cada pessoa pela qual passei, sou a utopia e o romantismo reticentes, sou a esperança mais manchada e lavada e surrada de toda a face e de todos os pedaços de terra que já cruzei e sou o encontro da tentativa com o passo. Nesse dia que escapa pelos dedos conto as horas de um relógio que já usei e tento legendar o que não podia, porque eu sou tudo aquilo que eu queria ser e no fundo continuo sendo quem sempre fui, porque a mudança sempre me acompanha igual e eu não tenho mais a inspiração colorida de outrora, e tudo é tão mais volátil e intenso que são momentos e passagens inconstantes, e eu sou como aquele céu que se enche de nunves às vezes e que o vento leva embora tão velozmente quanto veio, e sou a chuva que não cai certa, e cada pôr-do-sol que parte, e cada cena de cada fim de dia, porque sou alguém que ainda não me pertence, e é por isso que estou na busca, infinita, por conseguir ser o garoto que eu me tornei.

8 de junho de 2009

Eram todos os recortes do céu unidos. Eram todas as nuves desconexas, todos os feixes de luz que atravessavam o vácuo. E era toda a tentativa de compreensão concentrada. A cascata inteira continuava a vociferar com fome, com uma sede insaciável e um apetite que não se satisfaz, a intesidade do choque das correntezas com o fundo da cachoeira era um estrondo de uma ordem em que barulho é silêncio e tudo se inverte numa sina do avesso que arrasta tudo que encontra pelo caminho. Desciam pelas corredeiras com aquele fluxo todas as coisas conhecidas e imaginadas e toda o mosaico independente de pedaços e recortes parecia ir se reunindo lá embaixo em uma configuração que desafiava a corrente natural de tudo. As poucas palavras que desciam inteiras se aglutinavam perto das imagens e um dia alguém olhou da borda do penhasco e quando toda a névoa arrefeu exclamou. Todas as interrogações se fizeram transmutar e enfim tudo era imagem. Estive congelado no tempo como quem precisa acordar de um sonho mas não está sonhando. E são só comparações porque a realidade não responde ao que não entendo e como não há compreensão porque extravasa. E o excesso que transborda é amálgama da ausência que varre tudo dentro de mim, e minhas lacunas todas, e minhas presenças invertidas, e todas as instâncias e tudo que acho que tenho e sou não passa do fundo da cascata abarrotado por fragmentos de coisas que não reconheço inteiras e continuo na busca por reunir o que pode ser que me constrói. E as palavras já não tem mais a mesma força de outrora e não consigo mais me fazer legendar porque há sempre alguma coisa suspensa e tudo aquilo que paira no ar já não me permite mais traduzir o que sinto porque no fundo não se render é apenas não abandonar a busca, e esse é aquele em que talvez consigo dizer o que quero porque é assim que tenho convivido dentro de mim.

28 de maio de 2009


É a maior morte estelar que vou ter que viver. É a plêiade mais cintilante e singular que vou ter de abandonar porque já não consigo mais conviver com sua luz e porque ela me ofusca tanto, e me cega, e me perturba ao ponto de eu perder todas as direções, e todos os sentidos . E por eu não querer mais me sedimentar devido a força da sua luz, e de toda a sua perfeição, que eu me despeço do céu da noite, daquela estrela mais brilhante porque não tenho mais tenacidade, nem força nem nada do que se aproxime ao que já me sustentou, porque aquele brilho é tão intenso e devastador que todas as minhas bases e meus fundamentos foram incinerados e depois o que não foi consumido pelo fogo foi pulverizado pelo choque que sinto com a realidade quando estou perto de você. Eu preciso deixar de olhar pro céu porque a intangibilidade, tanto da perfeição quanto do sentimento são verdades que me desmantelam e me desconstroem. E é como quando uma onda no fim do dia chega firme e leva embora o castelo mais alto e mais pleno da praia porque uma hora ou outra ele voltaria a ser só areia e é função, indissociável, do tempo, levar tudo aquilo que não pode ser pra sempre embora. E esse é aquele em que sucumbo, me curvo, e me rendo ao brilho e a força de tua luz, porque já não consigo mais sobreviver sob tal intensidade e porque preciso voltar a ser, com a urgência de quem luta pela própria vida, aquele pedaço de uma constelação menor na busca pelo avançar do tempo, pra que um dia, eu possa vir a ser, então, tão especial e perfeito como todas aquelas jóias ímpares do firmamento.

25 de maio de 2009


É como a paisagem que se altera todos os dias e no fundo acaba por ser sempre a mesma. Existe sempre alguma coisa ausente. A ausência também pode estar suspensa, pairando sob nossos corações. Naquele dia todas as nuvens se dispersaram e partiram, e o céu vibrante de outrora deixou de estar nebuloso e o sol partiu junto com tudo que havia e o que restou era a noite que chegava mais uma vez silenciosa e silenciante. Todas as memórias se remexiam do espaço onde estavam, num rearranjo que parecia o balanço de alguma coisa que está pronta pra fechar as portas. Talvez seja como trancar um quarto, encerrando as aberturas e ativando todas as ignições que selam a entrada e as janelas. Tudo talvez se resume a medo e incerteza. Porque esse é aquele em que o sol desceu o céu e encerrou alguma coisa que eu não sei bem o que. No fundo eu continuo sendo o garoto que não sabe das coisas. Alguém perdido na busca por um ser que não é, que sob o edifício da auto-observação, numa instância metafórica, passou a buscar incessantemente a análise de seu eu que deixou de estar onde deveria, e por isso não há garoto para se tornar, porque estou atrasado, no meio daquele deserto de mim, da onde talvez nunca tenha saído. E eu queria que você soubesse que você foi um sonho no meio do pesadelo da minha vida. E que eu te agradeço por teres me feito feliz, como nunca.

20 de maio de 2009

As folhas sem vida desciam sobre minha cabeça leves como o vento. Uma a uma iam se perdendo pelo chão, e quando eu pecebi estava rodeado por todos os lados por pedaços do que já havia sido a árvore mais alta que conheci. Naquele dia eu pude notar que o que me faltava era o que mais me compunha. E é como quando se está na praia num dia de inverno e se pisa na água gelada e se sente o arrepio percorrer toda a sua pele, e o mar está revolto, e nem o chão, nem a areia, nem as estrelas nem concha alguma se pode ver olhando, porque a água está turva como o céu mais nublado da estação. Todas as minhas marcas, todos os meus traços, todas as cicatrizes que eu carrego ficaram expostas porque eu fui descoberto pelo vento que veio na hora precisa. E esse é aquele em que eu me despeço daquilo que habitava em mim e de quem eu achava que estava sendo, porque hoje enfrentei meu fantasma e quando me olhei no espelho pude vê-lo, por inteiro, à espera. E toda a luz que você me ofertou desintegrou as últimas correntes que me prendiam ao reflexo, e porque eu tenho certeza de onde vim agora. Eu queria que você soubesse que os bons nunca se rendem porque cada um de nós tem o dever de ser herói da própria história, e se eu aprendi alguma coisa contigo foi a de que nunca é tarde pra se ser quem realmente a gente é. Todo o meu respeito e minha admiração se transvestem em felicidade e radicalismo porque só a inversão mais apoteótica, singular e especial que a dialética pode ofertar explica o que eu sinto agora.

12 de maio de 2009

São todas as nuvens misturadas como todas as cores juntas. É como quando se olha pro alto e se vê aquele céu perfeito e não se acredita que aquela perfeição toda pode ser real. Perfeição dói como tudo aquilo que nos alcança lá no fundo, no que temos de mais frágil e sensível, porque é algo da ordem da intangibilidade, ou da não-concretude. Imagine uma sala escura, imagine a ausência de luz, imagine uma missão a ser cumprida -algo como definir cores- e agora lembre-se que você é cego. Existe sempre alguma coisa suspensa no ar. Há uma fragrância indefinida, uma sensação não nomeada, um sentimento dissolvido, uma pretensão solta. Todas as palavras não encontram correspondência e ordem porque por enquanto não existe coordenação do lado de dentro de mim. É o não-saber que opera de dentro pra fora sob o signo da mesma estrutura que se montava à espera do melhor momento, da melhor terra, pra melhor semente, que merece crescer como melhor árvore, e que vai fazer muitos anos de vida porque merece muitas faixas e balões coloridos e intensos porque tudo isso cheira felicidade. Os ponteiros dos relógios todos, por toda a parte, trazem uma mensagem solúvel e que lembra alguma coisa parecida com adstringência. As nuvens coloridas naquele céu poente tentavam traduzir a infertilidade dos meus esforços por tentar me fazer legendar. E esse é aquele que me diz que palavras são palavras e que tudo aquilo que eu sempre achei que fosse era.

3 de maio de 2009

Realidade e sonho se misturam de uma forma tão nova e intensa que eu me sinto apavorado pelo gigantismo que isso me traz. Eu me sinto como uma formiga frente a um imenso jardim de folhas verdes, prontas pro corte. E tem uma lua no céu agora. Existe alguma coisa que começou e que me deixa anestesiado, completamente confuso, e com medo, e com tudo aquilo de mais intenso que existe. Porque no fundo eu acho que isso não existe. Isso não pode ser real. Existe sempre alguma coisa suspensa e dessa vez a suspensão foi tão intensa que condensou, e se liquefazendo desceu. Em cada pedaço de cada canto da minha alma me sinto diferente. Eu não sou mais eu mesmo porque eu nao me reconheço mais, é como se tivessem reiniciado alguma coisa dentro de mim, meu passado esmorece, minhas lacunas se abreviam, minha tristeza mingua e eu me sinto invadido por aquele calor que me toca, que me atordoa porque eu nunca tinha podido sentir e eu pude. E eu queria que você soubesse que hoje, mais do que nunca, foi tão especial e tão singular que não consigo dizer mais nada. Só que eu sinto e isso é fantasticamente intenso. Obrigado.

2 de maio de 2009


Eu não poderia escrever mais nenhuma frase. Nenhuma palavra mais poderia ser dita por que eu mesmo não posso mais dizer. Se eu escrevesse mais alguma coisa tenho certeza que o elefante que está meio-escondido por debaixo do lençol ficaria à mostra, e eu não sei se isso seria bom. Hoje eu acordei olhando pra você de olhos fechados. Em verdade eu tenho acordado e ido dormir sempre assim. É como tentar esconder o sol, mais radiante e mais brilhante, por detrás das nuvens, mais claras, e transparentes e singelas. E existem tantas coisas suspensas que eu acho que essa suspenção já tá ficando palpável. E eu preciso parar por aqui por que eu não sei mais construir metáforas da espécie "coisas escancaradas-escondidas". E esse é aquele em que eu tenho medo, e inquietação, e não poderia mais estar escrevendo mas eu quero dizer que eu não lembrava mais o que era se sentir bem e eu estou me sentindo. Porque eu queria que você soubesse que um dia eu achei que acreditar nos sonhos era fazer a vida valer a pena. E eu acho que isso pode ser verdade mesmo.